Continuação…
Parecer sobre o acervo da biblioteca
de um Pensador da Amazônia
Mário Ypiranga Monteiro foi um intelectual de múltipla atividade criadora. Foi, também, em toda a vida, o professor que exerceu o magistério de nível médio e superior, principalmente no Colégio Estadual e na Universidade Federal do Amazonas, com paixão e saber. Por força do ofício de escritor e professor, construiu uma obra que abrange amplo universo nos estudos da geografia, da história, da antropologia, do folclore, além de possuir fecunda produção nos domínios da poesia e da prosa, ensaio e ficção. A sua lavoura mental constitui assim um vasto painel dedicado à interpretação da vida brasileira na Amazônia, das origens a questões da atualidade. Tal atividade credenciou-o a receber inúmeras honrarias como a de membro efetivo da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Amazonas, dos quais foi Presidente, além de correspondente de instituições culturais do Brasil e do Exterior.
Sua obra, ao ser elaborada com a acuidade do pesquisador pertinaz, revela as intuições de um autêntico pensador, restaurando as paisagens e os costumes, o burburinho do viver de homens e mulheres que povoam os fatos da história, com a agilidade e a imaginação criadora de um verdadeiro artista. Seu livro Fundação de Manaus é um clássico sobre o tema, e bem representa uma amostragem do conjunto dos seus escritos, na riqueza da documentação em que se baseia para formular as suas hipóteses e comprovar as suas assertivas, no calor com que concebe e restaura os seres em movimento. Tudo apoiado na ampla bibliografia instalada em sua biblioteca.
Biblioteca preciosa que o mestre Mário Ypiranga foi construindo ao longo dos seus mais de 90 anos, numa existência dedicada à cátedra e ao trabalho intelectual incansável e proveitoso. Biblioteca formada por mais de 15.000 títulos, com algumas obras em raras edições nas esferas da geografia, da história, das artes, da antropologia, do teatro, do folclore, dos descobrimentos marítimos e da literatura propriamente dita, a poesia e a prosa de ficção, em particular o romance.
Paralelamente ao acervo bibliográfico, o notável polígrafo amazonense foi amealhando um abastado arquivo que reúne volumosa documentação de valor suntuoso; fotografias colhidas nas suas andanças pelos sítios amazônicos ou da cidade de Manaus, por onde percorreu ouvindo o povo e observando a sua vida, e nas suas inúmeras viagens empreendidas a várias cidades brasileiras e no Exterior; valiosa hemeroteca formada com recortes de jornais e revistas sobre matéria dos seus estudos; e documentos fundados em copiosa correspondência trocada com os seus amigos e companheiros de trabalho.
É ocioso falar-se do emprego de uma biblioteca e de sua importância na formação intelectual da coletividade. Mas nunca é demais se lhe salientar o papel no apoio à faina dos intelectuais, ainda nos dias que hoje experimentamos, do advento dos processos de digitação eletrônica. Porque o livro jamais será substituído. O livro sempre constituirá a base, o elemento imprescindível, fundamental das atividades essenciais à conquista do conhecimento, não sendo portanto, recomendável que ele, o livro, restrinja-se ao consumo de um público restrito. Por isso é que o destino das bibliotecas particulares é de se transformarem em espaços públicos de consulta dos cidadãos, destinadas ao uso comum de todos os que desejem enriquecer-se no seu cabedal de cultura.
Ao desaparecer o escritor e o Professor Mário Ypiranga Monteiro, o acervo de sua biblioteca e dos seus arquivos tornou-se inativo e seus herdeiros decidiram por encaminhá-lo no sentido desse estoque bibliográfico permanecer exercendo a sua função social. Sem dúvida que aberto ao público esse patrimônio cultural muito ajudará na compreensão da nossa vida na Amazônia.
É o parecer.
Manaus, Chácara Lili, 31 de julho de 2006.
Continua na próxima edição…
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