Manaus, 18 de setembro de 2024

Olha já! Dicionário Caboquês, de A à Z

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*Floriano Ferreira da Silva

Continuação…

U

Um alqueire (de farinha) – Equivalente a 40 litros de farinha de mandioca.

Um bocadinho – Um pouquinho. Uma pequena quantidade. O amazonense tem uma tendência em usar o diminutivo das palavras. Ex. Hei vizinha! Me empreste um bocadinho de pó de café? – Espere só um bocadinho.

Um bocado ou um bom bocado – Bastante, principalmente em se tratando de tempo e espaço. Ex: Eu moro aqui na vila há um bocado de anos. Ex. 2: Meu cumpadre Gesenildo, o senhor mora mermo numa lonjura, porque pra chegar até aqui eu andei um bom bocado.

Um para pra acertar – Tumulto, confusão. Ex: Sábado lá no hospital, quando a moça da recepção disse que o médico não vinha e que todos deveriam voltar outro dia, foi um para pra acertar, que alguns tiveram que tirar por menos, senão ia ter briga feia de murro mesmo.

Um’ora dessa – Uma hora dessa, neste momento. Ex: Um’ora dessa o Florisvaldo já tá lá na cidade, só apreciando o movimento das festas. Uma banda, um quarto – Pedaços de peixe, geralmente tambaqui.

Uma lapa – Algo grande demais, acima dos padrões normais. Ex.: José tem uma lapa de pé, olha o porrudão, o sapato dele é 46.

Uma quarta (de farinha) – Equivalente a dez litros de farinha de mandioca.

Uriço – Variante de Ouriço, sobretudo quando se refere ao invólucro da castanha, que é o fruto da castanheira da Amazônia.

Urinol – Bacio. Pinico.

Uruá ou aruá – Caracol ou caramujo. Associa-se o local onde ele coloca suas ovas (grudada em árvores ou estacas) a marca até aonde as águas da cheia do rio vão chegar. Daquele local onde fica a ova a água não passará.

Urucubaca – Mal olhado. Feitiço. Mandinga. Azar. Ex. Esses dias tem dado tudo errado pra mim, tudo que eu tento fazer dá errado, eu tô com uma urucubaca daquelas.

V

Vá lá que seja – Expressão que significa: Já que não tem jeito ou Já que insiste. Ex: – Ariosvaldo! Vumbora comer Curimatá assada. – Parente eu não tava muito a fim, mas, vá lá que seja.

Vai comer no centro – Significa que algo vai começar. Vai dar inicio. Ex: Se esse juiz continuar roubando pro outro time, a pancadaria vai comer no centro já, já. O pau vai surrar.

Varadouro ou varador – Local de acesso ou passagem de canoas, por onde o leito do rio não permite navegação. Atalho.

Varal – Local para secar juta, peixe salgado (geralmente pirarucu) ou roupas. É feito de forquilhas e varas, altura de mais ou menos dois metros.

Varja – O mesmo que várzea. Parte da planície da Amazônia que fica coberta de água no período da enchente dos rios e seca durante a vazante e é utilizada para o cultivo de culturas como a juta, malva, melancia, milho, etc. plantas que produzem em seis meses, mais ou menos.

Varrer a noite – Crendice que dizem chamar má sorte, relacionada à morte de parentes.

Varrer em direção a porta da frente – Crendice popular, segundo a qual manda a sorte embora e atrai azar.

Varrer o pé – Dizem que espanta casamento. Cuidado com essa vassoura Marilândia! Não vai varrer meu pé, pois ainda pretendo me casar.

Vassoura atrás da porta – Crendice ou simpatia para espantar visitas indesejadas.

Vaza! – Sai fora, vai embora. Sai daqui. Curumim que ainda não tomou banho pode ir vazando, Rumbora! Vaza! Vaza!

Vazante – Período que as águas dos rios da Amazônia baixam e aparecem as grandes extensões de várzea às margens dos rios e representa o período do plantio, colheita, fartura (abundância) de peixe, de quelônios.

Vazar – Sair, ir embora. Bora, vaza todo mundo acabou a festa.

Vazio – Parte do corpo correspondente mais ou menos à área dos quadris, na altura da região dos rins. Ex: Ai mamãe, tô que não me aguento de tanta dor no meu vazio.

Velhaco (vilhaco) – Aquele (a) que engana os outros por gosto ou por que tem má índole. Patife. Pode-se entender também como pessoa que tem comportamento libidinoso.

Velhaquice (vilhaquice) – Ato praticado pelo velhaco. Enxerimento libidinoso. Ex. Presta bem atenção pro comportamento do Juquinha, ele está com vilhaquice pro lado da tua filha. Depois num vai dizer que eu não te avisei.

Vem bonitinho! – Veja “vem cheiroso”.

Vem cheiroso! – Expressão irônica que significa: “tá pensando que eu sou besta é”? Ou “pensa que você me engana”? Ex. Maria! Me empresta cinqüenta reais que eu te pago no sábado que vem. – Vem cheiroso! Mas num empresto mesmo, nem com nojo.

Vento de baixo – Alegria, bom tempo.

Vento de cima – Tempestade, temporal, perigo. É quando o vendo sopra na direção contrária à costumeira. Borimbora sagente, vamos atravessar logo o rio, porque ta se formando um temporal perigoso e o vento ta vindo de cima.

Vento encausado – Sintoma causado pelo excesso de gases (flatulências) que dilatam o intestino e pressionam o abdômen e a caixa torácica, causando mal-estar e dores nas costelas, etc. Maninho, acho que estou com vento encausado, minha barriga chega ta formigando.

Vento-caído – Quebranto. Doença que acomete crianças e que as benzedeiras curam com rezas e orações ou com remédios caseiros. Ex. Esse menino está muito mufino, acho que ele está com quebranto ou vento caído, vamos levar pra dona Mariazinha dar uma rezada nele.

Ventrecha – Parte gordurosa do pirarucu, que fica na região da barriga. Uma delícia, sobretudo salgada, porém é indigesta, por isso recomenda-se comer moderadamente.

Ver o Guedes – Expressão que significa algo tenebroso, doloroso, apavorador. Ex. Manozinho do céu, pois ontonte deu já um grandississimo do trovão lá em casa, que eu vi o Guedes, há píula, pensei que eu ia morrer. Ex. 2: Tordia peguei uma ferrada de arraia que eu vi o Guedes.

Veve – Variante de vive. Ex. O Joaquim veve aqui por casa, acho que ele está abicorando a minha sobrinha.

Vicica – Viciado (a). Acostumado ou habituado com algo. Ex: Manozinho, tu tá muito vicica no jogo de dominó, num tem uma noite que tu num sai pra jogar.

Vije Maria! – Expressão de susto ou surpresa. Ex. Vije Maria do céu, o que aconteceu contigo menino, pra ti tá todo arranhado desse jeito?

Vije Nossa Senhora! – Veja “vije Maria” – Ex. Vije Nossa Senhora, tá vindo um grandessíssimo temporal daqueles arrasadores, é melhor a gente não atravessar o rio agora.

Continua na próxima edição…

*Floriano Arruda. Comunicador de rádio, escritor, folclorista. Natural de Urucutituba/Am. Mantém programa radiofônico semanal que interage diretamente com o público na Rádio Panorama, de Itacoatiara. Membro efetivo da Academia Itacoatiarense de Letras.

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