Enquanto o ano de 2025 vai se encerrando com embates políticos que visam a tomada do poder nas eleições gerais de outubro vindouro, após experimentarmos os festejos natalinos e a agitação do comércio, assistirmos à euforia que só se vê nas publicidades de governos e verificarmos uma teimosia em relação às mudanças climáticas pelas quais respondemos em grau elevado, no encerramento de 1925, portanto, há cem anos passados, dava-se a prisão de revoltosos do tenentismo por haverem se rebelado contra os desmandos do governo Rego Monteiro (1921-1924), em razão de processo por sedição militar.
Foram recolhidos os militares Joaquim Lima Verde, Antônio Guimarães e Arthur Martins da Silva e os civis Chrysantho Jobim, Francisco Pereira da Silva, Olegário da Luz Castro, Paulino de Britto, Francisco das Chagas Aguiar, Carlos Mesquita, Antônio Cavalcante Lima, João Alencar Araripe, Marciano Armond, Domingos Queiroz e Washington Mello, após pronunciados pela justiça, em 8 de dezembro, no dia da santa padroeira.
O mundo comum corria na sua normalidade. Dava-se leilão de móveis clássicos residenciais, piano de F. Dorner & Sohn, Stuttgart, conjuntos de camas de ferro, guarda-louças, aparadores, máquina “Singer”, cadeiras de embalo e austríacas, filtros ingleses “Berkfeld”, aparelhos de porcelana e de granito para jantar, pilão, ferramentas para jardim, fogareiro elétrico, geladeira americana, objetos para consultório médico originários da Casa “Collim”, de Paris, tudo ao correr do martelo do agente Mello. Pobres e quase miseráveis espalhavam-se pelos bairros distantes, em tetos de palha. Os cinemas Polytheama e Odeon com programação habitual, enquanto no Alcazar estreava “Os novos ricos”, com Gladya Walton como protagonista, e um filme cômico, titulado “Sensacional reportagem”. Hoje, há muitos novos ricos e reportagens sensacionais mostrando um mundo colorido de realizações. Nos bairros, o povo admirava as pastorinhas, como as “Filhas de Belém de Judá”, da Praça da Bandeira Branca, nos Tócos (Aparecida), e “Estrelas do Norte”, de José Antônio Nascimento, da Rua do Comendador Clementino. Hoje, o povo se prepara para o carnaval das escolas de samba, dos blocos de rua, do Carnaboi e do boi-bumbá.
Curioso observar que em 29 de dezembro de 1925 a Assembleia Legislativa estava em funcionamento, estudando projetos, requerimentos e leis, e assim era mesmo nos dias de corrida hípica no Parque Amazonense. Os gestos de filantropia se repetiam, sobretudo por comerciantes do interior ajudando o leprosário de Paricatuba e a Casa Dr. Fajardo, enquanto o poder público vacinava contra varíola e varicela. A 30 de dezembro, as despedidas do interventor Alfredo de Sá que nos salvara do caos foram seguidas da posse do governador eleito, o também mineiro Ephigênio de Salles, atos que ocuparam a passagem do ano de cujo evento quase ninguém parece ter se lembrado.
Na mensagem de final de mandato, lida na Assembleia em 15 de dezembro, Alfredo de Sá, chegado por ordem federal para recolocar as finanças e a moral em dias, e a política, os partidos e os grupos oligárquicos nos trilhos do entendimento – o que conseguiu com um pacto entre os “caciques” da época -, ele se orgulhava do maior resultado de seu trabalho ser o fato de que “o Amazonas pode viver e se governar como Estado autônomo e federado que é, e que para suas despesas comuns são suficientes suas rendas”. Mas, para tanto, ofereceu a receita do bolo, sem confeites e de forma precisa e direta: “para isso basta que tenha no seu governo um homem trabalhador, honesto e enérgico, com severas práticas de administração e tocado desse ‘ideal coletivo que reflete seu calor e sua luz na opinião pública’”.
Não quero cair no lugar comum, logo nos preparativos para o Novo Ano, mas sou obrigado a fazê-lo: qualquer semelhança com o tempo atual é mera coincidência.
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