Um dos mais icônicos móveis que havia na casa de minha avó era o petisqueiro. Não confundir petisqueiro com petisqueira. Petisqueiras são bandejas próprias para servir petiscos. Normalmente são grandes pratos com divisórias. Em cada divisória se serve um petisco diferente tais como azeitonas, amendoins ou castanhas, salgadinhos e que tais.
O petisqueiro não é isso! O petisqueiro é um móvel. Um armário onde se guardavam viandas, quitutes, guloseimas, biscoitos, frutas e quitandas em geral. Em Minas Gerais e em Brasília usa-se muito a palavra quitandas. Quitandas no sentido de pastelaria e salgados caseiros.
Para nós, amazonenses, quitanda ê o local ou estabelecimento onde se vendem legumes, verduras, ovos, galinhas, carvão, etc. Minha mãe era freguesa de uma quitanda bem sortida na Avenida Joaquim Nabuco. Isso nos anos de 1960 do século passado.
Mas voltemos ao petisqueiro. Em alguns locais é conhecido como guarda-comida. Os petisqueiros saíram de moda ou perderam sua utilidade, acredito eu, com a chegada das geladeiras. Sem querer ser saudosista. Uma pena!
Os petisqueiros eram móveis repletos de magia para muitos meninos e meninas. Pelo menos foi para mim. Em especial o petisqueiro que tinha na casa de minha avó. Magia esta que a geladeira não tem. E nunca terá.
O petisqueiro de minha avó tinha um delicioso cheiro de abricot. Ou abricó. Possivelmente a fruta favorita de minha vozinha. Abricó da Amazônia, também conhecido como abricó-selvagem, é uma árvore que atinge mais ou menos seus vinte metros de altura. Seu tronco é curto e bastante grosso. O fruto, o gostoso abricó, é uma baga, como dizem os botânicos. Carnoso e sumarento.
Além de abricós, guardava-se mangas e jambos. Todos do grande quintal da chácara da então Vila Municipal. Havia ainda um pequeno estojo de porcelana azul. Vovó guardava ali seu dinheirinho proveniente da venda de frutas, principalmente de mangas. Ela as vendia escondido. Não precisava daquilo. Mas não abria mão. No petisqueiro também escondia cigarros. Outra coisa que ela fazia escondido era fumar. Eu era seu cúmplice.
No petisqueiro também se guardava velas e uma caixa de fósforos. Usados para quando faltava energia. E também um baralho. Uma das distrações de vovó era jogar paciência. Um certo jogo de cartas também conhecido como solitário.
Encontrado frequentemente nos computadores. Aprendi a usar o mouse jogando paciência no computador. Só lembrava de minha avó.
Oura coisa que tinha no petisqueiro era incenso. Desses, do tipo indiano, com cheiro de sândalo. Conclui-se que o petisqueiro de minha avó já tinha extrapolado mesmo a sua antiga função de guarda-comida. Mas, além das frutas, o petisqueiro ainda era lugar de se guardar bolos e sucrilhos.
A casa de minha avó não existe mais. O petisqueiro desapareceu. Mas o cheiro do abricó continua vivo na memória daquele menino.
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