Manaus, 18 de junho de 2025

Raízes da Amazônia Lendas I

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*Wilma Tereza dos Reis Praia

Continuação…

Outras Lendas

O CURUPIRA

Muito comum na Amazônia é o Curupira, descrito como um menino de estatura baixa, cabelos cor de fogo e pés com calcanhares para frente que confundem os caçadores.

O Curupira gosta de sentar-se na sobra das mangueiras para comer mangas. Se perceber que está sendo observado, o Curupira logo sai correndo, e numa velocidade tão grande que a visão humana não consegue acompanhar. “Não adianta correr atrás de um Curupira”, dizem os caboclos, “porque não há quem o alcance”.

O Curupira é um duende defensor das matas e dos animais. Quando vai chover ele balança as árvores para ver se resistirão à tempestade. O Curupira tem os pés virados para trás, olhos vermelhos, cabelos de fogo, unhas azuis e corpo coberto de pêlos. Fica furioso quando os caçadores matam os animais.

Os índios apanharam do Curupira porque estavam caçando os animais e destruindo a floresta. O Curupira gosta de uma boa cachaça, comida e fumo.

Toma conta da mata e dos animais que nela vivem. Anda quase nu e vive no buraco das árvores portadoras de sapopema. Anda a pé e é peludo como uma preguiça real. As unhas são compridas, o calcanhar para frente e os artelhos para trás.

Às vezes ele aparece para aqueles que não têm contato com ele. Com essas pessoas ele brinca, fazendo com que se percam na mata. Os caboclos costumam dar a ele oferenda para que ele lhes deixe pescar ou caçar.

A cada boa pesca ou caça corresponde um ofertório. Se alguém deixa de pagar um dia o curupira o leva e o faz desaparecer nas matas. Cumprindo, o indivíduo fará boas caçadas, boas pescarias e seus roçados produzirão bem.

Ai de quem mata por gosto! fazendo estragos inúteis; de quem persegue e mata as fêmeas, especialmente quando prenhes; de quem estraga os pequeninos ainda novos. Para todos esses o Curupira é um inimigo terrível.

Umas vezes vira-se em caça que nunca pode ser alcançada, mas que nunca desaparece aos olhos do caçador, que, com a esperança de alcançar, deixa-se levar fora do caminho, onde o deixa miseravelmente perdido, com o rastro por onde veio, desmanchando.

Outras, o que é muito pior, o pobre caçador alcança a caça com facilidade, e a flecha vai certeira no flanco da vítima, que cai pouco adiante com grande satisfação do infeliz. Quando chega a ela, porém, em lugar do animal que julgava ter abatido, encontra um amigo, um companheiro, um filho, a sua própria mulher.

Tanto os indígenas moradores do Rio Negro como os do Rio Solimões ou Amazonas e seus afluentes conhecem os contos de caçadores vítimas do Curupira.

O CORAÇÃO DO CURUPIRA

O Curupira é o deus protetor das matas. A floresta e todos os que nela habitam estão sob sua vigilância. Por isso, antes das grandes tempestades, ouve-se bater nos troncos das árvores. É o Curupira, verificando se elas podem resistir ao furacão que se avizinha para, em caso contrário, avisar os moradores da mata o perigo.

Descrevem o Curupira como um menino de cabelos vermelhos, corpo coberto de pêlos e pés voltados para trás. O caçador deve ter a prudência de matar apenas o indispensável às suas necessidades.

Ai de quem mata por gosto, fazendo estragos inúteis; de quem atira em animais que estão para ter crias; de quem despedaça cruelmente os filhotes! Para todos eles o Curupira é um inimigo terrível! Esses caçadores malvados são perseguidos, ludibriados e martirizados pelo pequenino deus.

Quando não morrem, ficam abobalhados para sempre. Nunca mais podem caçar!…

Os índios contam muitas histórias a respeito do Curupira.

Um dia, o Curupira encontrou um caçador que dormia cansado, sob uma árvore. Acordou-o e pediu um pedaço do seu coração para matar sua fome.

O índio, que havia morto um macaco, deu-lhe um pedaço do coração do animal. O Curupira comeu, gostou e pediu o resto. O caçador atendeu ao seu pedido, mas disse:

– Deves, em paga, me dar um pedaço do teu coração.

O Curupira, certo de que o índio lhe havia dado o seu coração, sem nada sofrer, abriu, com uma faca, o próprio peito e caiu logo morto. O caçador, então, fugiu correndo para sua maloca.

Um ano mais tarde, lembrou-se o índio de que o Curupira tinha os dentes verdes. E teve a idéia de fazer com os mesmos um belo colar. Por isso, voltou à mata, procurou e achou o esqueleto do Curupira. E começou a bater o crânio do mesmo de encontro a uma árvore, para ver se os dentes caíam.

Nesse momento, o Curupira ressuscitou. Agradeceu ao caçador por tê-lo desencantado e, para recompensá-lo, deu-lhe uma flecha mágica, com a qual ele seria o chefe de sua tribo. Mas o índio cometeu o erro de contar o segredo e, por isso, caiu morto no chão.

MAPINGUARI

O Mapinguari é um animal semelhante ao homem, porém muito cabeludo e por isso é invulnerável à bala, com exceção da parte correspondente ao umbigo.

A lenda diz que ele é um terrível inimigo do homem, a quem devora somente a cabeça.

Dois seringueiros moravam na mesma barraca perto do mato. Um deles costumava sair todos os domingos para ir caçar. O outro sempre o advertia de que Deus tinha deixado o domingo para se descansar. Ao que o outro respondia:

– Ora, no domingo também se come.

E lá se ia para o mato, onde ficava o dia inteiro.

Por muita insistência sua, o companheiro resolveu fazer uma caçada com ele em certo domingo. Foram, mas perderam-se um do outro. O que não estava habituado a tais empresas andou muito tempo à toa, sem acertar com o caminho e já não sabia mais onde tinha a cabeça, de atarantado.

Então ouviu uns berros medonhos e estranhos, que o encheram de pavor. Subiu mais que depressa numa árvore bem alta e ficou lá em cima sem se mexer para ver o que era aquilo.

Os berros foram se fazendo ouvir cada vez mais perto, até que ele pôde testemunhar um espetáculo horrendo que quase o põe louco de terror.

Um Mapinguari, um enorme macacão peludo, trazia debaixo do braço o seu companheiro de barraca, morto. Com enormes unhas, que mais pareciam garras de onça, arrancava pedaços do pobre homem e metia-os na enorme boca, dizendo em alta voz:

– No domingo também se come.

Continua na próxima edição…

*Wilma Tereza dos Reis Praia, nascida em Manaus, é formada no Curso Técnico de Análise Clínicas pelo Colégio Amazonense D. Pedro II. Trabalhou como funcionária pública na extinta CODEAMA e ministrou aulas particulares para estudantes de nível médio. Atualmente, dedica-se à digitação de artigos acadêmicos e pesquisa sobre povos e lendas da Amazônia. Dessa pesquisa, nasceu sua obra “Raízes da Amazônia – LENDAS DA AMAZÔNIA”, composta por dois volumes, cada um contendo 45 lendas, publicada em 2011.

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