Manaus, 30 de junho de 2025

O príncipe interventor

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“Cabelos ao vento, Álvaro pregava o que poucos queriam ouvir e muitos fingiam admitir: a moralidade e que o Estado servisse aos interesses comuns e coletivos.”

Formado bacharel em Direito em 1917, reconhecido como professor, jornalista e orador desde muito cedo, intelectual festejado em 1918 como um dos fundadores da Sociedade Amazonense de Homens-de Letras, atual Academia de Letras, tornou-se ídolo da juventude do seu tempo coma belíssima conferência que proferiu no Teatro Amazonas, em.1923, pregando o glebarismo, caminhos que, possivelmente, respondem pela sua eleição; dois anos depois, como “Príncipe dos Poetas Amazonenses”, Álvaro Maia em breve tempo Iria enveredar pelo rumo da política do qual não se desvencilharia.

É sobre ele e sua trajetória de intelectual, membro da Academia Amazonense, jornalista de projeção nacional, professor em Manaus, no Ceará e no Rio de Janeiro, político, homem público e espiritualista que pretendo me debruçar nos próximos dois anos para produzir livro que contribua para a compreensão de sua trajetória, uma das mais conturbadas e injustiçadas no campo político-eleitoral, tal como me foi permitido fazer em relação à Eduardo Ribeiro, lonas da Silva, Adriano Jorge, Euclides da Cunha e Rui Barbosa, os dois últimos demonstrando, apenas, as relações que travaram com o Amazonas.

Ainda auferindo as glórias de poeta dos mais festejados e elevado ao principado da poesia amazonense, Álvaro se viu nomeado por Getúlio Vargas, o chefe da Revolução de 1930, para o cargo de Interventor Federal do Amazonas, segundo consta, em razão de indicação do coronel Floriano Machado que o precedeu no cargo; na opinião de outros, por sugestão do interventor do Pará, ou, quem sabe, diretamente pelo próprio Juarez Távora, o senhor todo poderoso da Norte e Nordeste, alcunhado de vice-rei do Norte.

Nessa primeira experiência em cargo de mando político, tomado de todo o vigor cívico que os revolucionários getulistas faziam questão de manter e do qual ele não se escusou, o poeta de Humaitá viria a experimentar, logo em 1931, forte embate político, social e jurídico com o Tribunal de Justiça, ao mesmo tempo em que reduziu as despesas oficiais com a manutenção do Palácio do Governo e renunciou aos encargos de custeio da sua família pelos cofres públicos, como era tradição naquela época.

Eram tempos difíceis. Os cofres da tesouraria estadual não mais bamburravam em libras esterlinas, fazia muito. A borracha, nosso principal produto, ainda se sustentava em segundo lugar na pauta de exportações nacionais, porém com valor aviltado e produção bastante reduzida, enquanto a dívida pública crescia geometricamente porem préstimos extemos anteriormente contraídos, sem qualquer possibilidade de ajuste.

a idealismo e o entusiasmo com que presidia os destinos do maior estado da federação, tido e reconhecido como celeiro de algumas desbaratadas administrações, o sentimento de brasilidade e paixão amazônica que o alimentavam não foram suficientes para vestir-lhe couraça resistente aos .. ataques oposicionistas, nem conferiram visão mais ampla sobre as implicações e de seus atos de gestão. a objetivo parecia ser, ao olhar distante que o tempo nos permite, unicamente, prestar bons serviços ao Estado e ao seu povo, servindo à revolução que tudo prometia à sociedade brasileira, notada mente no campo da moralidade pública e política.

Cabelos ao vento, Álvaro pregava o que poucos queriam ouvir e muitos fingiam admitir: a moralidade, e que o Estado servisse aos interesses comuns, e coletivos. Os oligarcas – tradicionais oligarcas-, muitos dos quais advindos do período do Império, ainda que decaídos em razão da revolução, mantinham suas teias devidamente organizadas nas estruturas de poder, como sempre acontece, e, sem que ele o percebesse, foram construindo a sua destituição do cargo, inclusive, com transferência de notícias alarmantes contra o governo e sua pessoa, principalmente para jornais do Rio de Janeiro.

O que por certo os seus opositores não contavam é que Álvaro, decaído em razão do famoso caso Eneida (que nunca se chamou Eneida) e por traição do substituto imediato no governo, voltaria ao poder e o  exerceria por muitos anos e sob diversas formas, seja interventor outra vez nomeado, ou governador eleito pelos deputados e depois escolhido pelo povo.

O que amargou, porém, por essa liderança, só Deus sabe, mas não deixou de ser poeta nem um príncipe no trato pessoal.

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