*Rosilene Alves de Lima
Semear. Uma metáfora perfeita para iniciar essa história. O que acontece se uma semente for semeada em solo fértil? E se a semente for um projeto, algumas palavras, um gesto, um sonho? Quando semeamos temos a esperança de que algo irá crescer, florescer e dar frutos. É acreditar que “quem planta colhe”, e quer semear sementes boas para colher bons frutos ou o melhor fruto. Mas, para plantar é necessário preparar o solo, torná-lo propício para receber e acomodar bem as sementes que estão sendo depositadas nesse “berço esplendido”, nem tão úmido, nem tão seco, precisa ser na medida certa. E se esse solo for os jovens estudantes itacoatiarenses, recebendo essas sementes que um dia farão frutificar?
Esse gesto de plantar a semente foi assumido pelo historiador, professor e escritor Dr. Francisco Gomes da Silva, em um ato que teve como espaço o Colégio Nossa Senhora do Rosário, localizado na cidade de Itacoatiara, com mais de 20 anos de missão dedicada a educação de jovens itacoatiarenses, no dia 08 de setembro de 2020, data alusiva em comemoração aos 337 anos de fundação da cidade de Itacoatiara.
Esse gesto só foi possível devido a colaboração e organização dos professores, coordenadores e equipe gestora do colégio que reservaram um lugar mais que especial para se lançar as sementes da História levadas pelo historiador Francisco Gomes.
Uma área verde, com árvores, e uma mangueira de muitos anos que não sabemos precisar, mas que já está nesse lugar há mais de 100 anos. Em tempos de pandemia e do isolamento social devido ao corona vírus, os alunos do colégio Nossa Senhora do Rosário foram conduzidos a esta área verde, onde estavam posicionadas as cadeiras para que todos pudessem se acomodar e ouvir o semeador sonhador.
Estava formado o cenário perfeito para que o Dr. Francisco proferisse sua palestra, ou melhor, lançar suas sementes, pois a história fala, por meio de imagens e palavras, por meio de metáforas e poesias. As sementes trazidas pelo professor Francisco para semear junto aos alunos estavam carregadas de muitas histórias.
História de sua vida, histórias dos povos que ajudaram a fundar a cidade, histórias de pessoas que fizeram ou fazem parte da história de Itacoatiara, entre tantas outras histórias. Nesse caso, “as sementes”, foram as histórias narradas por Dr. Francisco num final de tarde, banhado à luz do sol poente itacoatiarense.
Histórias precisam ser contadas a outras pessoas, ou até para nós mesmos. As experiências, estudos e descobertas foram passadas aos alunos com o intuito de informar e despertar o interesse pela história da cidade. Para capacitá-los a seguir os passos e enveredar pelos mesmos ou quem sabe descobrir novos caminhos que façam Itacoatiara expandir cada vez mais.
Em meio aos jovens alunos, do verde da grama do chão, da mangueira com seus galhos e folhas carregada de frutos que estava ali como testemunha ocular. A atenção para as “histórias sementes” do Dr. Francisco foram tantas que poucos devem ter apreciado o espetáculo preparado pelo sol que iluminou aquele momento. Um presente a mais da natureza para ficar na memória dos que ali estavam.
Os elementos fontes dessa história. Solo fértil, mentes dos alunos e o semeador Dr. Francisco lançando as histórias para serem acomodadas/recebidas pelos alunos, que encontravam-se no lugar. Então, que intensões tinha o semeador? Quais suas crenças ao contar as histórias?
Como cada semente continha uma história e são as histórias que irão afetar, no sentido de afeto os jovens provocando-os a realizar às mudanças necessárias, podemos deduzir que a intenção do semeador foi promover a transformação, o despertar e o interesse dos alunos pela suas histórias de vida e pela história do seu lugar. Foi buscar e proporcionar experiências desafiadoras que poderão ser colhidas no futuro bem próximo e fortalecer a si mesmos e aos outros em sua identidade e sentimento de pertença a cidade de Itacoatiara.
Se você semeia, a magia acontecer. Se levarmos em consideração que nem todas as sementes irão germinar ao mesmo tempo, ou talvez algumas nem germinarão. Pois, a tarefa da semeadura não é fácil, mas vale a pena. Se observarmos as trajetórias de vida e seus variados tempos, compreenderemos que há tempo de plantar, de cuidar, de esperar, de colher e de chorar as sementes que se perderam.
Nesse sentido, a paciência passa a ser amiga do semeador. Aquele que plantou, regou, cuidou. Mas, que entende que esperar é preciso e que o retorno nem sempre é o desejado. Esperar e observar as sementes se transformarem em mudas, até que se tornem uma grande árvore, frondosa, com fortes raízes, com muitos galhos, folhas, com tronco largo, ofertando seus frutos para serem colhidos, assim como a testemunha ocular dessa história, a mangueira do Colégio Nossa Senhora do Rosário.
Os personagens dessa história o semeador na figura do Dr. Francisco, que lançou as suas sementes, contou suas histórias e os alunos os solos férteis que assimilaram os ensinamentos selaram uma missão. Lembrando que, depois de plantadas as sementes não podemos esperar resultados imediatos. Tudo tem seu tempo para acontecer/crescer. O importante é ver como uma oportunidade de continuidade que foi plantada em cada solo. Há possibilidades da história se expandir e frutificar dos gestos e ações futuras de algum aluno. É claro, que necessitará de continuar plantando. De buscar mais semeadores, mais solos férteis para registrar às memórias, contar as histórias, produzir mais mudas e plantá-las na cidade de Itacoatiara e em outros lugares.
As transformações ocorrem se acreditarmos nos sonhos. Se plantar novas sementes hoje, amanhã, depois de amanhã, depois e depois… De criar novas histórias e repetir histórias ancestrais com intuito de construir um jardim com potencial de agregar muitas flores pelo caminho e colhermos os frutos que determinará o lugar de vida para as sementes de Itacoatiara. Portanto, quais sementes você quer plantar? Quais histórias de Itacoatiara você quer contar?
*Rosilene Cassiano Silva Alves de Lima. Professora de escola pública na cidade de Itacoatiara, Amazonas. Mestre em História, especialista em Educação para as Relações Étnicas Raciais e Graduada em História (Licenciatura e Bacharelado) pela UFCG. Tendo participado como pesquisadora técnica no projeto histórico-documental de âmbito nacional, Catálogo Geral de Documentos de História Indígena e Escravidão Negra no Brasil financiado pela Petrobrás Cultural e pesquisadora bolsista de Desenvolvimiento Tecnológico Industrial – DTI/CNPq, no projeto Resgate Documental, História Ambiental e Etnohistória do Semiárido Brasileiro nos períodos Colonial e Imperial, em parceria com o Instituto Nacional do Semiárido (INSA) e a Universidade Federal de Campina Grande – PB. Membro do Núcleo de Inovação Metodológica (NIM/INSA Brasil-Colombia), com experiência para impulsar processos de construção coletiva de conhecimento em convergencia com o método Futureo. Realiza pesquisas com comunidades quilombolas contemporâneos e (Palenques na Colombia); História Visual; Fotografia; Patrimonio Cultural material e imaterial e Salva Guarda Documental.
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