Manaus, 21 de novembro de 2024

Sinos dialogantes

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Quando Bruno, meu pai, visitou-me em Manaus

a primeiro de julho,

se pôs a declamar, com muito encanto,

para o grupo de freiras.

 

Soou o meio-dia:

os sinos do Convento repicaram

e os sinos da igreja de São Geraldo

começaram a tocar também mais fortemente,

enchendo o ar de sons.

 

Meu pai interrompeu o que contava e falou, enlevado:

“Escutem! Estes sinos estão dialogando,

conversando uns com os outros!

Vamos ouvi-los bem:

o que é que estão dizendo?”

 

E eu lembrei um poema

em que meu pai falara, há muitos anos,

sobre os sinos da igreja de São João:

“Igreja de Arrabalde”, em Belém do Pará.

 

Não respondemos nada. Meu pai continuou:

“É que os sinos conversam.

Fala um sino daqui, responde outro dali”.

Uma irmã comentou:

“Poeta, é que hoje é festa – é a festa do Sangue de Jesus!”

 

E meu pai respondeu:

“Deve ser isso, então”.

A irmã acrescentou:

“Nunca havia pensado em sinos que conversam;

o que disseste tocou-me o coração!”

 

No outro dia, aquele que sabia ouvir os sinos

Viajaria para escutar os sinos lá no céu.

 

Obs.: Poema extraído do livro “Amazônia e o mundo”, lançado pela autora em Belém no dia 21/12/2014.

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