Manaus, 21 de novembro de 2024

Tia Suzana

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A propósito do trabalho da lavra do jovem professor Salomão Barros, sobre folclore, relato a seguir uma pequena história de Tia Suzana.

Tia Suzana. Boneco gigante de pano e feições femininas. Musa do carnaval e principal atração do cenário folclórico de Itacoatiara. Idealizada pelo autodidata, repentista e poeta Wilson Vital de Mendonça (1916-1960) e criada, em 1953, pelo pescador e carnavalesco João Rosas (1920-2002), o popular João Brinjela, a “Boneca do Jauari”, desde lá vem desfilando à frente de blocos e cordões de rua, ao ritmo de marchinhas, uma delas homenageando às parteiras da cidade. Tradicionalmente o cortejo saía da praça da Matriz, subia a avenida Parque, tomava a rua Nossa Senhora do Rosário, descia a 15 de Novembro, ganhava a Eduardo Ribeiro e em seguida a Conselheiro Ruy Barbosa. Finalmente, depois de ultrapassar o prédio da Prefeitura e ganhar novamente a avenida, retornava à praça principal. Nas duas ou três primeiras décadas, teve apresentação ininterrupta e no pós-1980, de forma esporadica. Nos anos mais recentes tem concorrido com os demais blocos de rua, no Centro de Eventos. Armada, originariamente, em madeira e cipó-d’água, materiais retirados das matas do Jauarí, e cobertura de chitão, sua estrutura interna em 2006 passou a ser de ferro e solda. Seu Idealizador, o segundo filho de Pedro Ludgero de Mendonça Lima e Maria Vital de Lima (dona Santinha), nascido em Urucurituba, foi professor de Datilografia, Inglês e Contabilidade. Casado com dona Inês Pereira de Mendonça (dona Nenén, irmã de Mimi Nicanor), morou no Jauarí onde recebia a todos indistintamente. Era alegre, espirituoso e muito prestativo. Ainda nos dias de hoje são cantados refrões das marchinhas que criou para animar foliões e acompanhantes de Tia Suzana, como este: “Ela é parteira / Põe desmentidura / Coze rasgadura / e trata de tonteira”. Cópias de suas músicas, datilografadas em papel almaço e reproduzidas em carbono, eram distribuídas por toda a população. Por outro lado, o boêmio João Brinjela além de grande dançarino carregava a fama de namorador. Até próximo de sua morte, aos 82 anos de idade, cuidou pessoalmente da famosa boneca – cujo nome parece aludir a uma de suas várias paixões. Dado o elevado peso de Tia Suzana, que incomodava a seus dançarinos, seu interior era recheado de capim. Ficou mais leve depois da reforma que recebeu, cinco anos atrás. Seus primeiros “miolos” (dançarinos que a conduziam) foram os irmãos Jacinto e José Coutinho, filhos do velho comandante fluvial Prudêncio Coutinho, e João Corococó. Tia Suzana atualmente está sob os cuidados da filha mais velha de João Brinjela, a carnavalesca Graciete Rosas Barbosa (30.12.1949). Seu atual e principal dançarino é Jorge de Tal, jovem pescador do bairro do Jauarí. No Carnaval de rua de 2011, a bela e garbosa “Boneca de Pano do Jauarí” desfilou à frente de várias dezenas de foliões, arrancando aplausos de sua apaixonada e fiel torcida. Reza a tradição que “Tia Suzana dá sorte no amor para quem participa de seu bloco, assim como cura dores de cabeça, mau olhado e qualquer outro desconforto que estiver afligindo seus admiradores” (cf. texto do jovem professor Salomão Amazonas Barros/2007).

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