Manaus, 21 de novembro de 2024

O jornal da revolução

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“Júlio era professor, político e jornalista, mas não encarnava a representação de nenhum partido, e que fez o jornal por conta própria.

O comum nos partidos políticos de antigamente era que cada um deles tivesse seu próprio jornal, ou fizesse com que um dos veículos de comunicação editados em Manaus assumisse as bandeiras defendidas pela agremiação. Dessa forma é que se justifica a existência do “Jornal do Amazonas”, do “Estado do Amazonas”, da “Tribuna Popular” e muitos outros. O interessante, e justo com o leitor, é que nenhum deles escondia a facção partida ria que defendia, o que servia para que se compreendesse de forma bem clara as posições assumidas pelos seus editoriais e pelo noticiário.

Do mesmo modo sucedeu com a revolução de 1924, o movimento dos tenentes que, na capital amazonense, descambou para a deposição do governador Cesar do Rego Monteiro com todos os seus asseclas, o qual, na verdade, vinha desabando lentamente desde a sua indicação como candidato, portanto, muito antes da eleição forjada como foram todas as votações realizadas durante a Primeira República (1889-1930).

O movimento de 23 de julho de 1924 que realçou a liderança de Alfredo Augusto Ribeiro Júnior e o projetou na política amazonense fazendo-o vencedor de eleição para deputado federal, anos mais tarde, foi levante que teve a seu favor a edição de dois jornais especialmente revolucionários, um deles liderado pelo professor Júlio Benevides Uchoa, nascido no seringal Três Casas, de Humaitá, a terra próspera da economia da borracha e de muitos líderes políticos e intelectuais de boa cepa.

Interessante observar que Júlio era professor, político e jornalista, mas não encarnava a representação de nenhum partido, e que fez o jornal por conta própria, com recursos guardados de suas economias pessoais, denominando-o de “A Liberdade”, o qual circulava juntamente com o “Jornal do Povo”, este que era órgão do governo revolucionário, propriamente dito. O jornal juliano circulou de agosto de 1924 a fevereiro de 1925, e foi em razão das posições assumidas pelo seu órgão de imprensa que Júlio terminou detido por ordens do Governo Federal na fase de recomposição da governadoria local. Na verdade, aquele foi um período de informação sincera sobre o movimento libertário dos amazonenses, sem meias palavras e com precisão de linguagem, posto que o jornal “A Liberdade”, por seu diretor e proprietário, não permitia cochilos com o tratamento da língua portuguesa pois ele era burocrata e vernaculista, e noticiava tudo com clareza e sentido de verdade. Não escamoteava os fatos. Como estatístico, chegou a ser diretor do importante Departamento de Estatística do Estado do Amazonas, cargo que exerceu por longos anos, mas jamais perdeu o rigor com o idioma, nem a sinceridade e certa rudeza em afirmar seus pontos de vista.

Quando o pesquisador consegue fazer um exame detido dos dois jornais circulantes na fase áurea da revolução de Ribeiro Júnior é que pode compreender melhor o cenário da época, mesmo sabendo que eram veículos postos na defesa dos atos militares, na descrição dos episódios políticos e, de certa forma, sem mostrar muito as entranhas do curto governo ribeiriano, preferiam ressaltar a “podridão” que teria sido encontrada nos porões do Palacio Rio Negro, que era a sede do poder político estadual desde 1917.

Não se pode compreender os fatos da época sem a comparação desses noticiários, e sem uma revista muito bem passada nos processos políticos e transformadores desde 1889, seja com as eleições bem arquitetadas conforme os interesses dominantes das oligarquias reinantes, seja com a manipulação das leis erigidas pelo legislativo estadual, inclusive, eleitorais, ou com os arranjos partida rios sempre voltados para o fortalecimento dos grupos que manipulavam ou constituíam o poder estatal.

Júlio Benevides Uchoa é desses homens públicos que merece todo o reconhecimento do povo amazonense, também porque viveu liberto dessas desgraças.

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