Manaus, 21 de novembro de 2024

Outra versão da fuga

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A fuga do governador Turiano Meira que estava no poder quando da revolução tenentista de julho de 1924, em Manaus, ficou assentada na boca do povo com várias versões, dentre elas a de que teria sido preso e deportado para o Rio Branco, por forças rebeldes; outra, de que teria fugido em lancha própria, pelos fundos do Palácio Rio Negro, com o mesmo destino; e, uma terceira, que parece inédita, que passo a revelar adiante, a qual parece hilária e destinada a desmoralizar de uma vez por todas as lideranças reguistas.

A imprensa do Rio de Janeiro, como natural, por ser a da capital da República e ponto central do poder político nacional, noticiou, com detalhes, o que teria sido a fuga do governador interino do Amazonas, após a explosão da revolução tenentista. Consta que, desde dias antes de 23 de julho, Turiano mantinha uma lancha bem-preparada e atracada nos fundos do Palácio Rio Negro, no igarapé da primeira ponte, pronta para qualquer emergência.

Quando foi preciso, entretanto, o piloto não compareceu ao porto, pois teria ficado assustado com os tiros disparados pelos rebeldes em direção ao quartel da Polícia Militar. Em razão disso, o governador tomou uma canoa e, com a esposa, três filhos, uma criada e um soldado, desceu o igarapé em direção à canhoneira “Missões”, conforme havia sido combinado quando de reunião na Capitania dos Portos. À frente de sua canoa, seguia um bote com dois marinheiros, os quais, tendo esquecido a senha combinada para permitir a aproximação da canhoneira, foram recebidos a bala pela guarda da canhoneira.

Um dos tripulantes do bote foi baleado e morto, caindo na água, o que levou o governador Turiano a tomar o rumo do gaiola “Rio Curuçá”, no qual deixou os filhos com a criada e seguiu na mesma canoa, “bebendo água”, acompanhado somente da esposa na direção do sítio “Cantídia”, de propriedade do coronel José Alves, no qual permaneceu até a tarde do dia 26 de julho, quando o coronel Pedro Freyre, após negociar com os revoltosos, especialmente com o capitão Dubois, foi buscar o ex-governador.

De volta a Manaus, seu desembarque foi na rampa dos Remédios, trazendo consigo a família e Pedro Freyre, sob garantias dos rebeldes. De lá, seguiu de automóvel para a casa de Mário do Rego Monteiro, seu cunhado, na Rua Lima Bacury.

Às escondidas, consta que Turiano teria voltado a Palácio Rio Negro, pela noite, acompanhado do desembargador Sá Peixoto, então presidente do Tribunal de Justiça e de alguns amigos, dentre eles o advogado Ildefonso Marinho, indo recolher as chaves de sua casa e objetos pessoais, e de lá seguiu a pé para a residência na Av. Joaquim Nabuco.

A versão contada pelo jornal “O Brasil”, de 30 de agosto de 1924, que circulava no Rio de Janeiro, como se vê apresentou detalhes e minúcias até curiosas, e representa a terceira versão sobre o tema, mas, ao mesmo tempo, aquela que oferece mais clareza sobre o que pode ter acontecido em meio àquele tumulto generalizado, indicando pessoas que teriam atuado no episódio, e pode coincidir com os fatos.

Mesmo retornando à civilização e com garantias asseguradas pelos rebeldes, Turiano se negou a reassumir o cargo, como o fizeram o deputado Caio Valladares e o desembargador Sá Peixoto, sucessores naturais e legais do governador, levando à tomada de um governo militar transitório do coronel Raimundo Barbosa, até a designação do interventor federal por ato do presidente da República.

A ser verdade essa descrição, é de se imaginar a agonia do governador e de sua família em meio ao Rio Negro, fugindo do assalto ao Palácio do Governo e uma possível prisão.

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