Os pássaros das trevas se dispersam.
o coração retoma os movimentos
das sístoles e diástoles da vida.
Se te magoaram, deixa, que as torrentes
do amor lavam o ser de todo o pranto;
não revides ao medo que ao medroso
revolta, nos labirintos que o prendem
nas cadeias do próprio coração,
aos apelos do amor, indiferente;
nas cadeias da morte, essa megera
que te cerceia os passos, homem livre,
não te deixes ficar; eles te querem,
os déspotas, brandir sobre o teu sonho
os chicotes da injúria com que pensam
calar o coração do ser humano.
*
Calar o coração do ser humano
para que, vis, volúpia e violência
se comprazam no corpo do seu sonho.
A centelha de luz que te ilumina,
caminho para a viagem escolhida,
é sensível aos ventos que te levam
pelos vales da morte impercebida.
Protegê-la é preciso, que te espreitam,
portadores da intriga, os homens rotos
de tanto caminhar, surdos na rota
de si mesmos, sem rumo, cegos, mortos.
A vida se reduz ao dia e à noite,
a conquista do espirito se esquece,
nada sugere os pássaros cantar;
a luz da madrugada se alvorece.
*
A luz da madrugada se alvorece
e se compõe nas águas deste
onde se banha o corpo como a prece
que limpa o nosso espirito das lágrimas
aviltantes, não chora quem não luta,
que outras tiram a lama de nossa alma
como lavam as águas deste rio.
Liberdade de olhar no rosto a face
da verdadeira moeda oferecida;
sob o impulso dos olhos se agasalha
da vida a hipocrisia sem medida.
A luz da madrugada resplandece,
nos largos horizontes se anunciam
oriente rumo rota norte rima
da pedra, sobre a pedra, a casa erguida.