Manaus, 28 de novembro de 2023

The Amazon River Steamship Navigation Company (1911) Limited

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Esta foi a nova denominação da Amazon Steamship Navigation, após ser adquirida por Percival Farquar, em 1911. Subvencionada pelo Governo Federal, tinha sede em Belém, escritório, no Rio de Janeiro e sucursal, em Manaus. Possuía, em 1926, 46 vapores, 3 rebocadores, 3 alvarengas tanques, para transporte de óleo, 10 alvarengas  para carga, carvão e reboques, cábrea e diversos pontões, totalizando 14400 toneladas líquidas.

“Serviços frequentes e sem rival, por paquetes espaçosos, com excelentes acomodações para passageiros de 1ª e 3ª classes, com iluminação e ventilação eletricas e frigoríficos. Capricho ao serviço da copa. Asseio absoluto.

Linhas regulares entre o Pará, Manaus, Oiapoque, Pirabas, Iquitos e portos do Baixo Amazonas, Tapajós, Maués, Faro, Negro, Alto e Baixo Juruá, Alto e Baixo Purus, Iaco, Acre, Solimões, Javari, Madeira e toda a região amazonense, mato-grossense e boliviana.

Possuia três estações em Boca do Acre, São Felipe e Hiutanaan, mantendo serviço regular de navegação com vapores de roda à popa e pequeno calado no rio Acre, Iaco, alto Purus, Juruá e Tarauacá. Aceitam-se cargas para o estrangeiro e sul do País, com baldeação em Belém. Cargas tratadas com o maior escrúpulo. Agencias em Porto Velho, Iquitos, Santarém, Óbidos, Parintins e Itacoatiara”.

percival

Percival Farquhar.

PERCIVAL FARQWAR

Percival Farquhar, o seu proprietário, nascera, em York, na Pensilvânia, em 1864. Estudou engenharia em Yale, e mais tarde, graças ao seu prestígio, em Wall Street, tornou-se vice-presidente da Atlantic Coast Electric Railway Co. e da Staten Island Electric Railway Co., que controlavam o serviço de bondes de Nova York. No início do século 20, ocupou os cargos de diretor da Companhia de Eletricidade de Cuba e de vice-presidente da Guatemala Railway, tendo o sonho de controlar o sistema ferroviário latino-americano.

Em 1904, sem nunca ter vindo ao Brasil, comprou a Rio de Janeiro Light & Power Co. e as concessões da Societé Anonyme du Gaz. No ano seguinte, adquiriu, na Alemanha, a pequena empresa a Brasilianische Elektrizitätsgesellschaft, que iria futuramente dar origem à Companhia Telefônica Brasileira. Ainda nesse ano, organizou, em Portland, no Maine, a Bahia Tramway, Light & Power Co. e comprou a concessão da Port of Pará. Em 1906, foi a vez  da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande e, a 02 de agosto de 1907, da concessão para construir e explorar a Madeira-Mamoré Railway Co., com um capital de 11 milhões de dólares, dividido com  duas outras empresas: a Brazil Railway Co. e a Port of Pará, pois nenhum investidor estrangeiro aplicaria valores naquela ferrovia, consumidora de vidas. Com a concessão, tomou posse de milhares de quilômetros quadrados de seringais à beira da linha, uma área maior que muitos países europeus.

O seu interesse por novos negócios continuou e a Brazil Railway Co. assumiu o controle de diversas outras ferrovias nacionais, como a Estrada de Ferro Sorocabana (1910 a 1920), a “Compagnie Auxiliaire des Chémins de Fer au Brésil” (1911 a 1919), depois VFRGS, e a São Paulo-Rio Grande Railway. O truste formado por ele compunha-se ainda de hotéis, no Rio de Janeiro e São Paulo, loteamentos em Santa Catarina e, em 1911, formou a The Amazon River Steamship Co, substituindo a The Amazon Steam Co, na navegação do Amazonas e modernizando a sua frota. Criou ainda a Amazon Development Co. e a Amazon Land & Colonization Co. e iniciou, no Paraná, a exploração madeireira em grande escala, criando a Southern Lumber & Colonization Co. Em 1911, recebeu do Governo brasileiro, como doação, 60.000 quilômetros quadrados de terras, que hoje constituem o território do Amapá. Possuía ainda interesses ferroviários na Bolívia e Chile.

Por essa grande concentração de riqueza era atacado pelas imprensas nacional e internacional, que denominavam seu grupo de “Sindicato Farquhar”.

Com a Primeira Guerra Mundial, o fluxo de investimentos foi reduzido, levando os negócios do Grupo Farquhar a uma situação próxima da bancarrota, quando foi destituído do comando de suas empresas, e substituído por W. Cameron Forbes, ex-Governador das Filipinas.

Percival Farquhar lançou as bases para o início de inúmeros serviços públicos, como gás e iluminação, telefonia, hotelaria, madeireiras e empresas e sistemas aduaneiros, havendo construído algumas obras de grande vulto, como portos, ferrovias, etc…, sendo digno de reconhecimento por parte do Brasil.

Entre as empresas que constituiu, comprou ou dirigiu estavam:

  1. Cia Paulista de Estradas de Ferro, com 38% das ações.
  2. Cia Mogiana de Estradas de Ferro, com 27% das ações.
  3. Estrada de Ferro Sorocabana, de 1910 a 1920
  4. As ferrovias do Rio Grande do Sul (2.100 km)
  5. Estrada de Ferro Paraná
  6. Estrada de Ferro Norte do Paraná
  7. Estrada de Ferro Dª Tereza Cristina, em Santa Catarina
  8. Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande
  9. Compagnie Auxiliaire des Chémins de Fer au Brésil (R.S.)
  10. Serviço de bondes de Salvador
  11. Rio de Janeiro Light and Power Co.
  12. São Paulo Tramway Light and Power Co.
  13. Brasilianische Elektrizitätsgesellschaft (Cia Telefônica Brasileira)
  14. Bahia Gás Co.
  15. Bahia Tramway Light and Power Co.
  16. Cia Française du Port de Rio Grande do Sul
  17. Concessão das obras do Porto de Belém
  18. Concessão para as obras da Estrada de Ferro Madeira Mamoré
  19. Companhia de Navegação do Amazonas
  20. Direitos da E. F. Vitória a Minas
  21. “Compagnie du Port de Rio de Janeiro”
  22. “Southern Lumber and Colonization Co.”, possuidora da maior serraria da América do Sul, na época, e fato gerador da “Guerra do Contestado”, na região Sul do País, com mais de 20.000 perdas humanas.
  23. “Amazon Devellopment Co”.
  24. “Amazon Land and Colonization Co.”.
  25. 67.000 alqueires de fazendas de gado em Descalvado (São Paulo) e no Pantanal
  26. Hotéis no Rio de Janeiro e São Paulo
  27. Loteamentos em Santa Catarina
  28. Indústrias de papel

Com a compra efetuada, em 1911, Percival Farquar, a quem pertencia também a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, renovou a frota da empresa, em plena crise da borracha, demonstrando grande confiança, no futuro da Amazônia.

A alimentação servida a bordo de seus navios primava pela qualidade e pela frequência. Café da manhã, almoço, merenda e jantar, servidos por taifeiros educados. Os pratos feitos com a carne fresca do gado abatido no convés inferior, além do leitão a Pompadour, da pescada assada, das saladas, pudins, sorvetes, saladas de frutas, vinhos e licores,

A sua frota compunha-se dos seguintes navios:

12 GRANDES NAVIOS DE DUPLA HÉLICE (VATICANOS), EM 1914

Navios com 224x45x10,8 pés ou 70x12x3,25m, calado de 5 pés ou 1,5m. capacidade para 100 passageiros em camarotes e 100, na coberta , e mais de 1000 tons de carga, cada um com duas máquinas de 114 NHP (HP nominais) e dois hélices, fabricados na Holanda e denominados de vaticanos.

Os maiores foram o Porto Alegre, o Goyaz e o Florianópolis, com 1401 tbr ou 925 net, todos de 1912, sendo os dois primeiros construídos pelo estaleiro Jonker & Stans, e o último, por GEB Pot. Os demais, tinham 1082 tbr ou 625 net, com as seguintes origens: Distrito Federal, Victória, São Salvador, Fortaleza, construídos pela Jonker & Stans (1912) e  Cuyabá, em 1913; São Luiz e Belém, ambos executados por Boele & Pot, em 1912 e 1913, respectivamente; o Belo Horizonte, de 1912, e o Recife, de 1913, originários dos estaleiros GEB Pot.

TBR        NET        Nº        ANO*

PORTO ALEGRE**        1491      925         104         1930

GOYAZ   **                       1491      925         105         1930

VICTORIA**                    1082     625         106         1962

DIST º FEDERAL           1082     625         107         1962

SÃO SALVADOR            1082     625         108         1947

FORTALEZA                   1082     635         109         1980

CUYABÁ                           1082     625         110         1962

BELÉM  II                        1082     625           96         1962

SÃO LUIZ                         1082     625           95            –

BELO HORIZONTE       1082     625            –           1962

RECIFE***                       1082     625         665           –

FLORIANÓPOLIS**      1491      925         651         1936

* ULTIMO ANO DE NAVEGAÇÃO **VENDIDOS PARA A CIA COMERCIO E NAVEG/ RJ ***VENDIDO PARA A BAHIA

13 PEQUENOS NAVIOS DE RODA DE POPA (CHATINHAS)

Navios de roda de popa, com 115 x 26 x 3,3 pés ou 35 x 8 x 1 m, calado variando de 0,50 a0,97m, conforme a carga. Todos com 160 tbr ou 98net, máquina de 60NHP, 24 passageiros de 1ª classe e 50, de 3ª e 200tons de carga, fabricados pelo estaleiro James Rees & Sons, de Pittsburgh, Pensilvânia, sendo 12 adquiridos, em 1912 e 1913, e 1, em 1916.

ANO   PAROU EM

ARACAJU                        1913      1980

CAMPINAS                      1913      1980

CURITYBA                      1912       1934

ITACOATIARA               1913       1980

NICTHEROY                   1913      1962

ÓBIDOS II                       1912       1934

OLINDA                           1912       1934

PARAHYBA                     1916      1980

PETRÓPOLIS                  1912      1934

SOROCABA                     1913       1980

THEREZINA                   1912       1980

URUGUAIANA              1913        1980

DIAMANTINA               1913        1962

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2 respostas

  1. Excelente postagem. Assistir um documentário chamando Gigantes da Indústria, que fala um pouco da trajetória de PERCIVAL FARQWAR com sua contribuição para o desenvolvimento do Brasil.

  2. Olá! Procuro foto do Vapor Gilberto. Esse vapor fazia a linha Belém/Jari/Xingu, até a Boca do Tucuruí, pequeno afluente do Xingu. Será que alguém pode me ajudar?

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