Continuação…
Mágicas da poesia
Os poemas de Marcelo Farias são marcados por um sinal significativo: a maturidade intelectual. Formado em História e dedicado ao ensino, a maior parte do seu tempo, quando fora da sala de aula, ele dedica à leitura e o diálogo sobre os vários aspectos do conhecimento, com os seus amigos e alunos. Adora ficar parado, conversando com os seus botões, meditando. Os temas do cotidiano são olhados por meio das lentes da experiência histórica, das aproximações que identificam os acontecimentos de hoje com os de ontem. Daí deriva, da maturidade intelectual, a unidade do seu livro de estreia, que traz o sugestivo título de Para entender a mágica. São poemas originais pela forma e expressão. Revelam fantasia sem resvalar no anedótico; instigam ao humor, isento do mais breve toque de vulgaridade.
Ensina como se integrar na mágica da vida, nos liames misteriosos de sua família. O vinho reparador, a porta que só se abriu após perceber o desprezo de quem a queria abrir, e as peripécias do aprendiz de feiticeiro, […] Eu tenho medo de mim, /Pois vou além do que eu…/ Mais além do que eu sabia, […]. E, de repente, se flagra, ante as taças de cerveja no bar da esquina, […] Bebendo o corpo gelado/ Das loiras do português. E, entre as picadas de carapanã e a identificação do pior dia do diabo, o poeta canta no Barco de Vela:
Olho a Vila Santa
Do barco de vela
Com ruas de pedra,
Com gente sincera.
Espero amanhã
Poder chegar nela.
Observe o leitor, nessa pequena estrofe de redondilha menor, a incidência de rimas toantes e consoantes, características do velho cancioneiro galaico-português.
Enfim, nessa pequena amostragem, o leitor talvez já possa avaliar os poemas que o esperam ao abrir o livro. Lá pelo fim da coletânea, o poeta se mostra um tanto irritadiço e manda brasa no Poema Viagra e no Poema errado, para terminar com O grande poema, que se constitui de nada menos que uma página em branco.
Agosto de 2007.
Continua na próxima edição…
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