
*Wilma Tereza dos Reis Praia
Continuação…
Flora
MANDIOCA
De nome científico Manihot, utilíssima, sendo chamada no Brasil de mandioca, aipim, macaxeira, maniva e maniveira, dependendo da região do país, a origem do nome mandioca (manioca) seria de uma lenda Tupinambá sobre a deusa Mani, de pele branca, que encontrou sua morada (oca) na raiz desta planta. Existem diversas espécies da planta, que se dividem em mandioca doce e mandioca brava (ou mandioca amarga), de acordo com a presença de ácido cianídrico (que é venenoso se não for destruído pelo calor do cozimento ou do sol). Algumas regiões usam o nome aipim ou macaxeira para designar a mandioca doce.
No Amazonas, e em partes do Brasil a raiz da mandioca é consumida na forma de farinha, da qual se faz a tapioca, ou em pedaços cozidos ou fritos. Está presente também no preparo de receitas típicas da Amazônia como o tacacá, a maniçoba e o molho tucupi. Dela também se faz bebidas destiladas como o cauim (indígena), assim como o polvilho (fécula de mandioca). Apesar de freqüente em países da África e da Ásia, para onde foi levada pelos colonizadores ibéricos; o hábito de utilizar apenas as folhas da planta para alimentação acontece apenas na região Norte do Brasil.
A farinha de mandioca comumente é preparada a partir da mandioca brava.
CONTA A LENDA:
Mani era uma indiazinha diferente das outras índias. Era branca como o lírio, era também a índia mais bonita que já existiu na terra.
Os índios todos gostavam dela como de um ser sobrenatural, porque um espírito branco apareceu, em sonho, ao chefe da tribo e lhe contou que Mani era um presente de Tupã.
Um dia a indiazinha adoeceu gravemente e nem mesmo o pajé conseguiu curá-la. Mani morreu e uma imensa tristeza tomou conta da tribo inteira.
Os índios enterraram seu corpo num jardim e todos os dias regavam sua sepultura com muitas lágrimas.
Com o passar do tempo, na cova de Mani nasceu e cresceu uma planta desconhecida por todos.
O cacique ordenou que os índios cavassem a terra e, logo, todos viram sair de dentro uma raiz branca muito parecida com o corpo de Mani. Os índios transformaram a mandioca em alimento e comeram, certos de adquirirem, assim, mais vigor para as lutas. Fizeram dele, também, uma bebida e embriagaram-se.
Mani existia ainda que transformada em planta. Mani era um presente sagrado de Tupã.
Os índios cultivaram com carinho o corpo imortal de Mani transformada em alimento ao qual deram o nome de
Manioca, que quer dizer “Pão ou carne de Mani,” que, depois, passou a ser chamada de Mandioca.
MILHO
No Brasil, o cultivo do milho vem desde antes da chegada dos europeus. Os índios, principalmente os guaranis, tinham o cereal como o principal ingrediente de seu cardápio. Com a chegada dos portugueses, o consumo aumentou e novos produtos à base de milho foram incorporados aos hábitos alimentares dos brasileiros.
O plantio de milho na forma ancestral continua a praticar-se na América do Sul, notadamente em regiões pouco desenvolvidas, em um sistema conhecido no Brasil como de roças.
O milho (zea mays L) é uma planta da família das gramíneas. O termo se refere à sua semente, um cereal de altas qualidades nutritivas. É largamente utilizado como alimento humano ou ração animal.
É uma planta de origem americana, uma vez que, no continente americano, era cultivada desde períodos imemoriais, mas desconhecida pela maioria dos europeus até a chegada destes à América. Alimento dos mais nutritivos que existe, é a base da alimentação dos antigos habitantes do México e da América Central, ocupando um lugar importante na sua mitologia e história tradicional.
Conforme suas tradições, a descoberta deste cereal deuse depois da inundação diluvial na Antigüidade e que foi efetuada por Quetzalcoatl, ou por seu irmão Yucateca.
Naquela época os deuses, desejando encontrar algo com que proporcionar a subsistência dos homens, marcharam em busca de alguma planta. Quetzalcoatl chegou ao fim da estação da chuva à montanha Paxil, situada nos limites ocidentais da Guatemala e do Estado de Chiapas, no sudeste do México. Aí encontrou homens carregados de feixes de milho.
O milho, no mundo pré-hispânico, era sustento básico do corpo e também do espírito. A religiosidade dos astecas estava vinculada de várias maneiras com o milho. O caráter sagrado do milho se encontra a cada passo na liturgia dos antigos mexicanos. Em setembro, a festa das sacerdotisas da Mãe do Milho, circunstância que os liga aos peruanos, que também veneram neste mês das mulheres, a deusa Mama Sara. Esta era a época propícia aos casamentos.
A lenda fala de um grande chefe Pareci, nos primeiros tempos da tribo, Ainotarê, sentindo que a morte se aproximava, chamou seu filho Kaleitoê e ordenou-lhe que o enterrasse no meio da roça assim que terminassem os seus dias.
Avisou, porém, que três dias depois da inumação brotaria de sua cova uma planta que, algum tempo depois, rebentaria em sementes. Disse-lhe que não a comesse, mas guardasse-a para a replanta, a tribo ganharia um recurso precioso.
Assim se fez, e apareceu o milho entre eles.
LENDA DO MILHO (TRIBO GUARANI).
Há muitos e muitos anos, os índios viviam muito afastados uns dos outros, cada família devia se cuidar e procurar o sustento na caça ou na pesca.
Dois caçadores viviam juntos e eram os únicos que ajudavam na caça e repartiam o produto dela entre si e suas famílias.
Um dia quando foram pescar, disse um deles:
– Será que “Nhandeyara”, o Grande Espírito, que manda nas aves do céu e nos animais da terra mandaria, para nosso alimento e o de nossos filhos, outra casta de alimentos que fossem mais fáceis de colher? Os frutos silvestres têm sua curta estação, a caça e pesca costumam faltar-nos por vezes e muito mal passaríamos, se as raízes de umas plantas e os grãos das palmeiras não nos servissem de sustento.
Nos campos começaram a escassear os animais. Nos rios e nas lagoas, dificilmente se via a mancha prateada de um peixe. Nas matas já não havia frutas, nem por lá apareciam caças de grande porte: onças, capivaras, antas, veados ou tamanduás. No ar do entardecer, já não se ouvia o chamado dos macucos e dos jacus, pois as fruteiras tinham secado.
Os índios, que ainda não plantavam roças, estavam atravessando um período de penúria. Nas tabas tinha desaparecido a alegria, causada pelo esbanjamento de outros tempos. Suas ocas não eram menos tristes. Os velhos, desconsolados, passavam o dia dormindo na esteira, à espera que Tupã lhes mandasse um porungo de mel. As mulheres formavam roda no terreiro e lamentavam a pobreza em que viviam. Os curumins cochilavam por ali, tristinhos, de barriga vazia. E os varões da tribo, não sabendo mais o que fazer, trocavam pernas pelas matas, onde já não armavam mais laços, mundéus e outras armadilhas. Armá-los para quê? Nos carreiros de caça, o tempo havia desmanchado os rastos, pois eles datavam de outras luas, de outros tempos mais felizes.
E o sofrimento foi tal que, certa vez, numa clareira do bosque, dois índios amigos, da tribo Guarani, resolveram recorrer ao poder de Nhandeyara, o Grande Espírito. Eles bem sabiam que o atendimento do seu pedido estava condicionado a um sacrifício. Mas que fazer? Preferiram arcar com tremendas responsabilidades a verem a sua tribo e seus parentes morrerem de inanição, à míngua de recursos.
Tomaram essa resolução e, a fim de esperar o que desejavam, se estenderam na relva esturricada. Veio a noite. Tudo caiu num pesado silêncio, pois já não havia vozes de seres vivos. De repente, a dois passos de distância, surgiu-lhe pela frente um enviado de Nhandeyara.
– Que desejais do grande espírito? – Perguntou.
– Pedimos nova espécie de alimento, para nutrir a nós mesmos e a nossas famílias, pois a caça, a pesca e as frutas parecem ter desaparecido da terra.
– Está bem, respondeu o emissário. Nhandeyara está disposto a atender ao vosso pedido. Mas, para isso, deveis lutar comigo, até que o mais fraco perca a vida.
Os dois índios aceitaram o ajuste e se atiraram ao emissário do grande espírito. Durante algum tempo só se ouviu o arquejar dos lutadores, o baque dos corpos atirados ao chão, o crepitar da areia solta atirada sobre as ervas próximas. Dali a pouco, o mais fraco dos dois ergueu os braços, apertou a cabeça entre as mãos e rolou na clareira…
Estava morto. O amigo, penalizado, enterrou-o nas proximidades do local.
Na primavera seguinte, como por encanto, na sepultura de Auaty (assim se chamava o índio), brotou uma linda planta de grandes folhas verdes e douradas espigas. Em homenagem a esse índio sacrificado em benefício da tribo, os guaranis deram o nome de Auaty, ao milho, seu novo alimento.
Os nativos daquela terra cultivaram com esmero nas suas pequenas roças o primoroso grão, cuja espiga, ao ser passada de mão em mão, simboliza a união e afetuosa amizade. Todo bom índio não esquece que a abundância que proporciona esse admirável alimento, tanto aos homens como aos animais, provém do sacrifício de um amigo fiel.
Continua na próxima edição…
*Wilma Tereza dos Reis Praia, nascida em Manaus, é formada no Curso Técnico de Análise Clínicas pelo Colégio Amazonense D. Pedro II. Trabalhou como funcionária pública na extinta CODEAMA e ministrou aulas particulares para estudantes de nível médio. Atualmente, dedica-se à digitação de artigos acadêmicos e pesquisa sobre povos e lendas da Amazônia. Dessa pesquisa, nasceu sua obra “Raízes da Amazônia – LENDAS DA AMAZÔNIA”, composta por dois volumes, cada um contendo 45 lendas, publicada em 2011.
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