Manaus, 21 de novembro de 2024

Uma política pública para o desenvolvimento sustentável nos trópicos úmidos: O estado do Amazonas, um caso ilustrativo Parte VII: Educação ambiental estratégica ao estado do Amazonas TEXTO 13

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Este décimo terceiro artigo da série apresenta as diretrizes gerais do programa de educação ambiental proposto para a política de desenvolvimento sustentável em questão. Como a educação ambiental tem múltiplas articulações com a educação científica e tecnológica, ela será detalhada posteriormente nos artigos 16, 17 e 18. A educação ambiental é uma exigência contemporânea. Ela tem como base material os fundamentos e os mecanismos operacionais da sustentabilidade, num contexto no qual crescem os presságios da morte lenta e contínua da Amazônia com desdobramentos trágicos ainda não totalmente compreendidos. O governo estadual e os gestores responsáveis pelo modelo de desenvolvimento econômico do Estado do Amazonas, centrado majoritariamente na Zona Franca de Manaus, desde a sua criação, não construíram uma estratégia para articular os fundamentos de seus arranjos produtivos à educação científica da juventude amazonense. A principal preocupação foi sempre com os tributos federais recolhidos aos cofres públicos e com os repasses das ‘migalhas’ destes tributos ao estado do Amazonas e aos seus municípios. A importante criação e implantação da Universidade do Estado do Amazonas por Amazonino Mendes, sob a coordenação do Prof. Dr. Lourenço Braga, assim como a sua manutenção e o incipiente apoio à política estadual de turismo, aos pequenos e médios empreendedores, e aos programas educacionais locais representam uma gota d’água no oceano em relação aos lucros usufruídos por meio desta matriz industrial. A incorporação da sustentabilidade ao projeto nacional, econômico e político, põe elementos novos neste cenário amazônico. Reafirma a necessidade do governo federal, em especial o Ministério de Indústria e Comércio e o Ministério da Fazenda do Brasil reverem as suas formas de atuação, apropriação e distribuição dos tributos ao Amazonas. Por que não investir todos os tributos federais recolhidos do setor produtivo do Amazonas em sua sustentabilidade? Especialmente em programas de educação científica e ambiental dirigidos aos trabalhadores e à sua juventude, priorizando também as suas políticas educacionais municipais. O combate às mudanças climáticas e o futuro do Amazonas são muito dependentes do grau de educação formal de seus trabalhadores e de sua juventude. Dependem também da implantação de novas matrizes educacionais articuladas à sustentabilidade da região. Sem a pretensão de esgotar o assunto, nos textos 21, 22, 23 e 24 apresentarei outros projetos estruturantes em ciência e tecnologia estratégicos e necessários à organização da política de desenvolvimento sustentável no Amazonas. Destaco que alguns já se encontram em implantação, ainda que em forma parcial e fragmentada. Vários destes projetos, de natureza acadêmica e com forte articulação com a educação ambiental, foram implantados na Universidade do Estado do Amazonas, UEA, e os demais planejados para execução em outras Secretarias de Estado do Amazonas. A consolidação da política de pesquisa avançada da UEA previa a implantação de 20 mestrados e doutorados acadêmicos interinstitucionais para formar 350 doutores e 400 mestres, durante 2007-2012. Destaque aos seguintes programas: biotecnologia; desenvolvimento sustentável, engenharias elétrico-eletrônica, mecânica, mecatrônica, química, ambiental, naval, transporte, produção, computação e molecular; odontologia, ensino de ciências e matemática, educação, geografia física e humana, antropologia, arqueologia, linguística, direito ambiental, meteorologia e hidrologia, geociências e história. Ressalto que neste período a UEA já contava com o programa de pós-graduação em medicina tropical. Neste mesmo período foi formulada a proposta para a criação da Universidade Intercultural no Amazonas, num projeto compartilhado pela Secretaria de Ciência e Tecnologia e a Secretaria dos Povos Indígenas do Amazonas.

Ressalto, também, a organização do programa de bacharelado em meteorologia na UEA, e a do mestrado e doutorado em “Clima e Ambiente” aprovado e implantado por meio de parceria entre a UEA e o INPA, à época. Seria indelicado da minha parte, não destacar o compromisso e a determinação do Prof. Dr. Antônio Ocimar Manzi, pesquisador do INPA, na organização deste programa doutoral. A UEA tem este débito institucional com o Professor Manzi que atualmente encontra-se sediado no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, São José dos Campos, São Paulo.

A Universidade do Estado do Amazonas iniciou a implantação deste audacioso portfólio de programas doutorais por meio de parcerias acadêmicas com a Universidade de São Paulo, a Universidade Federal do Rio de Janeiro, a Universidade Federal Fluminense, a Universidade de Campinas, a Universidade Federal de Pernambuco, e a Universidade de Brasília. Previa-se a formação pós-graduada de, no mínimo, 500 professores de seu quadro institucional em temáticas vinculadas ao desenvolvimento regional, com impactos nas matrizes produtivas e de ocupabilidade do Estado do Amazonas, em bases sustentáveis. Acompanhei a implantação deste programa na UEA, desde a sua formulação, implantação e execução, até 2010. Inicialmente na condição de Diretor do Centro de Estudos Superiores dos Trópicos Úmidos da UEA, coordenador desta iniciativa acadêmica, e posteriormente como Secretário de Estado de Ciência e Tecnologia do Amazonas.

Este programa contou com o apoio pleno do Reitor Lourenço Braga até 2007, e posteriormente da Reitora Marilene Corrêa da Silva Freitas até 2010, períodos em que os mesmos exerceram, respectivamente, as funções de Reitor e Reitora da UEA. Tiveram, também, os apoios plenos dos governadores Eduardo Braga e, posteriormente, de Omar Aziz.

Os políticos e os governantes estaduais e municipais têm o desafio de criar as condições estruturantes e a logística para o desenvolvimento sustentável do Amazonas. Esta iniciativa é premente e pertinente à atual conjuntura na qual a Amazônia, especialmente o Estado do Amazonas, tem sido colocada como ‘moeda de troca’ às aspirações globais do atual governo brasileiro, em nome das mudanças climáticas. Tema que já apresentei no artigo anterior. Nos artigos 19 e 20 que apresentarão as controvérsias próprias da “Zona Franca de Manaus”, voltarei a analisar esta questão.

Retornando ao foco principal deste texto, o programa de educação ambiental proposto tem como eixo central a formação de recursos humanos, em todas as dimensões da educação para a sustentabilidade. Ele acolherá as demandas diferenciadas dos modelos educacionais, dos novos arranjos produtivos e das matrizes ocupacionais dos municípios amazonenses. Ele compõe-se de dois projetos: “Educação ambiental, inovações e preservação das paisagens no estado do Amazonas”, e “Educação ambiental e plataforma tecnológica de ciências meteorológicas e hidrologia no estado do Amazonas”.

O projeto “Educação ambiental, inovações e preservação das paisagens no estado do Amazonas” propõe ações de educação ambiental, assim como propostas para disseminar e popularizar as ciências e as artes, enfatizando a função e a importância estética de suas paisagens naturais vivas. Ele prevê intervenções estruturais nas matrizes disciplinares do ensino público e privado do Amazonas, em todos os níveis, tendo como referência o paradigma da sustentabilidade situado e globalizado.

Isto exige formar recursos humanos especializados, organizar novos núcleos disciplinares e implantar estruturas laboratoriais integradas. A construção de novas abordagens e linguagens, processos de difusão, instrumentos e práticas de ensino, também, constituem dimensões educativas prioritárias deste projeto. A educação científica articulada às questões ambientais é uma de suas principais exigências.

O projeto “Educação ambiental, plataforma tecnológica de ciências meteorológicas e hidrologia no estado do Amazonas” prevê lançar um programa educativo sobre as mudanças climáticas e o ciclo hidrológico no Amazonas, e revitalizar os cursos universitários em meteorologia tropical e áreas afins. Ele também apoiará a instalação e organização do Centro de Modelagem Meteorológica e Hidrológica do estado do Amazonas. Incentivará a implantação de mecanismos de integração dos processos de previsão climática, assim como dos processos de planejamento, avaliação e gestão da rede hidrológica da Amazônia, privilegiando o estado do Amazonas.

Criará as condições institucionais para a elaboração do programa para inventariar, medir e validar os modelos hidrológicos, e a qualidade e uso socioeconômico da água no Amazonas. Construirá cooperações para implantar inovações que possibilitem integrar as estruturas laboratoriais para supervisionar e avaliar o geoprocessamento ambiental local e regional, gerando novos artefatos e produtos tecnológicos, em bases sustentáveis.

A sua prioridade será integrar os bancos de dados, redes de supervisão e programas de gestão associados às ações de planejamento e modelização social, econômica e ambiental. Implantar redes de colaboração e métodos para viabilizar um sistema de avaliação e de indicadores científicos e tecnológicos da política de mudanças climáticas, também, constitui uma dimensão importante deste programa. Atenção especial será destinada aos projetos de educação ambiental desenvolvidos nas unidades de conservação do estado da Amazonas.

A legitimação deste modelo de desenvolvimento sustentável para o estado do Amazonas exige construir estratégias junto aos poderes instituídos visando garantir as condições técnicas e políticas para a concretização, em todos os níveis, de um programa de intervenção científica e tecnológica consistente e integrado ao mesmo. A municipalização da gestão da ciência e tecnologia no Amazonas constitui um pressuposto técnico que garantirá o sucesso deste empreendimento, em curto prazo. Esta questão será mostrada e analisada nos dois próximos artigos. Para finalizar apresento o poema “Réquiem à Amazônia”.

RÉQUIEM À AMAZÔNIA**

Marcílio de Freitas

Foi Deus que criou o Mundo,
Os céus e a Terra;
Criou os sóis, a luz,
As estrelas e os planetas;

Criou também os rios
E os mares,
Os dias, as noites e os anos,
As faunas e as floras;

Foi Deus que criou a natureza,
Os ventos, as chuvas e os climas,
As estações do ano, os peixes,
Os pássaros e todos os seres vivos;

Foi Deus que criou o Homem,
A Mulher e a serpente,
Criou os cheiros, os gostos,
O prazer e o amor;

Foi Deus que criou o Mundo,
Os Humanos e a Amazônia;

Foi Deus que criou os alimentos,
As religiões e a justiça,
A ciência e a sabedoria,
Criou os Humanos à sua imagem;

Foi Deus que criou a imortalidade,
A esperança e a crença
Dos bem aventurados,
A alegria das crianças;

Abençoou a natureza,
O Homem e a Mulher,
Seus futuros descendentes
E toda sua criação;

Antes de descansar,
Chamou a Mulher de Ama,
O Homem de Zona,
E criou o Jardim do Éden;
Foi Deus,
Foi Deus

Que colocou Ama e Zona
No Jardim do Éden,
Chamou esta natureza
De Amazônia, e rezou
Para que ela se multiplicasse;

Foi Deus que criou o Mundo,
Os Humanos e a Amazônia;

Amazônia que gera vidas;
Mais de 385 povos,
Mais de 2000 rios,
Mais de 15 mil espécies de árvores;

Amazônia, a maior e mais bonita
Floresta do mundo,
Com suas 400 bilhões de árvores;
Protetora da humanidade;

Foi Deus que criou o Mundo,
Os Humanos e a Amazônia;

Vamos rezar
Pela partida e ausência definitiva
De seus invasores,
E para Deus perdoar seus algozes;

Amazônia,
Vamos cantar suas glórias,
Suas virtudes e suas resistências
Aos senhores das guerras,
E aos destruidores da natureza;

Amazônia,
Rainha da sustentabilidade,
Seus algozes descansarão
No mundo das trevas,
Da infelicidade e da maldade eterna;
Amazônia,
Os fogos que te destrói,
Queimando nossos sonhos,
Esperanças e culturas,
Não conseguirão impedir

O nascimento de uma nova Amazônia,
Mais exuberante e generosa
Com os seus povos e a humanidade,
Pluricultural e sustentável;

Foi Deus que criou o Mundo,
Os Humanos e a Amazônia
E expulsou a covid-19
De suas entranhas;

Foi Deus que criou o Mundo,
A Amazônia e o rio Amazonas,
E as suas águas sagradas,
Que irrigam nossos corações.

Amazônia nosso eterno amor.

**Poema de Marcílio de Freitas baseado na “Gênesis – as origens, Bíblia Sagrada”

Manaus, 10 Março de 2022

Publicado no livro “Amazônia nosso tesouro”, Kindle Direct Publishing – Amazon Book, 2022

Manaus, 01 Junho de 2023

Referências: https://www.amazon.com.br/kindle-dbs/entity/author?asin=B0BB3D1DBX

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