“Mais mulheres nos conselhos de administração significam mais lucidez, mais equilíbrio e mais compromisso com o futuro.”
O Brasil acaba de dar um passo importante – e tardio – rumo à maturidade gerencial e civilizatória. A promulgação da Lei nº 15.177, de 23 de julho de 2025, que estabelece a obrigatoriedade de participação mínima de mulheres nos conselhos de administração das estatais e sociedades empresárias com participação do Estado, é mais que um gesto jurídico. É a consagração de uma ideia justa, inteligente e economicamente estratégica: diversidade não é custo. É ativo.
Não se trata de favor nem de ideologia. Trata-se de reconhecer, com base em evidências, que a presença feminina nas instâncias de decisão melhora a performance organizacional. A consultoria McKinsey, por exemplo, demonstrou em seu estudo “Diversity Wins: How Inclusion Matters” (2020) que empresas com maior diversidade de gênero na liderança executiva têm 25% mais chance de obter lucratividade acima da média.
Outro estudo, do Credit Suisse Research Institute (“The CS Gender 3000”), apontou que empresas com pelo menos uma mulher no conselho de administração superam, em desempenho financeiro, aquelas compostas exclusivamente por homens.
O que a nova lei oferece, portanto, não é concessão, é correção de rota e ampliação da inteligência estratégica. É um ensaio de reparação histórica em um país que sempre exigiu das mulheres dupla jornada, mas raramente as convidou para os espaços centrais do poder.
foto: Priscilla du Preez
O valor singular da perspectiva feminina
Há uma razão para que tantas empresas de alto desempenho no mundo estejam incorporando mais mulheres em seus conselhos: o olhar feminino é, muitas vezes, mais holístico e sistêmico. Essa visão ampla, moldada no gerenciamento simultâneo da vida familiar e profissional em uma sociedade desigual, traz vantagens competitivas reais: maior atenção aos riscos, sensibilidade ao impacto social, foco no longo prazo e capacidade de conciliação.
Essas qualidades foram identificadas em diversos estudos. O Harvard Business Review (2019) mostrou que mulheres líderes tendem a se sair melhor em áreas como integridade, empatia, desenvolvimento de talentos e busca por resultados. A OCDE, por sua vez, reconhece que o aumento da participação feminina na liderança das organizações não apenas eleva a qualidade das decisões, como também fortalece a confiança social nas instituições públicas e privadas.
Liderança é também cuidado
Admitir mulheres na direção das empresas públicas é reconhecer que liderar não é apenas mandar – é saber cuidar. E cuidar, no século XXI, é integrar razão e sensibilidade, lucro e legado, urgência e permanência.
O Brasil, ao editar esta lei, alinha-se, ainda que tardiamente, a um movimento global que já chegou à União Europeia, onde a diretiva de 2022 obriga empresas de capital aberto a garantirem ao menos 40% de mulheres nos conselhos até 2026. Também segue o exemplo de países como França, Noruega e Alemanha, que já registram efeitos positivos dessa política nas suas principais empresas e índices de mercado.
Uma semente de cultura
Como aprendiz do feminismo – e digo isso com orgulho e responsabilidade -, celebro esta conquista como um pequeno mas firme degrau em direção a um país mais justo, mais preparado e mais respeitável. Que esta exigência legal se transforme, com o tempo, em hábito, em cultura, em convicção. Que a presença das mulheres nas esferas de decisão deixe de ser uma cláusula imposta pela norma para se tornar uma premissa da excelência.
Mais mulheres nos conselhos de administração significa mais lucidez, mais equilíbrio e mais compromisso com o futuro. E o futuro, por mais ameaçado que esteja, começa a ser reescrito toda vez que uma porta se abre – e uma mulher entra por ela.
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