Quando Bruno, meu pai, visitou-me em Manaus
a primeiro de julho,
se pôs a declamar, com muito encanto,
para o grupo de freiras.
Soou o meio-dia:
os sinos do Convento repicaram
e os sinos da igreja de São Geraldo
começaram a tocar também mais fortemente,
enchendo o ar de sons.
Meu pai interrompeu o que contava e falou, enlevado:
“Escutem! Estes sinos estão dialogando,
conversando uns com os outros!
Vamos ouvi-los bem:
o que é que estão dizendo?”
E eu lembrei um poema
em que meu pai falara, há muitos anos,
sobre os sinos da igreja de São João:
“Igreja de Arrabalde”, em Belém do Pará.
Não respondemos nada. Meu pai continuou:
“É que os sinos conversam.
Fala um sino daqui, responde outro dali”.
Uma irmã comentou:
“Poeta, é que hoje é festa – é a festa do Sangue de Jesus!”
E meu pai respondeu:
“Deve ser isso, então”.
A irmã acrescentou:
“Nunca havia pensado em sinos que conversam;
o que disseste tocou-me o coração!”
No outro dia, aquele que sabia ouvir os sinos
Viajaria para escutar os sinos lá no céu.
Obs.: * Poema extraído do livro “Amazônia e o mundo”, lançado pela autora em Belém no dia 21/12/2014.
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