Manaus, 4 de julho de 2025

Ponto de virada

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Um livro de Malcolm Gladwell, com o titulo “The tipping point” foi publicado nos Estados Unidos e traduzido e editado no Brasil, em 2009, pela editora Sextante, com o titulo “Ponto de virada”, cujo conteúdo mostra como algumas pequenas coisas podem mudar o rumo da história. Uma dessas coisas foi responsável pela reversão da criminalidade em Nova York, em um tempo em que depois do anoitecer, os trabalhadores não ousavam caminhar pelas calçadas, as crianças não andavam de bicicleta e os idosos não se sentavam nos alpendres, nem nos bancos das praças. A causa era o comércio de drogas e as brigas entre gangues, que resultaram, em 1992, em 2.154 assassinatos e 626.183 crimes graves.

A VIDA EM NEW YORK.

Uma coisa pequena diante da enorme e grave realidade conseguiu mudar o estado de terror implantado pela criminalidade e, em cinco anos os assassinatos caíram para 770 e os crimes graves foram reduzidos quase pela metade (355.893). Com isso os trabalhadores, as crianças e os idosos voltaram a fazer parte do cenário e já não se ouvia mais os tiros da guerra entre traficantes. O governo e alguns teóricos tentaram justificar o fato, alegando o envelhecimento da população que resultou no declínio do tráfico, principalmente “crack”, e os economistas associaram a diminuição da criminalidade ao fato de ter havido uma melhoria na situação econômica da cidade. Essas explicações teóricas não convenceram ninguém, pois quem tem muitos neurônios funcionais sabe que as causas apresentadas não conseguem diminuir a criminalidade nem resolver questões de extrema complexidade em um curto prazo.

UMA QUESTÃO.

A questão, portanto, era buscar identificar a causa da significativa diminuição do banditismo, em New York, em um curto período de cinco anos.

O PONTO DE VIRADA.

A causa principal encontrada foi um fato ocorrido em um sábado antes do Natal quando um homem chamado Bernhardt Goetz, entrou no metrô na esquina da Rua 14 com a Sétima Avenida. No vagão havia cerca de 20 pessoas e um jovem se aproximou dele e pediu cinco dólares enquanto um comparsa lhe apontava uma arma. Goetz ficou enfurecido, meteu a mão no bolso, tirou um Smith and Wesson calibre 38 e disparou contra os cinco jovens matou quatro, mas um sobreviveu com um tiro na coluna que o deixou paralítico. Goetz pulou para os trilhos e sumiu na escuridão. A notícia do episódio revelou que os cinco jovens tinham ficha na polícia por vários crimes e por isso Goetz passou a ser visto pela população, como um anjo vingador.

Na véspera do Ano Novo, Goetz se entregou em uma delegacia e uma manchete de jornal, com uma foto sua e outra do criminoso paralítico tinha a seguinte legenda: “Algemado enquanto delinquente fica em liberdade”. No julgamento, algum tempo depois, Goetz foi absolvido e na noite do veredicto houve uma festa na frente do prédio onde morava.

Esse caso se tornou símbolo e emblema da luta contra a epidemia de crimes que a imprensa explorou ao máximo, mostrando a sujeira das estações do metrô, todas pichadas e com o lixo se amontoando no chão. E, então, todos ficaram sabendo que a criminalidade causava um prejuízo anual de US$150 milhões nas bilheterias e no interior dos vagões os delitos somavam 20.000 por ano.

Como na época, ninguém saiu pelas ruas dizendo (educando) o que era certo e o que era errado para as pessoas com distúrbios psicológicos e tendências criminosas, a causa identificada para o abrandamento da criminalidade foi a “teoria das janelas quebradas” segundo a qual se uma janela quebrada permanece assim, é sinal de que ninguém se importa e logo aparecerão outras janelas quebradas por toda parte, pois isso é um convite para o agravamento da situação, pois os fundamentos da epidemia do crime ensina que ele é contagioso. O uso da teoria das janelas quebradas poderia ser uma solução para o Brasil, mas ninguém se importa e os três poderes se negam a ver que a impunidade só faz exacerbar a criminalidade. A revisão das leis, a reforma do judiciário e a moralização dos órgãos de segurança, seriam uma demonstração de que alguém se importa com as janelas quebradas. Um exemplo emblemático talvez fosse o sinal de que aqui as janelas quebradas incomodam a parte da população formada por pessoas de bem.

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