Manaus, 10 de outubro de 2025

Os frutos da esperança

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Continuação…

Um homem bom1

Eram inúmeras as qualidades de coração e de espírito do Dr. Franco de Sá, que eu simplesmente chamava de Dr. Franco. Mas na apresentação deste livro desejo salientar três dessas virtudes: A precedência da família sobre qualquer outra prioridade na vida; a generosidade em servir; e um profundo senso de justiça quando em jogo estava o direito do cidadão. Qualidades que se manifestaram meridianamente na sua condição de chefe de família, de médico humanitário e de magistrado na função de Ministro, depois Conselheiro do Tribunal de Contas.

Como exemplo de chefe de família há um fato exemplar. Convidado para integrar os quadros de um clube de serviços em Manaus e que tinha como lema servir aos outros antes de pensar em si, ele se recusou a participar porque não concordava com essa legenda. Ele dizia que em primeiro lugar estavam os seus, o bem-estar de sua casa, esposa, filhos, irmãos, sobrinhos, enfim, todos aqueles que constituíam a sua grande família.

O médico humanitário não se recusava a prestar serviços gratuitamente e jamais deixou de atender, em seu consultório, uma pessoa que não tivesse como pagar a consulta. Os médicos, os amigos, os filhos de médicos e de amigos simplesmente ele tratava de graça. Isto fazia parte do seu código de ética particular.

Sua filha Roseli perguntou-lhe um dia porque ele cobrava tão barato as consultas, muito abaixo das tabelas aplicadas entre outros profissionais da medicina. E ele respondeu que a medicina em sua vida, depois de um determinado tempo, se tinha transformado totalmente em verdadeiro sacerdócio. Já tinha criado os filhos e não precisava mais daquele dinheiro, simbólico porque nem disso ele precisava se o cliente não tivesse condição de pagar.

O senso de justiça e de defesa dos direitos do cidadão manifestava-se de vários modos. Desde o seu comportamento pessoal em relação a esses valores. Ele não aceitava, perdia as estribeiras muitas vezes, quando se defrontava com a falsificação e a fraude, a mentira e o mau comportamento. Afirmava que não merece a condição de homem aquele que não defenda e lute por seus direitos. Mas de forma legal e nos fóruns competentes, sem negociatas ou articulações quadrilheiras. E assim foi durante toda a vida. Não fez concessões a esses vícios que ele considerava impróprios a homens de bem.

Não vou me estender mais nesses fatos, porque todos estão sendo tratados neste livro onde o leitor poderá se informar sobre a vida desse homem notável. Um trabalho realizado com o coração e a inteligência, com o amor filial que o Dr. Franco soube plantar nos seus descendentes e que o Jorge, autor do livro, converteu num gesto de carinho e de veneração pela memória do seu pai.

Escrito em estilo coloquial, tudo se passa como numa extensa conversa daquelas que o Dr. Franco amava patrocinar nos encontros do terraço de sua casa, ali na Rua Barroso, 293.

Mas a mão de obra mostrada no trabalho está na pesquisa que o Jorge Franco de Sá realizou, indo buscar em várias fontes elementos essenciais para caracterizar o tempo em que viveu o Dr. Franco, desde a vinda de sua família de São Luiz do Maranhão para Manaus, no Amazonas daqueles idos.

O livro é, portanto, um gesto de amor filial e um documento importante ao estudo da vida brasileira na Amazônia.

Parabéns, Jorge!

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1 Abertura do livro Meu pai aos meus olhos, de Jorge Franco de Sá, Valer Editora, Manaus, 2006.

Continua na próxima edição…

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