Manaus, 7 de setembro de 2024

Olha já! Dicionário Caboquês, de A à Z

Compartilhe nas redes:


*Floriano Ferreira da Silva

Continuação…

A

Avali – Ainda mais, quanto mais. Ex. 1 – Se ele não respeita o pai dele, avali eu, que não sou nada pra ele. Ex. 2 – Se o Mundico já é brabo de barriga cheia, avali com fome.

Avexado – Apressado. Ex. – Joaquim é um caboco que só anda avexado, sempre fazendo as coisas nas carreiras.

Aviamento – Há dois significados mais ligados a esse termo na Amazônia: o primeiro refere-se às lojas e armazéns que forneciam mantimentos e outros acessórios para os seringais, no período áureo da borracha. O outro significado está relacionado a um conjunto de artefatos rústicos, usado para cevar (moer, triturar) a mandioca no processo de fabricação de farinha.

Avijure – Na brincadeira com pião a expressão Avijure é quando o pião fica de ponta cabeça, isto é, de cabeça para baixo.

Avuado (Avoado) – Atoleimado. Aloprado. Ex. – A Alessandra é toda avuada, quando vai fazer as coisas sempre derruba algo, quebra alguma coisa.

Azunhar – Arranhar com as unhas. Ex. – Ontem fui fazer um curativo na gata lá de casa, que tá toda pirenta, a fresca me azunhou todinho.

 

B

Babau (… cachimbo de pau) – Acabou-se. Foi-se. Já era. Ex. – Cuidado ao nadar no rio, não vá para a correnteza e nem pro perau, senão, babau cachimbo de pau. Ou seja, a pessoa pode morrer afogada.

Babita – Dinheiro, grana. Ex. – Hoje vou sentir uma babita na minha certeira, o patrão vai pagar minhas horas extras.

Babugem – Resto de comida para dar aos animais, principalmente porcos.

Bacaba – Fruto da bacabeira, palmeira parecida com o açaizeiro. O vocábulo “bacaba” também tem sentido de mentira. Ex. – O Zé Pinóquio disse que tordia o sol tava tão quente, chega ferveu toda a água dos cocos lá do coqueiro dele, pense num cabra pra gostar de contar bacaba.

Bacaba Rala – Mentira. Ex. – O Nelson, aquele primo do Isaac e do Taylor, é o maior bacaba rala, só conta vantagem que só ele mesmo, tudo mentira. Tá no sangue.

Bacabeiro (a) – Pessoa mentirosa. Veja “bacaba”.

Bacio – O mesmo que urinol.

Baco-Baco – Refeição, comida. A hora do baco-baco é o mesmo que a hora do almoço, da janta, etc. Ex. – Tô doido pra acabar essa reunião que é pra começar a hora do baco-baco.

Baculejo – Revista, blitz policial. Ex. – Ontem tinha uns caras arretados, com o som no volume até o toco, foi quando alguém denunciou e a polícia apareceu para dar o baculejo.

Bacuri – 1. Fruto de casca amarelada e polpa branca de sabor ácido. 2. Filhote de Porco – 3. Curumim (criança). Ex. 1 – Hoje estou com a boca e estômago tudo azedos, de tanto chupar bacuri. Ex. 2 – A porca lá te casa deu cria a sete bacuris. Ex. 3 – Ontem na fila para o cadastramento do programa Bolsa Família, tinha umas mulheres com todos os seus bacuris, era aquela choradeira.

Bafafá – Confusão, rolo, baderna, fordúncio. Durante a campanha eleitoral de 2012, teve um candidato a vereador que não pagou os cabos eleitorais, aí Manozinho, foi o maior bafafá, um “para, pra acertar”.

Bagaceira – Farra, noitada. Ontem eu fui pra bagaceira lá no CREPI, “Bagaceiros do Forró” era a banda que tava tocando lá. Nota: CREPI é a sigla de Clube Recreativo dos Professores de Itacoatiara.

Baixa da égua – Expressão usada quando você quer mandar alguém, que está lhe atazanando, para bem longe. Ex. – Vai pra Baixa da égua Florisvaldo, para de me atazanar. Veja “Caixa – Prega”.

Baixar o sarrafo – Açoitar com violência. No futebol, praticar jogo violento.

Bajara – Canoa grande, geralmente movida a motor rabeta.

Bala – Estar ou ficar com raiva. Ontem o gerente ficou muito bala com o Danielzinho, porque ele acabou com o café da garrafa.

Baladeira – 1 – Estilingue. 2 – Rede de dormir (analogia ao formato do local onde se coloca a pedra para arremessar com a baladeira). Ex. – Vou atar minha baladeira aqui e tirar uma soneca.

Baldiar – O mesmo que vomitar. Ex: – Ontem eu fui me atrever a comer um pato no tucupi, só que meu estômago não tava muito bom, aí eu baldiei foi tudo.

Bamburrar – Abarrotar. Encher. Transbordar. Veja “Abarrotado”.

Banda de asa – Diz-se da roupa de duas cores, ou também é uma expressão utilizada para definir as pipas ou papagaios de duas cores (metade de uma cor, metade de outra). Ex: – Esse meu papagaio é banda de asa, metade amarelo, metade verde, em homenagem à seleção brasileira.

Bandalheira – Gozação, brincadeira de cunho pejorativo, algazarra.

Bandar – Dividir ou quebrar ao meio. Ex. – Ontem eu fui lá na (fui à) feira comprei uma porruda da melancia, a bicha era uma brutela mesmo. Cheguei em casa e bandei ela no meio, guardei uma banda e a outra eu retalhei, deu dez talhadas, uma pra mim, outra pra mulher e o resto pros curumins e cunhantãs.

Banguelo (a) – Sem os dentes da frente.

Banho de cuia – Jogada de futebol. Tipo de drible em que o jogador, com um toque passa a bola por cima do adversário e volta a tocar nela novamente, sem deixar cair no chão. Em algumas regiões é conhecido como “chapéu”. Ex. – No jogo de ontem o Mundiquinho humilhou o Marivaldo, deu três banhos de cuia nele.

Banzeiro – Ondas nas águas dos rios ou lagos. O banzeiro pode ser provocado por ventania ou por embarcações. Ex. – Meu Compadre, ontem não fui prosear na sua casa por causa do temporal que deixou o banzeiro muito forte, aí eu não pude atravessar o rio com a minha canoa. Fiquei com medo de me alagar.

Baque – Ruído de um corpo ou objeto ao cair ou ao bater em outro. Queda. Tombo. Colisão. Também pode ser utilizada essa expressão como jeito de ser, maneira de ser ou ainda pode significar hematoma. Ex. 1 – (jeito de ser) – Não vem que não tem! Você não me engana mais, já conheço teu baque. Ex. 2 (hematoma) – Parente! Que baque é esse no teu braço? Tá todo roxo! – Foi porque eu escorreguei ontem da prancha do motor aí saiu escalavrando o meu braço.

Baqueado ou baquiado – Doente. Sem ânimo. Abatido. Ex: Credo sagente, vamos cuidar de levar estezinho pra benzedeira, pois ele ta muito baquiado de tanto baldiar por causa de quebranto.

Barguilha – Braguilha. Ex. – Eita! Que aquele caboco tá tão porre que nem mais acerta fechar a barguilha da calça dele.

Barranco – Precipício, abismo, ribanceira, local íngreme. O barranco também pode ser o acúmulo de matagal, árvores caídas que impedem a passagem por um igarapé.

Barrasco – Porco grande que ainda não foi capado (castrado), que quando abatido, a carne fica pixé (com o cheiro esquisito).

Batata da perna – Panturrilha.

Batelão – Embarcação quando ainda está só o casco, sem cobertura e sem a máquina. O batelão geralmente serve para levar carregamentos de produtos ou mercadorias, nesse caso, ele tem cobertura e é rebocado por outra embarcação.

Bater a cacholeta – Morrer. Ex. – Ô Joaquim, vê se para de beber muita cachaça, senão tu vai (tu vais) acabar batendo a cacholeta.

Bater a máquina – Datilografar. Antes da era digital, a pessoa que sabia datilografia era o cara. O pai geralmente dizia todo pávulo – Meu filho sabe bater a máquina.

Bater caixinha – Ajudar a convencer alguém a fazer algo. Persuadir alguém. Ex. – Zequinha bate a caixinha lá com teu pai, diz pra ele conseguir um trabalho pra mim.

Bater e ver – Diz-se de algo que é eficaz ou que é verídico e verdadeiro. Ex. – Ontem eu tava com uma bruta dor de estômago, aí a vovó fez um chá de boldo com hortelãzinha, que foi bater e ver, passou na hora.

Bater fofo – Hesitar, ficar com medo, arregar ou diz-se quando alguém não consegue cumprir com um acordo, ou com aquilo que prometeu. Ex. – O Sávio é muito medroso, a gente armou tudo pra ele se dar bem com a caboca, mas na hora do melhor ele bateu fofo.

Bater no ou bater lá… – Ir até a um determinado lugar: Ex: – Tordia, aliás, ontonte a Janderlúcia foi bater no hospital. – Por que já então manazinha? – Pois num é que ela engoliu uma espinha de curimatá. Obs: curimatá ou curimatã, tipo de peixe comum no Amazonas.

Bater o catolé – Negar fogo. Quando o atirador aperta o gatilho, mas o tiro não sai.

Continua na próxima edição…

*Floriano Arruda. Comunicador de rádio, escritor, folclorista. Natural de Urucutituba/Am. Mantém programa radiofônico semanal que interage diretamente com o público na Rádio Panorama, de Itacoatiara. Membro efetivo da Academia Itacoatiarense de Letras.

Views: 92

Compartilhe nas redes:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

COLUNISTAS

COLABORADORES

Abrahim Baze

Alírio Marques