Nasci na boca do igarapé do Carão
onde o rio Amazonas parece
uma toalha estendida na mesa,
pano largo, aberto em amplas ondas.
Quando lá voltei, a paisagem era outra,
não mais existia a casa do meu pai
e nas águas nem os botos brincavam de gente
com os meninos de manja.
Fiz minha casa igual àquela casa,
aqui e lá as aves se recolhem
e seus filhotes se aquecem nos ninhos
cochilando nas entradas da noite.
Os meus olhos refletem o verde
das fruteiras e do chão da chácara;
aqui nem o mais hábil feitor
ousaria ameaçar a minha paz.
A paz que vem das nuvens,
do capim molhado sob os pés,
nos cachos de açaí no alto das belas palmas,
depois se aninhando em minhas mãos.
A paz, casa onde mora a terra,
terra que sustenta a sementeira
dos alimentos da juventude,
terra onde convivem lobo e ovelha.
Juventude, fonte da alegria,
árvore de frondosas ramagens
repletas de pássaros bordando a manhã,
durante a melhor luz;
juventude, flor do meu jardim antigo,
livre das ervas daninhas,
que ilumina os ninhos dos espinhos
e serena as águas nas viagens;
juventude, motivo da vida,
que ninguém vencerá com os monstros da inveja,
do mal, da tirania,
batidos do rio onde nasci.
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