Manaus, 22 de novembro de 2024

O livro do De Masi

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Ainda pequeno e de calças curtas, fui acostumado a ouvir falar – e muito bem – do velho Domenico De Masi, companheiro de meu pai nos folguedos do brigue “Independência“ que saía todos os anos nos tempos de carnaval e São João, para alegrar a cidade, e na política. Já era coisa muito certa a saída da brincadeira que meu pai começou lá pelas bandas de Janauacá, quando minha mãe, recém-formada em professora pela Escola Normal iniciou a lecionar, recuperando festa popular antiga que tinha o costume de fazer quando ainda mais jovem.

Um pouco mais crescido tomei conhecimento da Alfaiataria Demasi (forma aportuguesada do nome de origem italiana), na qual tínhamos o privilégio de ver preparadas as fardas de gala para o desfile da Semana da Pátria, aqui e ali os “fatos” dos mais velhos, e sempre e sempre os trajes militares. Era parada obrigatória, por muitos anos, a alfaiataria do bonachão italiano, pela qualidade dos produtos e bom trato com os clientes, conforme os comentários que eu sempre ouvia.

Anos mais tarde conheci os filhos e os netos do Domenico, sempre alegres e felizes. Fernando eu vi de perto trabalhando comigo na Empresa Amazonense de Turismo e depois na Câmara Municipal de Manaus, e era um dínamo. Na faculdade de Direito encontrei Luiz Geraldo, na turma do meu muito amado irmão José, colega e companheiro dele, sempre falante, cheio de histórias boas para contar, conversas inteligentes e gostosas.

Dia desses, instado a escrever artigo especialmente dedicado à vida de Ermanno Stradelli (o conde italiano) como advogado e promotor público por esse interior amazonense, reunindo bibliografia para ler e pensar sobre o tema, me deparei, com alegria, com um belo livro do Luiz Geraldo De Masi (para manter a grafia original do nome de família), e o li de cabo a rabo em uma só sentada. Gostoso como ele conversava! Contando com riqueza de detalhes muito do que se passou na saga desses irmãos, fruto de conhecimento pessoal. São muitas e belas passagens da presença da colônia italiana no Amazonas. Depois de ler, reler e anotar o que poderia me interessar para o texto sobre Stradelli, fiquei pensando com os meus botões como terá sido prazeroso para o “dema” escrever sobre a história de seus ancestrais e amigos, descobrindo e redescobrindo fatos e passagens as mais diversas, duras, alegres, felizes e angustiantes de quem deixa o país de origem e resolve se aventurar para constituir família, patrimônio e tradição em outro lugar do mundo.

Pude saber também das dificuldades que ele atravessou ao tempo em que pesquisava – como todos nós que nos dedicamos ao estudo da história e dependemos dos arquivos – mas não se abateu nem se intimidou, conseguiu coletar o material, analisar, ordenar e escrever, e o fez sem perder a leveza, a elegância e a simplicidade que teve para viver. E dessa luta e desse ideal surgiu a obra “Os italianos em Manaus” lançada em 2014, percorrendo longos caminhos que os viajantes do outro lado fizeram para alcançar o Brasil, e mais particularmente, o Amazonas afamado, no período de ouro da goma elástica, especialmente.

Verdade se diga que os De Masi, a partir do velho alfaiate e folclorista Domenico, trilharam e tem trilhado bons caminhos em vários ramos de atividades, inclusive nas artes, nas letras e na vida social e política, e o Luiz Geraldo em nada ficou a dever às melhores tradições italianas, legando um belo livro com trechos emocionantes e cativantes.

Merece ser lido porque também traduz sua paixão por Manaus.

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