Manaus, 12 de dezembro de 2025

Os frutos da esperança

Compartilhe nas redes:

Continuação…

O retorno de Almino Affonso

Três paixões iluminam a vida de Almino Affonso ao longo de sua laboriosa existência, a dedicação amorosa à esposa Ligia, com quem prosseguiu a caminhada na tradição da linhagem dos Monteiro e dos Álvares Affonso, abençoados em sua gênese pelas águas do velho rio Madeira, na Amazônia, velho e ao mesmo tempo novo, no seu modo de mudar de feição de uma hora para outra e oferecer arriscados desafios a seus navegadores; a segunda, a ação política, praticada ao lado de companheiros fraternos, no esforço de construir um mundo novo, de cuja consequência teve um dia de amargar o exílio, mas, por se tratar de quem se trata, converteu a episódica expatriação, ameaçado de escrever um capítulo escuro no saltério de sua história, na experiência fecunda em termos de conhecimento da vivência latino-americana, e mudou aquilo que poderia parecer um fato negativo, em momento de generosa doação aos irmãos das pátrias por onde viveu e ajudou a melhorar, ainda nas horas dedicadas a orientar a juventude universitária na cátedra acadêmica; e a terceira, a literatura que sempre assinalou os horizontes de suas andanças, desde os tenros anos em Manaus, e jamais o abandonou na realização de intensa atividade na tribuna parlamentar e na construção de uma poesia feita dos impulsos do amor e das emoções produzidas pelas variegadas fases de sua ação política, iniciada nas barricadas estudantis e coroada com o exercício de altas funções republicanas, no Legislativo e no Executivo, sempre em decorrência de delegação popular.

O amor viça nas raízes e, nos ramais da existência, desabrocha como rosas da manhã, no ideal por uma vida melhor para o seu país e seu povo.

Neste livro concentra-se a expressão de dois ângulos dessas paixões, a política e a literatura, mesmo porque o amor está oculto, nas raízes. Dividido em três sequências, o âmago do livro sustenta-se das duas primeiras partes, intituladas seiva da vida e a palavra renascida. A terceira, doação de afeto, recolhe pronunciamentos sobre a sua personalidade, em momentos solenes em que lhe foram reconhecidos os méritos de homem público e paladino das boas causas, de escritor e poeta e campeador dos mais nobres sentimentos.

Fala do inesquecível avô materno Comendador José Francisco Monteiro, o fundador do sítio natal da cidade de Humaitá. Traça-lhe o perfil de pioneiro e a bravura dos desbravadores. Discorre sobre o avô paterno de que herdou o nome, Almino Álvares Affonso, o paladino abolicionista, parlamentar republicano e homem de ação, cultor da palavra na oratória e na poesia. Fala com orgulho do tio José e do pai Bohemundo de Souza Martins Álvares Affonso. Recorda de Adalberto Valle, o engenhoso empresário, também originário dos antepassados dos Monteiro. Estende-se em analisar a vida e a obra de outro ilustre Monteiro, o poeta Raimundo, autor do clássico As horas lentas, coletânea de poemas fertilizados pelas águas revoltas do Madeira, mas também pelo espelho sereno dos torrenciais do Sena e do Tâmisa, posto esse ínclito parente ter sido mandado pelos pais a educar-se em Paris e Londres. Fala de Manaus, ao receber homenagem na Câmara Municipal da cidade, num discurso construído como verdadeira celebração de ternura à terra que lhe abrigou os primeiros arroubos da juventude e onde encontrou o seu amor. Discorre sobre Graça Aranha ao tomar posse numa das cadeiras da Academia Amazonense de Letras, texto em que não se satisfaz em cumprir os protocolares procedimentos acadêmicos, mas se lança a estudar os vários ângulos da vida e obra do autor de Canaã. Põe-se no discurso de agradecimento ao receber a Medalha do Mérito Cultural Péricles Moraes, da Academia Amazonense de Letras, em seu nome e no dos outros dois agraciados, e fazer o elogio da grandeza acadêmica. Preleciona sobre o tirocínio da senzala à cidadania, em conferência pronunciada no Instituto Histórico e Geográfico do Amazonas, em sessão comemorativa ao 13 de maio. Reúne dois estudos sobre Heliodoro Balbi, um sobre o esbulho eleitoral de que foi vítima aquele notável tribuno, e outro sobre a sua produção poética, dando aos leitores o privilégio de conhecer o belo soneto composto em alexandrinos perfeitos e intitulado Durante a febre. Não se exime de se dedicar a investigações sobre a revolução tecnológica e a cidadania e, num texto afogado nas águas do seu rio, com o nome de Discurso do Rio Madeira, por sinal publicado originalmente no jornal Alto Madeira, da cidade de Porto Velho, encerra essas sequências, em verdade encerra o livro.

Aí está um esboço do índice analítico do livro, mas se o leitor quiser deliciar-se, mergulhe em suas páginas e experimentará o prazer da leitura, em textos lançados com o lavor de genuíno gosto literário, na correção e

elegância de linguagem, num estilo direto e claro, de quem se acostumou a falar ao povo e a plateias ecléticas e jamais escondeu nas entrelinhas intenções inconfessáveis.

Este livro é, também, quem sabe, uma homenagem da Academia Amazonense de Letras a um dos seus mais ilustres pares.

Manaus, Praia da Ponta Negra, setembro de 2011.

Continua na próxima edição…

*Poeta e ensaísta. Membro da União Brasileira de Escritores do Amazonas da Academia Amazonense de Letras do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas

Views: 3

Compartilhe nas redes:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *