
*Wilma Tereza dos Reis Praia
Continuação…
Outras Lendas
PEDRA PINTADA
Qualquer pessoa que passe pela cidade de Itacoatiara vai conhecer um hotel, uma ilha, um lago e um paraná com o nome de Serpa. É viva, na tradição local, a referência “Velha Serpa”.
As naus portuguesas começaram a chegar às costas setentrionais, com missões de combate, estabelecimento de fortificações, relações de amizade com o gentio, comércio, levantamentos cartográficos, reconhecimento de caminhos fluviais, demarcação de limites, etc.
Um ex-seminarista português, Alonso Serpa, estudioso da catequese, tinha suas dúvidas quanto a que a civilização e a catequese fossem convenientes ao índio. Resolveu conferir. Alistou-se como voluntário da Armada, sendo tripulante de uma nau com destino ao Brasil, comandada por Pedro Teixeira, com mais de cem militares, marujos.
Fora das horas da faina marinha os tripulantes podiam jogar cartas ou dados para ‘matar o tempo’. Era punido aquele que perturbasse a disciplina de bordo. Em um jogo de cartas, do qual participava. Alonso, houve uma briga entre dois tripulantes, um lusitano e um espanhol.
O português enfurecido matou um índio amigo do castelhano, que viera em auxílio deste. Todos foram presos e acorrentados por ordem expressa do Capitão e deveriam desembarcar no primeiro ancoradouro.
Desembarcando, mal colocam os pés sobre a terra, os dois marinheiros voltaram a brigar, matando-se um ao outro, sendo seus corpos ali mesmo enterrados.
Exaustos, estendidos sobre a areia quente da enseada, todos caíram num sono profundo. Ao acordar Alonso constatou que seus companheiros tinham desaparecido.
No dia seguinte, ao abrir os olhos, o português viu dois índios diante de si, e ao identificar neles atitudes pacíficas, tenta se comunicar, sendo correspondido por estes. Assim, pega alguns frutos que tinha colhido na floresta e oferece aos selvagens. Um dos silvícolas retira do peito um colar de penas verdes e alcança a Alonso, estabelecendo a comunicação.
Os índios iniciam uma série de gestos, apontando insistentemente para o local de seu acampamento, convidando o para acompanhá-los.
No outro lado do rio, encontrou muita gente, mas não houve excitação maior na tribo, a não ser uma geral demonstração de curiosidade por parte dos índios.
A palavra, que mais ouvia era “cariuá”, o que significa branco, estrangeiro. Os índios o chamariam assim para sempre. Levaram-no ao chefe ou “tuxaua”; tinha merecido o apreço do líder, habilitando-se a desfrutar da hospitalidade do clã.
Alonso ouvia repetir com detalhes a lenda das Amazonas. Com a maior naturalidade os índios se referiam às guerreiras famosas. Achava curioso o fato daqueles guerreiros valentes aceitarem, pacificamente, a autoridade e a liderança daquelas mulheres, às quais denominavam Icamiabas.
Soube que, dentro de alguns dias, um grupo de jovens guerreiros deveria partir para a Serra do Cipó, para o lago Yaciuaruá (Espelho da Lua), a fim de participar com as Icamiabas de uma cerimônia anual, chamada festa do Muiraquitã.
Na festa um pequeno amuleto de pedra verde encarnava toda essa tradição. Desejou ter um, mas afastou a ideia, pelo fato de ser um estranho, um cariuá.
Entretanto, ao ser convidado pelo tuxaua a participar daquela expedição, aceitou o convite e com seus companheiros passou às purificações recomendadas. Dois dias antes do plenilúnio, partem os jovens iniciados, para a festa do Muiraquitã.
Desembarcam em uma praia arenosa, divisam no horizonte as ubás de outros guerreiros, que também chegam para a solenidade. São jovens pariquis, taguaris e paumaris, como eles, tributários das Amazonas.
A noite chega, ao atingirem o alto de uma colina, enxergam um lago de águas resplandecentes. Por todo o perímetro do lago dispunham-se as cunhãs imóveis. Mãos cruzadas, cabeça baixa, deixando cair longos cabelos negros.
A leve brisa que sopra do norte traz o perfume inebriante e cheio de fascínio daquelas mulheres, tão desejadas e temidas. O jovem guerreiro orgulha-se em participar daquele ritual místico, permitido somente a guerreiros do Novo Mundo.
As mulheres iniciam então, graciosa e silenciosamente, uma dança ritmada. Depois, dispersam-se, tomando a resoluta iniciativa de buscar, cada uma delas, o jovem preferido.
Não demorou muito, sorrindo à sua frente, Alonso viu a uma pouca distância a jovem amazona que o escolhera para parceiro. Era uma moça alta, robusta, olhar penetrante e com a tez um pouco mais clara do que esperava, uma beleza de moça, uma verdadeiro “manacá potira” (flor de manacá), como diriam os índios.
Trazia enrolado em sua mão uma maquira, esteira de penas coloridas, que os índios chamam de “tupé”. A índia portava essa peça com muita graça, para atapetar a rústica alcova, disposta em plena natureza. Todos os gestos da índia deixavam no ar um aroma agreste, semelhante ao do jasmim.
Na palidez da noite, destacam-se os olhares desejosos dos jovens e o reflexo da luz da lua na medalha pendurada no pescoço do europeu.
Os jovens trocam olhares, enlaçam as mãos e, na magia daquele cenário de sonhos, abraçam-se, entregando-se ao amor. Uma paixão anônima despertava em seu peito tocada pelo fascínio do cenário e pela beleza da guerreira.
Com ela algo também se passava. Era valente, uma amazona, ninguém conseguira despertar a sua piedade, a sua complacência e, muito menos, o seu amor. Aos homens, só o veneno das flechas! A morte era o seu lema.
A cunhantã sentiu-se abalada e deixou-se dominar pelo coração, tornando-se perdidamente enamorada pelo cariuá peró.
Desejou a continuidade daquele romance embora não permitido para uma amazona. Deveria estar sendo envolvida por um demônio do mundo branco. Não! Seriam, sem dúvida, os caprichos de Rudá, o deus do amor, que se compraz em unir almas irmãs.
Alonso estava loucamente apaixonado pela mulher. Levá-la consigo atrairia a vingança das amazonas sobre os parintintins. Como não poderia levá-la naquela oportunidade, planeja com ela um plano de fuga.
Fazendo uso do nheengatu, fala ao ouvido de sua tapuia que no próximo ano, nesta época, viria buscá-la. Entraria pelo Norte e se dirigiria para o conjunto de malocas onde dormem as velhas que não participam da solenidade. Ela deveria esperá-lo junto à castanheira e trazer ao pescoço a medalha que lhe daria, para facilitar a identificação. Ela deveria deixar uma ubá preparada.
Alonso entrega à índia sua medalha, a icamiaba se lança ao fundo do lago, e volta trazendo uma pedra verde de jade, em forma de delicado batráquio, em seguida entrega-a ao cariua.
A jovem pronúncia na despedida a palavra “caríua”. Os jovens prometem honrar aquele amor, até o próximo encontro.
Os guerreiros partem em suas ubás, remando de volta aos seus domínios no silêncio da madrugada. Pela manhã, um belo sol começa a despontar no horizonte.
As icamiabas retornam às suas atividades normais, os índios regressam tranquilos, indiferentes ao seu novo título de guerreiros juramentados. Enquanto rema, Alonso confirma, para si, o propósito de retornar, a fim de consolidar sua felicidade.
Um ano passa rapidamente, é o mundo da selva a girar mais uma volta de doze luas. Um novo contingente de jovens destinados ao rito do “muiraquitã” conclui seus treinamentos, aguardando a lunação favorável para empreender a viagem.
É a oportunidade marcada por Alonso para resgatar o seu compromisso sentimental. Terá que deixar, para sempre, os seus irmãos selvagens.
O jovem sabe que roubar mesmo para um grande amor, uma índia amazona, é um exemplo contrário à boa norma do uso e dos costumes. Mas, considera sagrada sua promessa de ir buscá-la; vai partir, alegará o desejo de empreender uma viagem para longe, um regresso para o longínquo mundo cariuá.
A nem um homem é permitido participar duas vezes do ritual sagrado do muiraquitã. Por isso, não pode retornar, na qualidade de participante, e não poderia atingir o império icamiaba senão numa ocasião festiva como aquela.
Os jovens noviços consentiram em transportá-lo até um ponto do itinerário. Remam durante um dia e uma noite deixando o cariuá no local combinado, a praia de Matamatá, de onde ele tomaria o seu próprio rumo.
Os guerreiros seguem em frente, Alonso não pode perder um minuto sequer de seu precioso tempo. Dirige-se, para a região de Faro, por um caminho diverso daquele seguido por água pelos jovens guerreiros. Quando a lua-cheia toma a posição que marcava o início do ritual, projeta-se para dentro do baluarte das índias, resoluto e veloz.
Um vulto que corre em seu sentido, percebe um objeto faiscando no peito da tapuia. É a sua amada. Correm um para o outro, sem serem molestados, Alonso escuta a palavra “caríua”, senha que confirma, em definitivo, a autenticidade do reencontro.
Fogem rapidamente, vão para longe, rio acima, em direção oposta ao aldeamento dos parintintins que nunca souberam por que Alonso os deixara. Nunca esqueceram o cariuá. Quando perguntavam diziam: “a mãe do mato levou-o”.
A grande nação amazona jamais entendeu o desaparecimento de sua valente guerreira. Diziam ser obra de Curupira, os maracás em alvoroço soaram durante vários dias a fim de afastar para bem longe a influência do diabo intruso.
Depois de longa viagem, Alonso e a índia desembarcam em um lugar que lhes pareceu oferecer bom abrigo. Constroem seu tapiri junto a um lago cheio de peixes e de pássaros.
Passaram-se dois anos. Um dia, Alonso divisa ao longe, uma frota descendo o rio, é a expedição de Pedro Teixeira que regressa. Cumprira sua missão. Era costume, na tradição náutica lusitana, anistiar um desterrado reencontrado. Num primeiro impacto, Alonso quis acenar o braço, mas desistiu logo do gesto, deixou ir a frota.
Seu mundo estava ali, sua querida cunhã, seu pequeno curumim, primeiro varão descendente de icamiaba a não ser sacrificado. Tinha encontrado sua própria identidade. Sentia fixadas suas raízes humanas. Compreende o destino caprichoso que, parecendo, lançá-lo aos infernos, acabou por levantar-lhe o véu daquele paraíso terrestre.
A frota começa a desaparecer.
Alonso se comove a ponto de desejar fazer reboar seus agradecimentos pelo universo inteiro. Em ação de graças a Deus e às divindades indígenas, levanta a Senhor Supremo, pai de índios e de cariuás, um pensamento sincero e comovido de gratidão.
No exato momento em que um sol de topázio tinge o horizonte líquido, no alto do barranco, conclui, em êxtase, sua sentida oração:
– Muito obrigado, Grande Deus.
– Adeus, esquadra… Adeus, grande Capitão-Mor, Pedro Teixeira, a história, certamente, abrirá um capítulo especial para ti e para a tua esquadra.
– A lenda contará aos pósteros, de geração em geração, a aventura deste teu marujo desterrado.
– A glória vai te esperar. A minha já chegou, ficarei aqui, sou feliz!
– Da mescla do meu sangue com o sangue nativo, crescerá um grande país, verde como a esperança.
– Verde, como as águas do Tapajós…
– Exatamente da cor deste meu muiraquitã…
– Obrigado, também a ti, pai Perudá, deus do amor.
– Adeus para sempre, esquadra …
– Adeus.
A noite cai na selva serena e pura. No dia seguinte, Alonso Serpa, sua índia e seu filho pequeno embicam sua ubá rio acima. Passam a morar mais alguns anos em uma ilha aprazível nascendo-lhes, ali, uma menina de cabelos vermelhos. A jovem mestiça, uma “marabá”, no dizer de sua mãe. Depois disso, nunca mais se ouviu falar em Alonso Serpa e sua família nativa.
Tempos depois, após os primeiros raios de sol, à hora de banho matinal, um casal de índios tivera a atenção despertada para umas rochas do barranco. Ali, junto à linha d’água, talhadas na pedra, havia umas inscrições, nunca antes observadas. As rochas eram contíguas ao barranco, exatamente onde Alonso Serpa tinha feito sua oração e tomado a firme decisão de permanecer nas terras do Novo Mundo.
Logo que se espalha a notícia, começam a chegar guerreiros de todo o lugar para ver as enigmáticas inscrições. Eram de várias nações: barés, muras, abacaxis e pariquis, descidos do médio Uatumã. Fronteira à costa do Varre-Vento, na micro-região do Paraná da Eva, no rio Amazonas, margem esquerda, entre Manaus e Itacoatiara.
Os índios começaram a chamar de “itacoatiaras” àquelas rochas.
Segundo o tupi, o vocábulo quer dizer “pedra arravarta” ou “pintada”. Durante a vazante do rio, qualquer pessoa pode fotografar os referidos e enigmáticos petróglifos.
Dizem os nativos do lugar que todo aquele que pisar a areia e tocar as pedras gravadas fica marupiara.
Em pouco tempo, em torno do lugar, formou-se uma aldeia.
A partir daí, de geração em geração, os habitantes daquela área não mais deixaram de se referir, com orgulho, àquelas rochas, que para eles, imortalizam, no granito, a cena mais comovente presenciada por Tupã nos domínios do vale: a prece de um português apaixonado por uma amazona.
Em 1759, a aldeia desenvolvida foi elevada à categoria de Vila; os portugueses deram-lhe o nome de Serpa.
Em 1874 a Vila recebeu o nome de Itacoatiara que conserva até hoje.
RIO SURUMU
O rio Surumu é um pequeno tributário da margem direita do baixo rio Tacutu, no norte de Roraima, onde o habitat principal é um mosaico de mata e savana com mata de galeria ao longo do rio.
Muita gente vivia em numerosas malocas entre Cantã as Serras Marari e Muiritepê. Um dia combinaram de juntos fazerem uma grande pescaria nos lagos e no rio Surumu.
No dia combinado, colocaram seus utensílios de pesca, arcos e flechas. Pegaram as cumbucas e encheram com iscas e os paneiros de timbó, bananas, mamões, tucumãs, araçás, batatas, milho, carás, beijus e pimentas.
Colocaram aos ombros seus animais domésticos, os seus xerimbabos, e carregaram outros como puderam.
Os homens iam adiante enquanto que as mulheres iam atrás, com panacus pesados de massa para caxiri e paiauaru, com cochos, alguidares e panelas, para os seus vinhos e comidas.
Também levavam tipitis, esteiras, ralos, pilões, jamaxis. Devido estar fazendo muito frio, armaram à margem do Surumu uma casa-redonda. Fizeram lindas pinturas nas paredes, pelo lado de fora.
Ali, ficariam as mulheres moças e as velhas friorentas, e as mulheres que estavam para ter filho.
Nesse tempo havia muito Purauerâ, gente corredeira, que os Iriaã, seus inimigos, extinguiram, espalhando-lhes o sangue e os ossos, desde a Pedra Pintada às locas das Serras Marari e Mambaipuim (Serra do Mel).
O pajé velho acompanhou os corredores e pescadores. Enquanto batiam timbó, faziam tapagens, o Pajé aconselhou que tomassem cuidados, pois naqueles poços andavam dois tucunarés e mais dois outros peixes, seus companheiros, que estão na vadiação, pois eles são encantados.
O pajé disse que eles poderiam pegar e matar todos os peixes, menos esses. Muitos dos homens só bateram timbó, depois que as mulheres e as crianças já se encontravam com os seus puçás e aturás preparados para apanhar o peixe que flutuasse tonto ou morto.
Outros começaram a levantar grandes moquéns, arrumar a lenha que as mulheres e as crianças haviam trazido.
Entretanto, os outros homens queriam flechar os peixes e entrar na água para os pegar ainda vivos. Um dos rapazes, querendo ou não querendo, flechou um dos tucunarés, encantado.
O pajé viu e preocupado foi logo gritando:
– Voltemos! Vamos embora! Estamos perdidos! Os encantados vão se vingar porque um de nós flechou um tucunaré que ia chocar. . . Fujam! Fujam! Todos.
De repente, no meio daquela gente, começou uma chuva forte com relâmpagos e trovões que vinham das serras e rebentavam ali, bem na beira do rio.
De dentro das águas do lago, que era o próprio Surumu, quando ele ainda não era rio, saíram duas onças: Uruturu e Uairirima, que estavam famintas e agitadas.
Começaram a devorar os índios, e os que não eram devorados por elas, eram afogados pelas águas. O vento os jogava no chão e eram empurrados, de um e outro lado, tanto pela chuva como pelo vento.
Atordoados, cegos pela luz dos relâmpagos e surdos pela voz dos trovões, os índios corriam atarantados. E fugindo pelas margens do Surumu acima, eles iam sendo devorados pelas onças.
Vendo que necessitavam de muita mais força para correr ao longo do Surumu, os pescadores foram jogando tudo o que traziam consigo nas águas revoltas do rio Surumu.
Primeiro jogaram a corda para apertar flechas e então esse lugar se transformou numa cachoeira de nome mobisararu.
Logo adiante, jogaram os índios Parauerã; logo apareceu outra cachoeira, de nome Parauerã sararu.
Adiante, um pouco mais, jogaram estacas de madeira darur. Apareceu uma outra cachoeira, de nome Uaradzê-sararu.
Onde se encontrava uma fazenda que os brasileiros chamam Depósito, jogaram bolas de caruru. Aí apareceu a cachoeira de nome uirin-sararu.
Jogaram o tarmin num poço fundo e esse ficou conhecido pelo nome de tarmin-caí.
Mais adiante desse poço os pescadores jogaram a pedra de amolar e apareceu uma cachoeira pequena chamada a Té-icaí-sararu.
Numas pedras, além dessa cachoeirinha, jogaram um papagaio, que deu o nome a uma pancada: a do oroque-sararu. Além dessa pancada jogaram um maço de flechas e nasceu uma cachoeira chamada ereu-sararu ou peleu-sararu.
Na frente da cachoeira jogaram pedras verdes, azuis, amarelas e vermelhas do arco-íris, que deram o nome à laje emerê-merê-tupaí, onde há um poço fundo.
Pegaram os macacos pelos rabos; as onças Uruturu e Uairirima os jogaram num poço menor, que é o iuaicaira-paim. Noutro pocinho, acima desse, jogaram uma estaca de pau d’arco, este ficou conhecido como rurá-paim.
Onde o rio Surumu faz uma curva jogaram uma pedra de isqueiro. Essa curva ficou com o nome de uatquém.
Depois dessa curva as onças encantadas jogaram um jacu que estava na casa-redonda e que o vento ia empurrando à frente deles. O lugar ficou se chamando ocara-paim. Ainda jogaram noutro lugar uma daruana cheinha de peixes, onde se encontra hoje a carumã-sararu.
A casa redonda ia sempre empurrada para a frente pelo vento e pelos índios que fugiam, rio acima. Os pedaços de barro e palha dessa casa iam caindo por ali. As duas onças encantadas apanhavam esses pedaços de barro e de palha e os jogavam no leito do rio Surumu.
Apareceram no meio do rio as pedras do porto Vila Pereira, chamadas Mó-sararu. Num poço, acima dessas pedras, jogaram uma braçada de muçuns, este ficou conhecido como Aramu-paim.
Colocaram o coa-coa n’água e logo apareceu a Coá-coásararu, que é uma cachoeira. Em seguida jogaram uma pedrinha vermelha e lisa, que serve para dar acabamento às panelas de barro. Então apareceu a coimá-sararu ou cuimá-sararu.
Queria jogar num poço profundo a casa redonda, mas como na ponta do esteio estava uma arara, só jogaram alguns araçazinhos. Esse poço se chama canoim-sararu.
A casa redonda continuou sendo empurrada pelo vento em direção das cabeceiras do rio Surumu. Encontraram, num boqueirão, um poço fundo, fundo, fundo, bem fundo e jogaram a casa redonda, deixando a arara na ponta do esteio
O lugar então ficou conhecido como Rarã-Onutã.
Continua na próxima edição…
*Wilma Tereza dos Reis Praia, nascida em Manaus, é formada no Curso Técnico de Análise Clínicas pelo Colégio Amazonense D. Pedro II. Trabalhou como funcionária pública na extinta CODEAMA e ministrou aulas particulares para estudantes de nível médio. Atualmente, dedica-se à digitação de artigos acadêmicos e pesquisa sobre povos e lendas da Amazônia. Dessa pesquisa, nasceu sua obra “Raízes da Amazônia – LENDAS DA AMAZÔNIA”, composta por dois volumes, cada um contendo 45 lendas, publicada em 2011.
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