Conhecia os clássicos, lia os grandes literatos gregos e latinos e falava com primor o latim, preferindo deliciar-se em sua rica e volumosa biblioteca.
Homem culto, preparado ao esmero, paraense de nascimento e amazonense por adoção, nascido e morto em 30 de novembro, viveu largo período de grande influência política e social nas terras amazonenses depois de se formar em Direito em Portugal, na reconhecida e desejada Universidade de Coimbra, saindo de la com borla e capelo como se dizia antigamente aos que alcançavam o doutoramento, e advogar com talento em terras paraenses até transferir-se para Manaus.
Conhecia os clássicos, lia os grandes literatos gregos e latinos e falava com primor o latim, preferindo deliciar-se em sua rica e volumosa biblioteca da qual não se afastava, do que experimentar os bordéis da “belle époque”, como era hábito no seu tempo para muitos de sua geração. Por isso mesmo foi grandemente reconhecido como um primoroso intelectual ou homem de boas letras.
Ocupou os mais altos cargos políticos e de administração no Amazonas nos períodos monárquico e republicano, inclusive, o de último presidente da Província amazonense (1889), senador da República na Assembleia Nacional Constituinte de 1891 e diretor da Instrução Pública.
Tempos depois, em 1895, inscrito pelo Partido Democrata, sob a chefia de Emílio José Moreira, foi ele o concorrente contra o candidato do governador Eduardo Gonçalves Ribeiro, o oficial militar e deputado federal Fileto Pires Ferreira, na árdua disputada da eleição governamental. Foi ele a vítima do famoso Congresso Foguetão, pois, mesmo com a reviravolta política que fez com que Emílio Moreira passasse a apoiá-lo, quem conquistou o mandato e o reconhecimento do Poder Legislativo foi Fileto Pires, graças ao golpe grotesco do foguetão.
Anos mais tarde, quando parecia estar recolhido de vez do mundo ácido das disputas partidárias, ele ressurgiu e chegou a combater ao lado de Guerreiro Antony no enfrentamento ao governo Jonathas Pedrosa e a escrever no jornal “O Liberal” que rasgava a fantasia, todos os dias, contra o governo instalado (1913-1916). Ao final desse embate ele foi um dos fugitivos que se evadiram da casa do coronel Antony, quando a residência começou a ser bombardeada no primeiro dia de 1917 e posse do governador Pedro Bacellar.
Depois do bombardeiro de 1917, que deixou mortos e feridos entre os integrantes das fileiras guerreiristas, o homem sisudo e bem intencionado, cheio de ideais em favor do progresso do Amazonas, senhor de tanto respeito nos tempos monárquicos a ponto de ser laureado com o título de barão do Solimões, Comendador da Ordem da Rosa e Comendador da Ordem de Cristo, resolveu guardarpara sempre as armas da política e do jornalismo e retornou a Óbidos, sua cidade de nascimento, naturalmente desiludido e sofrido, além de pobre e abandonado.
Foi lá, na então pequena cidade paraense que, por uma dessas coisas inexplicáveis do destino, ele recebeu a visita inesperada de um velho amigo de família que se achava em rápida passagem pelo Pará: o professor Agnello Bittencourt. Doente, recolhido a um modesto telhado, como diz o mestre, “encontrei o grande homem deitado em uma rede, sem uma cama, apenas duas velhas cadeiras e uma prateleira de livros”, vindo a falecer cerca de trinta dias depois.
Foi este o triste fim do doutor Manoel Francisco Machado, o barão do Solimões, de quem não se ouve falar nos tempos correntes e de há muito, e a cuja memória rendo justas homenagens esperando que se erga uma escola com seu nome para perpetuar a sua história de vida honrada e digna.