Manaus, 23 de julho de 2025

Os frutos da esperança

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Continuação…

O livro em Manaus

Desde que andei a lidar com o livro em Manaus, a partir da década de 60 do século passado, venho observando o desempenho do mercado livreiro amazonense. A primeira empresa a acreditar nesse mercado foi a Editora Sérgio Cardoso. Seu início nessa direção foi dado com os trabalhos inaugurais dos jovens escritores do Clube da Madrugada, reunidos nas Edições Madrugada. Nas suas oficinas foi realizada a minha primeira coletânea de poemas, com o nome de Barro Verde, editada em 1961 e patrocinada pela União dos Estudantes. Em verdade, a Sérgio Cardoso era uma empresa dedicada à produção de material impresso de toda ordem, na sua maioria talonários comerciais e cadernos contábeis. Mas, por puro idealismo do seu proprietário, o nobre amigo e notável benemérito da cultura José Cardoso, a empresa reservava uma parte do seu precioso tempo à produção de obras literárias.

Depois de Barro Verde, lancei mais dois livros com a chancela dessa editora, contando sempre com a generosidade do Sr. José Cardoso que me entregava os exemplares prontos em confiança, a fim de ressarcirse com a sua parte da venda realizada nas livrarias da cidade e nos lançamentos que eram em geral festivos e de excepcional participação do público. As tiragens iam de 500 a 1.000 exemplares.

Fui levando o barco e, mais tarde, movido pela inquietação de dotar o ambiente cultural da cidade com um empreendimento dessa natureza, criamos na UBE a coleção sumaúma que chegou a lançar três livros, uma coletânea de ensaios sobre cinema de Márcio Souza, intitulada O mostrador de sombras, Cartilha do bem amar com lições de bem sofrer, poemas de Farias de Carvalho, e os contos de Carlos Gomes em Mundo mundo vasto mundo, tudo graficamente realizado na Sérgio Cardoso.

Em 1985 fundei a Editora Puxirum que pretendia funcionar numa espécie de cooperativa. Os autores se encarregavam de vender os livros reservando parte da venda para cobrir as despesas de impressão. O primeiro foi o meu Romanceiro e, depois, Regime das águas, de Francisco Vasconcelos; uma nova edição de Sol de Feira, de Luiz Bacellar; Sob Vésper, de Alencar e Silva; Uma poética das águas, de Socorro Santiago; Visgo da Terra, de Astrid Cabral; Poemeu, de L. Ruas; Bhakti, de Carlos Alberto Tinoco; Contos Amazônicos, de Arthur Engrácio; e três alentados volumes de Poesia Reunida, contendo todos os versos até então publicados de Alencar e Silva, Jorge Tufic e Anthístenes Pinto. O plano dessa coleção era editar num mesmo formato, a todos os poetas do Movimento Madrugada. Os livros eram impressos nas oficinas gráficas da Imprensa Oficial do Estado, então dirigida pelo poeta Alencar e Silva.

O poder público sempre investiu no livro e, no Governo do professor Arthur Cézar Ferreira Reis, o Estado do Amazonas chegou a editar mais de 100 títulos de obras de ficção, ensaios, poesia e paradidáticos.

Uma ou outra gráfica da cidade tem reservado algum espaço para a impressão de livros. A Associação Comercial relançou livros fundamentais sobre a região em edições fac-similadas através de um fundo específico reservado a esse objetivo. A Universidade Federal do Amazonas mantém uma editora que tem trazido ao leitor trabalhos de autores da atualidade e reedições de obras raras sobre a Amazônia.

Mas, o maior empreendimento na área privada do setor coube à Editora Valer, fundada pelo jovem empresário Isaac Maciel, contando, mais tarde, com o concurso do poeta e ensaísta Tenório Telles. A Valer é hoje, uma referência dos que procuram o bom livro, particularmente sobre a Amazônia. Tem editado escritores de hoje, inclusive estreantes, e obras há muito fora do mercado, suprindo, com isso, os estudiosos da Região. Tem buscado apoio por meio de coedições com os próprios autores e com o Estado, o município de Manaus, e as Universidades públicas e particulares do Amazonas. Tudo numa postura profissional, respeitando os direitos do autor e cuidando do texto em atitude criteriosa. Esforçando-se para realizar o melhor no aspecto material do livro, nada deixando a desejar quanto ao que há de melhor em todo país, porque os livros são impressos no hoje excelente parque gráfico de Manaus e em outras gráficas que prestam serviço às grandes editoras de todo o país.

Assim vejo, a situação do livro em Manaus.

Manaus, Chácara Lili, 14 de agosto de 2006.

Continua na próxima edição…

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