*Floriano Ferreira da Silva
Continuação…
C
Caçoar – Zombar. Mangar. Ex. – Para de caçoar a tua irmã, só porque ela está banguela tu vai (tu vais) ficar atazanando a menina?
Cadeiras – O mesmo que os quadris. Apesar do termo correto deva ser utilizado no plural, muitas vezes se utiliza no singular. Ex. – Ontem carreguei muitos paneiros, por isso amanheci com dor na minha cadeira.
Caducar – Além do sentido de perder a validade, de perder o pleno discernimento devido à velhice, há o sentido figurado, principalmente dos avós, que fazem todos os gostos dos netos, inclusive bizarrices, só para agrada-los. Também é quando alguém se dedica muito a alguma coisa, dizem que a pessoa está caducando com aquilo, está com caduquice.
Caduquice – Veja caducar.
Cagado – Sortudo. Ex. – O Marquinho é cagado pra bingar. Tordia ele chegou atrasado e comprou o último cartão de bingo, e não é que o filho da mãe foi o premiado. Bingou um boi sozinho.
Cagar o pau – Estragar tudo, por tudo a perder.
Cair na besteira – Fazer algo errado, algo que não poderia ser feito naquele momento ou ocasião. Ex. – Ontem na hora do temporal, o comandante do motor de linha caiu na besteira de querer atravessar o Rio Amazonas, quase que a gente se lasca, a valência que o motor não vinha muito abarrotado, senão só tinha dado pro nosso.
Cáite – Peça principal no jogo de “bola-de-gude”, no jogo de bolinhas, como é conhecido em muitas partes da Amazônia, o cáite é a bolinha mais perfeita e também a maior.
Caixa-prega – Local distante, muito longe. Ex. – Já estou até pensando que amanhã nós vamos ter que ir lá no terreno do compadre Chico, ele achou de se meter na caixa-prega, ô lugarzinho longe!
Calafetar – Vedar os furos ou brechas da canoa ou embarcação, a fim de evitar que vaze água.
Calça pega marreca – Calça curta. O nome figurado vem do fato que se alguém quiser pegar marreco (a), precisa dobrar a calça até a “canela”, para não molhar ou sujar. Quando a calça é curta dizem, ou pelo menos diziam, que é “pega marreca”.
Caldo de caridade – Caldo feito à base da farinha de mandioca, temperado com cebolinha, cebola, alho, pimenta do reino e óleo comestível. Serve para revigorar, dar sustança.
Calombo – Nódulo. Quisto cutâneo. Inchaço. Ex. 1 – Hoje de manhã eu fui apanhar goiaba, dei numa casa de caba, meu compadrezinho as bichas me atacaram tanto que a minha costa está toda cheia de calombo. Ex. 2 – Essa semana eu vou ao médico, preciso saber o que é esse calombo que apareceu na minha perna.
Calquinha – Lance de jogo de bolinha de gude. Consiste em impulsionar, geralmente com o dedo polegar apoiado pelo indicador, o cáite por sobre uma bolinha que esteja em sua trajetória, a fim de acertar uma terceira.
Cambada – Peixes enfiados em um pedaço de cipó ou Envira. Hoje dificilmente se vende o peixe em cambadas, porque agora tem o saco plástico para desempenhar essa função. Além de enfiada de peixes, a cambada tem o sentido de bando, de corja. Ex. – Cambada de preguiçosos, não querem fazer nada e ainda exigem aumento de salário, vê se tem cabimento.
Cambito – Gancho de madeira para auxiliar no serviço de capina. Pelo fato de o cambito ser feito de galhos finos e resistentes, quando chamam alguém de pernas de cambito, significa que a pessoa tem as pernas finas.
Cambota – Pernas tortas, arqueadas. Uma alusão às cambotas, que são peças de madeiras da armação (esqueleto) das embarcações.
Camisa de meia – Camisa de malha de algodão.
Cancela – Portão pequeno e simples, as vezes com dobradiças improvisadas com pedaços de pneus de bicicleta. Ex. – Jotinha, meu filho fecha a cancela pro teu irmão não fugir pra rua.
Canfurina ou canforina – O mesmo que naftalina. Ex. – Presta atenção sagente, cuidem de passar bem essas roupas e guardar, sem esquecer de colocar algumas bolas de canforina que é pra deixar tudo cheiroso e manter as traças longes.
Cangapé – Antiga brincadeira (geralmente entre meninos) executada com pequenos vergalhões pontiagudos de mais ou menos 20 centímetros, que se devem arremessar contra o chão (terra) e fincálo, depois ir fazendo círculos em forma de labirinto, impedindo a passagem do adversário. Isto porque não se pode passar por cima da linha traçada pelo oponente.
Cangote – Nuca, parte do pescoço que fica para o lado das costas. Ex. – Meu parente, ontem tinha tanta da caboca na festa que teve até uma que se engraçou pro meu lado, atraquei logo na cintura dela e botamos pra dançar, aí eu aproveitei e dei umas boas fungadas no cangote dela, chega ela ficava toda arrepiada.
Caniço – Vara de pescar.
Canto – Esquina.
Cão – Demônio, diabo. Ex. – Quero ver o cão na minha frente, mas não quero ver o prefeito, aquele mentiroso!
Capado – Castrado. Ex. – O Pedro Afonso tá roliço de tão gordo, parece já um porco capado. Obs: É costume capar, principalmente porco, para que engorde e a carne fique saborosa e sem a “catinga” de barrasco.
Capar o gato – Sair. Ir embora. Dar no pé. Ex. – A Maricota, quando viu que o pau ia comer no centro, cuidou de capar o gato.
Capaz! – Até parece! Duvido! Ex. – Nosso patrão esse ano vai pagar uma gratificação extra pra todos os empregados. – Do jeito que ele é pão duro, capaz mesmo!
Capenga – Coxo ou aquilo que não está completo. Ex. 1 – Manoel se contundiu no jogo de futebol, agora anda todo capenga. Ex. 2 – Nossa associação está capenga com a saída de alguns sócios importantes.
Capengando – Veja capenga.
Capim na palheta – Algo que deu errado, uma analogia quando entra capim na palheta (hélice) da embarcação, que para o motor ou ele fica sem força de propulsão. Ex. Moçada! Deu capim na palheta, morreu o presidente do time e não vai ter mais festa.
Capina – Capinar – Capinação – No sentido de limpar, cortar o capim da roça. Mas, também pode ser no sentido de “sai daqui, vai embora”.
Capitão – Bolinho de comida (geralmente peixe misturado com farinha de mandioca) amassado ou misturado com as pontas dos dedos e levado diretamente à boca.
Capiongo – Cabisbaixo. Triste.
Capoeira – Diz-se da mata que não é mais virgem, que cresceu em terreno onde já foi cultivado algum tipo de cultura. É muito utilizado pela agricultura tradicional de subsistência, em que se deixa por dois ou mais anos o mato crescer, a fim de fazer um rodízio da terra.
Capote – Jacaré putiá. Resultado negativo no jogo ou disputa, sobretudo de dominó, quando você dá capote é porque ganhou de larga vantagem. Pegar capote é quando você perdeu de feio.
Caquiado ou caqueado – Jeito especial e fora do comum de fazer algo. É como se a pessoa tivesse todo um ritual para fazer algo e de forma melhor que as outras. Ex. 1 – O tapioqueiro, na hora de virar a tapioquinha, que é um beiju feito da fécula da mandioca, ele joga a mesma pra cima de forma que ela vire no ar, para em seguida aparar com frigideira a tapioquinha já virada. Isso é um tipo de Caquiado. Ex. 2 – Em Itacoatiara-AM tem um bar chamado “Tira Ressaca”. O proprietário, Seu Adelson Moreira, tem um Caquiado para servir a cerveja, ele pega a garrafa pelo gargalo, com os dedos polegar e indicador da mão direita e com o dedo indicador da mão esquerda ele “acaricia” o fundo da garrafa, enquanto serve apenas um pouco num copo, depois ele balança (agita) o conteúdo do copo e passa para os outros copos. Só depois disso ele serve a cerveja. Tudo isso para não congelar a cerveja na garrafa e nos copos, devido ao choque térmico. É um verdadeiro ritual, isso é Caquiado.
Cara de tacho – Expressão facial de desapontamento, de decepção.
Cara-dura – Cara de pau.
Carapanã – Muriçoca. Mosquito peçonhento.
Caraquento – Velho, malconservado, deteriorado.
Carcanhar – Calcanhar.
Cariado – Dente comprometido, semidestruído pela cárie. Ex. – Não gosto de água gelada, porque dói discunforme meus cariados.
Caritó – Diz-se da condição da mulher que não conseguiu se casar, que o tempo passou e ficou solteirona, que Santo Antonio não atendeu ao pedido. Ex. – A Matilde, pelo jeito vai ficar no caritó, já está com 40 anos e ainda não arrumou ninguém para casar.
Continua na próxima edição…
*Floriano Arruda. Comunicador de rádio, escritor, folclorista. Natural de Urucutituba/Am. Mantém programa radiofônico semanal que interage diretamente com o público na Rádio Panorama, de Itacoatiara. Membro efetivo da Academia Itacoatiarense de Letras.
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