Manaus, 18 de junho de 2025

Raízes da Amazônia Lendas I

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*Wilma Tereza dos Reis Praia

Continuação…

Outras Lendas

DILÚVIO

Quase todas as culturas humanas trazem em sua mitologia alguma história sobre um dilúvio na origem dos tempos, no qual a maior parte da humanidade perece, e uns poucos se salvam.

Nas Américas algumas tribos de índios têm lendas semelhantes em suas histórias, e incrivelmente parecidas umas com as outras.

Os etnólogos e antropólogos acreditam que essas lendas similares podem refletir que elas seriam “invenções” independentes, que simbolizam o renascimento da vida depois da chuva. Ou que elas se originaram a partir de acontecimentos verdadeiros, em um passado distante, que se propagaram por meio da história oral contadas pelos vários povos que migraram para todos os cantos da Terra.

Contam que, antigamente, foi assim que o mundo se acabou.

Uma vez, ouviu-se ruído por cima e por baixo da terra. Dizem que o sol e a lua, como agouro, ficaram vermelhos, azuis e amarelos. A caça misturou-se com as pessoas, sem causar medo, isto é, as onças e todos os animais ferozes vieram conviver com os humanos.

Depois de um mês deste acontecimento, ouviu-se um estrondo ainda maior. Viram então que as trevas iam da terra ao céu, com trovoada e grande chuva, esmigalhando o dia e a noite. Uns se perderam, outros morreram, sem ver por quê; contam que estava tudo muito feio.

As águas então cresceram demasiadamente, e dizem que submergiram a terra, ficando de fora os galhos das grandes árvores. Por aí subiu o povo, mas morreu de fome e de frio, pois choveu o tempo todo e aumentava pavorosamente a escuridão.

Escaparam somente Uaçu e sua mulher Sofará. Quando desceram, não acharam dos outros nem os cadáveres, nem os ossos.

Depois disso, os índios imaginaram: “Será bom, talvez, fazer as nossas casas sobre o rio, para que quando as águas crescerem nós subamos com ele”.

Por isso alguns índios, como os pamaris, por exemplo, moram ainda hoje sobre as águas do rio.

A MULA-SEM-CABEÇA

Burrinha do padre, mula preta, mula-sem-cabeça. A origem da mula-sem-cabeça vem do Brasil colônia. É um mito muito comum em todo o País, variando um pouco de região para região.

A mulher que namora o padre se transforma em mula sem cabeça como castigo e, nas noites de quinta para sexta-feira, ou conforme a lua, de sete em sete anos, a mulher transforma-se e parte em galope desvairado, pisoteando tudo o que encontra pela frente.

Ao retornar à casa, volta à forma natural, porém está machucada, abatida, cheia de escoriações. Mas na noite seguinte, tudo acontece outra vez.

Existem várias maneiras de se quebrar o encanto, conforme a região em que aparece.

Dizem que se uma gotícula de sangue sair de um mínimo arranhado é suficiente para quebrar a maldição, mas isso deve ser feito com um espinho ou outro objeto pontiagudo. Assim a mula se transforma novamente em mulher.

Segundo contam, essa estória começou assim;

Há muito tempo, existia um rei cuja esposa tinha o estranho hábito de passear á noite, pelo cemitério. O rei ficou desconfiado com esse passeio misterioso e resolveu, certa noite, seguir a esposa. Chegando ao cemitério, deparou-se com uma cena horrorosa.

A rainha estava comendo o cadáver de uma criancinha que tinha morrido na véspera. O rei não se conteve e soltou um grito de espanto. Vendo-se descoberta, a rainha deu um grito ainda maior e transformou-se, no mesmo instante, em mula-sem-cabeça.

É assim que alguns sertanejos explicam a origem da primeira mula-sem-cabeça, monstro horrível que persegue os viajantes descuidados. Daí por diante, muitas mulheres de má conduta passaram também a se transformar em mulas-sem-cabeça, nas noites de quinta para sexta-feira. E correm velozes e furiosas, pelas estradas, até o romper da madrugada.

Os cascos afiados da mula-sem-cabeça dão coices cortantes como navalhadas. Os homens e os animais que encontra pela frente são mortos a patadas.

De longe, pode-se ouvir o estrondo do seu galope macabro, ecoando pelo espaço, os seus relinchos furiosos e o ruído de suas dentadas no freio de aço que leva na boca. Mas ninguém consegue ainda ver a sua cabeça, que é invisível aos olhos do homem.

Pela madrugada, ao cantar do galo, a mula-sem-cabeça recolhe-se, cansada, cheia de hematomas das pancadas. Volta então à forma humana. Na sexta-feira seguinte, recomeça a sua jornada maldita. Se nessa ocasião, porém, um homem consegue feri-la, de modo que seu sangue corra, quebra-se o seu encantamento. Mas, para isso, é preciso muita coragem e valentia.

Um caboclo destemido esbarrou, certa vez, com uma mula-sem-cabeça. Não recuou, enfrentou o monstro, e empenhou-se numa luta furiosa e conseguiu, afinal, feri-la com um espinho de limão.

Quebrou-se o encantamento e reapareceu a figura humana. Era uma linda moça. Pertencia a uma das famílias mais ricas do lugar.

Ela ofereceu ao rapaz muito dinheiro para que o caso não fosse contado a ninguém. O caboclo, que não era tolo, recebeu o dinheiro e prometeu ficar calado, e mudou-se para muito longe.

Continua na próxima edição…

*Wilma Tereza dos Reis Praia, nascida em Manaus, é formada no Curso Técnico de Análise Clínicas pelo Colégio Amazonense D. Pedro II. Trabalhou como funcionária pública na extinta CODEAMA e ministrou aulas particulares para estudantes de nível médio. Atualmente, dedica-se à digitação de artigos acadêmicos e pesquisa sobre povos e lendas da Amazônia. Dessa pesquisa, nasceu sua obra “Raízes da Amazônia – LENDAS DA AMAZÔNIA”, composta por dois volumes, cada um contendo 45 lendas, publicada em 2011.

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