O empresário Maurício Loureiro, que também é conselheiro do CIEAM, chegou a Manaus nos anos 90, quando a indústria do Amazonas já exibia em seus produtos o certificado de qualidade ambiental com a ISO 14.000, coerente com seu pioneirismo de adoção e gestão da qualidade e sua reputação de manufaturar produtos de classe mundial. Como líder empresarial, sempre insistiu na precificação dos serviços ambientais prestados pela região ao clima a partir de sua atividade econômica. Ao gerar mais de 500 mil empregos, a indústria protege a floresta, pois impede a tentação predatória como sustento das famílias.
Integrante da Comissão ESG do CIEAM, Loureiro, na semana passada, na companhia de Régia Moreira, Hamzah Nasser, Anderson Chaves e Lúcio Flávio Oliveira, receberam Niro Higuchi para apresentar aos diretores da entidade mais uma etapa dos estudos que pretendem aferir a performance ambiental do Polo Industrial de Manaus em sua inserção na dinâmica do carbono da floresta amazônica. Confira o bate-papo.
Maurício Loureiro – Penso ser um momento ímpar para o Amazonas, INPA e CIEAM, pois possibilita reescrever um pedaço da história futura da inserção da ZFM, a Zona Franca de Manaus, num ambiente de preservação ambiental maior, cuja credibilidade da conservação ambiental poderá ser contextualizada, pela ciência, pela pesquisa séria e acima de tudo, pela comprovação, de que, o Polo Industrial de Manaus, ou melhor, a ZFM neutraliza suas emissões, contribuindo como projeto de desenvolvimento em sentido mais amplo, econômico, social e proteção florestal, ou seja, um propósito que é também, a contribuição da Indústria para um Brasil melhor e mais respeitado ambientalmente.
BAA – Algumas iniciativas já foram assumidas, historicamente, pela entidade ao buscar, por exemplo, a inserção das entidades representativas do setor produtivo nos colegiados da UEA, Universidade do Estado do Amazonas, uma instituição acadêmica mantida integralmente pela indústria. O que esperar dessa aproximação?
ML – Muito embora estejamos contribuindo e custeando a UEA desde os seus primórdios, é extremamente importante essa aproximação, de parte a parte. A indústria padece de mão de obra qualificada e a academia vai ficar mais robusta com sua preparação estruturalmente e compartilhada. Todos sairão ganhando pois não se constrói uma Nação, sem uma boa educação, no sentido amplo e inovador, posto que a qualificação, sob todas as formas, traz avanços em sua matriz de exigências, traz a tecnologia voltada para uma evolução humana acelerada.
Vista aérea do Campus Universitário da Ufam
Se não estivermos nesta vibração, nesta vibe de aprendizados qualificados, estaremos fora do game. Portanto, defendo que a aproximação do setor industrial, comercial e de serviços, estejam unidos, não somente a UEA, mas as demais inteligências vivas, que nos cercam, como a UFAM, o INPA e demais instituições de pesquisa e desenvolvimento que, de certo modo, foram impulsionadas pelas empresas do Polo Industrial.
BAA – A Amazônia é pauta diária e insistente da mídia global. Como o setor produtivo, que atua há mais de um século na Amazônia, poderia pressionar/influenciar a indústria brasileira no sentido de adotar as exigências socioambientais e os compromissos de proteção florestal que descrevem a indústria instalada em Manaus?
ML – Penso que há bons exemplos, na Amazônia e no Amazonas, que podem servir como direção e caminhos a serem seguidos. Um deles, é o desempenho do Amazonas na sua preservação ambiental, que se movimenta para manter 97% da floresta preservada. Um outro ponto interessante, é que, as nossas Indústrias, geralmente, não utilizam chaminés e são entusiasmadas ao reaproveitamento máximo de resíduos. E por destaque, podemos dar exemplos de empresas que tem em seu DNA a preservação ambiental por opção, compromisso e cultura, seja ela nacional ou estrangeira. Ex.: MOTO HONDA, BIC, IPRAM, UNICOBA, e tantas outras. O próximo desafio é o da logística reversa.
Aérea – Distrito Industria – PIM – SUFRAMA
BAA – Há uma movimentação frenética na direção dos créditos de carbono que temos a oferecer aos países com dívidas na contabilidade ambiental. Você acredita que esse caminho pode ser apropriado na direção da interiorização do desenvolvimento?
ML – Com certeza sim. Precisamos apenas planejar como fazer, montar a melhor estratégia profissional e adequada, sempre atentos ao que determinam as regras no âmbito nacional e internacional. Buscamos seguir os padrões que estejam em linha com a Ciência, oferecendo com isso credibilidade a um mercado que hoje clama por bons projetos, e acima de tudo, dar transparência absoluta aos projetos para que sejam fidedignos aos olhos dos investidores e compradores do carbono. A profissionalização deste mercado é uma grande oportunidade que o Amazonas tem de se projetar internacionalmente, pois sua performance de preservação florestal pode ser monetizada. Por isso, é precisa saber como tirar proveito e riqueza daquilo que a natureza nos ofereceu, como dadiva natural, como benefício social.
BAA – Empresário do Polo Industrial de Manaus, há mais de quatro décadas atuando na Amazônia, que paisagem socioeconômica e ambiental você gostaria de ter ajudado a construir e por que isso não ocorreu?
ML – Penso que se falarmos do Amazonas, contribuímos com a questão ambiental de maneira significativa e especialmente bem sucedida. Já na questão socioeconômica, penso que poderíamos ter realizado mais, pois são imensos os recursos gerados ao longo dos 56 anos de ZFM. Basta somar os resultados alcançados pelo conjunto do setor produtivo. Trata-se de uma contribuição robusta com a arrecadação pública que, se aplicada majoritariamente na região a paisagem socioeconômica deveria ser outra. Ou seja, essa massa de recursos nos possibilitou ter feito mais do que realizamos até hoje.
Obviamente, uma capital como Manaus, com 2,3 milhões de habitantes, com terras abundantes, com certeza poderíamos ter realizado planejamentos melhores de sustentabilidade populacional. Porém, nunca é tarde para se fazer melhor aquilo que queremos realizar, basta ter vontade, nos cercarmos de pessoas que queiram contribuir para uma cidade melhor, mais justa socialmente falando e um estado mais próspero, em que, os seus cidadãos se orgulhem em viver e compartilhar a prosperidade.
II
Na Amazônia, a floresta é referência política da transição e da proteção socioambiental
“A Comissão ESG será transversal e seu objetivo é debater, adensar, avançar e dar robustez a esta sigla, que movimenta as empresas em escala mundial, as mais conscientes da questão socioambiental/climática. Os insumos estão à mão, os ingredientes já fazem parte da rotina cotidiana, o fator humano, social, gerencial e, principalmente, ambiental, sempre esteve no DNA da ZFM desde a primeira hora: integrar a floresta ao país, atribuir-lhe função econômica, para resguardar e gerenciar a sociobiodiversidade amazônica em favor de nossa gente e do Brasil”
No vaivém do jogo político, a gestão da Amazônia não poderia jamais ficar ao largo pois se trata de um dos ícones mais valiosos que permeiam o imaginário da Humanidade.
Se prestarmos atenção, os temas mais palpitantes do país estão relacionados com a Amazônia: o Marco Temporal, a tragédia Yanomami, o esvaziamento polêmico de dois ministérios – dos Povos Originários e do Meio Ambiente – que subiram a rampa do poder no dia 1º de Janeiro, os créditos de carbono, os serviços ambientais e, mais recentemente, a inclusão do Amazonas entre os novos depredadores da floresta, e a ambiguidade do Fundo Amazônia, que prioriza a preservação da floresta mas não financia projetos econômicos, mesmo sustentáveis, que podem, por sua essência, assegurar a proteção florestal.
Na Amazônia, ou para proteger a Amazônia, a floresta tem que ser tratada como referência política da transição econômicas e da proteção social.
foto: Neil Palmer/CIAT/Flickr
As medidas assinadas pelo governo federal no Dia do Meio Ambiente, por sua componente política, surpreendeu até aos mais céticos com a efetividade operacional da ação pública. Importante, porém, é monitorar as promessas, aplaudir seus eventuais cumprimentos e denunciar possíveis ações negligentes, ou omissões lenientes. Afinal, com as promessas e realizações históricas do atual governo, a opinião pública mundial vai marcar de perto a questão ambiental e a efetividade da proteção florestal. O radar da humanidade para a gestão da Amazônia estará permanentemente ativado, e será impiedoso a quaisquer distrações ou frustrações com o voto de confiança conferido ao pais. A bola do Brasil está sendo jogada na Amazônia.
A proteção do meio ambiente, mais particularmente das florestas, sem dúvida alguma, é o investimento mais valioso, o ativo mais precioso do momento para a brasilidade. Sim, para a brasilidade e para a Humanidade em caixa alta, pois foi seu modelo predatório e consumista o motor das ameaças vitais em curso. O planeta, a não ser por uma explosão simultânea do arsenal atômico, permanecerá. Mas a condição humana, certamente, não. Que motivações adicionais, portanto, precisamos alinhar para a mobilização local, regional e universal a fim de vencermos a batalha do aquecimento global que se impõe como ritual implacável de vida ou de morte, a partir da Amazônia?
Será que nós, que aqui vivemos, estamos atentos à importância crucial de proteção de nossos estoques naturais, sua gestão e relação com a rotina fabril da economia que assegura o custeio principal do tecido social desta região? Como fazer da riqueza aqui produzida o instrumento mais efetivo dessa batalha climática? Como fazer da Amazônia o critério basilar de aplicação da metodologia ESG e suas respectivas modalidades de certificação no âmbito do setor produtivo da Zona Franca de Manaus? Ora, se a roda da economia se movimenta a partir de sua indústria, baseada em compensação fiscal, o desafio é perenizar os acertos dessa economia para a robustez da ecologia e prosperidade do aparato social vulnerável e empobrecido que aqui resiste.
E, neste contexto, é muito promissor o movimento criado no âmbito do CIEAM, Centro da Indústria do Estado do Amazonas, de governança participativa estribada nas conexões sociais e ambientais amazônicos, a Comissão ESG, sob a responsabilidade da conselheira Régia Moreira, até então coordenadora da Ação Social Integrada do setor produtivo da ZFM, 2020-23, mobilizando investidores, gestores e colaboradores do Polo Industrial de Manaus para ajudar no combate aos estragos da COVID-19. As Comissões são um movimento da entidade, mais um, para mobilizar, em âmbito setorial integrado, as questões cotidianas do setor produtivo: Recursos Humanos, Logística, Segurança Jurídica(Tributos), entre outras.
Régia Moreira, Luiz Rocha, Lúcio Oliveira e Maurício Loureiro – ESG CIEAM Foto: Fernando Lemos
A Comissão ESG será transversal e seu objetivo é debater, adensar, avançar e dar robustez a esta sigla, que movimenta as empresas em escala mundial, as mais conscientes da questão socioambiental/climática. Os insumos estão à mão, os ingredientes já fazem parte da rotina cotidiana, o fator humano, social, gerencial e, principalmente, ambiental, sempre esteve no DNA da ZFM desde a primeira hora: integrar a floresta ao país, atribuir-lhe função econômica, para resguardar e gerenciar a sociobiodiversidade amazônica em favor de nossa gente e do Brasil.
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