Passar do Ensino Primário, que hoje corresponde ao Fundamental I, para o Curso Ginasial, agora com o nome de Ensino Fundamental II, exigia aprovação no Exame de Admissão, tipo o Vestibular de hoje para ingresso na Universidade. Terminada a primeira fase de formação, que correspondia a 1º Ano A, depois B e finalmente C, quando se completava a alfabetização, davam-se os anos do 2º ao 5º e, finalmente, podia-se disputar uma das vagas na escola do curso seguinte. Os dois primeiros cursei com a professora Lourdes Mercês e fui autorizado pela Diretora Janete do Rego Barros Serejo a “pular” o 1º ano C, à vista do aproveitamento constatado, passando a ser aluno de Sebastiana Braga, que me conduziu, no Grupo Escolar “Antônio Bittencourt”, ali na Avenida Ayrão, onde funciona a biblioteca da Faculdade de Odontologia da UFAM, até o término do Primário.
Submeti-me a exame de admissão ao Colégio Estadual, ainda sem haver completado 11 anos de idade, e consegui vaga na instituição que rivalizava, em procura, com o Instituto de Educação do Amazonas. O Estadual, assim costumávamos chamar, nasceu como Lyceu Provincial Amazonense, criado por Wilkens de Matos em março de 1869, funcionando seguidamente em diferentes lugares da Cidade, até que em 1881 foi lançada a pedra fundamental do edifício a ser construído na Rua Municipal, no centro da cidade, hoje com o nome de Avenida 7 de Setembro, onde ainda está. Ali o Lyceu passou a chamar-se Gymnasio Amazonense e foi inaugurado em 1886 pelo Presidente da Província Vasconcelos Chaves. Para o novo prédio foi também levada a Escola Normal, que depois se transformaria no Instituto de Educação, e a Diretoria de Instrução Pública, a que hoje corresponde nossa Secretaria de Estado de Educação e Desporto, durante bom tempo denominada de Secretaria de Educação e Cultura e, depois, de Secretaria de Educação e Qualidade do Ensino. Também ali chegaram a funcionar o Arquivo Público, a Biblioteca Pública e o Tiro de Guerra, que era o Comando Militar, além do Grupo Escolar Barão do Rio Branco.
Nos idos de 1925, Alfredo Sá, Interventor Federal, adicionou ao nome da escola homenagem ao segundo Imperador e tivemos o Gymnásio Amazonense Dom Pedro II, o que foi abandonado em 1938, quando voltou à denominação anterior. Em 1943 passou a chamar-se Colégio Estadual do Amazonas, onde ingressei e estudei as duas primeiras séries, sem lograr aprovação na segunda. Foi o governador José Bernardino Lindoso quem, afinal, em 1982, deixou definida a denominação atual, que fora restabelecida por Henoch Reis, em 1975.
A história do Pedro II, em Manaus, é recheada da formação de líderes que, depois da experiência política estudantil, participaram, como prefeitos, vereadores, deputados, senadores e governadores, do desenvolvimento de nosso Estado. Mas nem sempre foi pacífica. Em junho de 1915, os gymnasianos rebelaram-se contra a qualidade do ensino e a Revolta abalou a sociedade, chegando até ao apedrejamento do belo prédio da Sete de Setembro. As aulas ficaram suspensas até março do ano seguinte. Depois, a famosa Revolução Ginasiana que, em 1930, terminou por contribuir para a deposição de Dorval Porto, obrigado a abandonar o Governo, e a tomada, pelos revoltosos, do prédio do Colégio. Matriculado na primeira série, o 6º ano de hoje, assisti a novo movimento revolucionário, com ocupação do prédio e exigência, por seus líderes, dentre eles José Braga, da exoneração do Diretor, professor Manoel Otávio Rodrigues de Sousa, que estabelecera regras disciplinares incompatíveis com a história da Instituição. Alguns professores chegaram a ficar trancados no Colégio, os demais proibidos de entrar, e a revolta só se encerrou quando os que a lideravam foram recebidos pelo Governador Plinio Ramos Coelho, no Palácio Rio Negro, resultando da audiência a nomeação do jovem professor e padre Manoel Bessa Filho, que mantinha com os alunos relação de amizade fraterna, felizmente ainda vivo, juiz de direito aposentado e professor de gerações nos cursos de formação jurídica.
No Colégio Estadual duelavam politicamente duas agremiações: o “Partido X” e o “Partido Progressista Ginasiano”, que se alternavam na direção do Grêmio Estudantal Plácido Serrano e da Associação Atlética, com significativa importância na escolha de dirigentes da União dos Estudantes Secundaristas do Amazonas.
No esporte, o CEA era também respeitado. O campeonato interno de futebol, cujos jogos eram realizados no campo do General Osório, hoje do Colégio Militar do Exército, ali na Avenida Epaminondas, incluía alguns atletas que participavam também dos times do campeonato amazonense, como o Nacional, o Fast Clube e o América. Lembro do “Luís Silva”, time que era comandado pelo Fernando Peres, com o Kid, depois juiz de direito, como goleiro, Mário China na zaga, e por aí vai. Era o mais forte, quase imbatível, mas havia também o time preparado pelo Luís Saraiva, onde João Braga jogava. Assistir às partidas em manhãs de sábado era programa maravilhoso.
Fui aluno de professores considerados, como Mário Ypiranga Monteiro, de Geografia, Antenor Sarmento Pessoa, de Matemática, Agenor Ferreira Lima, de Latim, Manoel
Otávio, de História, Elvira Borges, de Canto Orfeônico, Bethy Antunes de Oliveira, de Trabalhos Manuais, e lá também brilhavam Afonso Celso Maranhão Nina, Raimundo Said, Fueth Paulo Mourão, Otávio Mourão, que depois chegou a Reitor da Universidade Federal e muitos outros que escreveram a história da educação neste Estado. Eram todos muito rigorosos, e na 1ª série havia um estímulo especial: quem chegasse ao final do ano com a melhor média de notas ganhava uma bolsa de estudos para o Colégio Dom Pedro II do Rio de Janeiro. Quando cursei, o contemplado foi Paulo de Tarso, que depois foi aluno do Instituto Rio Branco tornando-se diplomata. Foi aluna do Colégio Estadual Darcley Lopes de Paula, Rainha dos Estudantes eleita em concurso de que participaram outras belas jovens de diferentes colégios, como o Instituto de Educação, o Auxiliadora, Doroteias, Brasileiro, disputa de beleza e graça das mais acirradas. Ali também estudou Terezinha Morango, Miss Amazonas e Miss Brasil.
Reprovado na 2ª série, fui transferido, por decisão materna, para o Instituto de Educação do Amazonas, dirigido pela professora Lila Borges de Sá, que também lecionava Canto Orfeônico, como sua irmã Elvira Borges, onde permaneci até concluir o Curso de Formação de Professores, chamado de Pedagógico por alguns, tendo sido aluno de mestres não menos ilustres como João Chrysóstomo de Oliveira, Aristóteles Comte de Alencar, Garcyitilzo do Lago e Silva, Alfredo Bento da Silva Fernandes,
Orígenes Angelitino Martins, Odaleia Frazão, José Braga, Cleomar dos Anjos Feitosa, Benício Leão, Mirtes Trigueiro, Evanir Herculano Barroso, Lúcio de Siqueira Cavalcanti, Armando Menezes, Neuza Ferreira, que foi também Diretora, e muitos outros que contribuíram, com dedicação singular, para a bela história daquela Casa de ensino. Diplomado, retornei dois anos após para lecionar Literatura Brasileira para alunos do segundo grau, hoje ensino médio, quando tive o prazer de ter Robério como aluno, mas antes havia sido Diretor do Curso Preparatório ao Exame de Admissão, promovido pelo Grêmio Estudantil “Marciano Armond”, aos 16 anos, meus primeiros passos na atividade docente que só se encerraria, na Faculdade de Direito que cheguei a dirigir, 54 anos depois.
No Estadual, o Porteiro era o Henrique, também chefe do pessoal de limpeza e manutenção, morador de casa anexa ao Colégio, no próprio terreno, nos fundos do prédio, e a disciplina ficava a cargo de bedéis muito rigorosos, como o Gordinho, o Análio e o Valter, chefiados pelo Altacir, meu irmão mais velho, o Braguinha que se impunha ao respeito da grande maioria dos estudantes, tendo Wandina Oliveira como Secretária. Já no IEA o porteiro era o Walter, Stella Fernandes a Secretária e Santa, Rosa, Valentina, Santina, dentre outras, Inspetoras de alunos, tomando conta da disciplina.
Não eram menos belas que Darcley de Paula e Terezinha Morango muitas das Normalistas que desfilavam diariamente nos corredores e nas salas de aula de nosso Instituto de Educação.
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