Manaus, 1 de dezembro de 2023

Uma política pública para o desenvolvimento sustentável nos trópicos úmidos. Parte Va: Estrutura, design e os programas da política de desenvolvimento sustentável do Amazonas I– TEXTO 10-11/30

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Maio de 2023. O Brasil continua sem um projeto de desenvolvimento econômico e social, consistente e sistêmico, para a Amazônia. Isto vale para todas as instâncias federativas, nacionais, estaduais e até mesmo municipais comprometidas com esta região. Constata-se a incapacidade técnica e política, nacional e regional, na formulação e implantação de propostas de desenvolvimento integradas às complexidades e às potencialidades desta região, em bases sustentáveis. Como já mencionado em texto desta série publicado anteriormente neste Blog, a proposta do padre jesuíta “Tesouro descoberto no máximo rio Amazonas”, escrita no século 18, continua sendo a principal referência sobre o uso, a ocupação e a exploração dos recursos desta região integrando as suas culturas e ecologias. João Daniel foi expurgado da vida social, preso e induzido à morte por suas ideias revolucionárias, à época. Escreveu o seu livro nas masmorras das trevas dos poderes políticos que mantiveram por séculos o processo de colonização lusitana no Brasil, especialmente na Amazônia. Em certa forma, somos herdeiros desta maldição política que insiste em destruir a Amazônia e apagar a memória das experiências bem-sucedidas na região. Nota-se também que a economia regional não tem alcance heurístico para elaborar propostas mais amplas e consistentes para a região. Em geral, os estudos econômicos na Amazônia se encontram reféns de manuais cujos métodos e abordagens não apreendem a complexidade e a importância da região.

Replicam o que já existe e não incorporam as complexidades estruturais e operacionais que movimentam os modelos de desenvolvimento da pós-modernidade. No limite, pode-se dizer que os atuais fundamentos dos modelos de desenvolvimento da Amazônia ainda remetem-se aos vigentes na região, nas décadas dos anos sessenta e setenta. Com o agravante, que neste período este tipo de desenvolvimento já era extemporâneo. A construção de miséria social e de destruição cultural e ecológica continua sendo o seu principal ‘atributo’. O presidente anterior via a região como um campo aberto às milícias e aos aventureiros. Considerava a região de experimentação do capitalismo predatório e de extermínio físico em massa. O atual presidente ainda não se manifestou politicamente sobre uma proposta de desenvolvimento mais sistêmica para a região, e a partir dela. Os governos estaduais continuam reféns das políticas clientelistas e imediatistas que em nada contribuem ao combate da crescente desigualdade social e ao futuro empreendedor de nossa juventude. Os desenvolvimentos dos municípios amazônicos são tragédias políticas que continuam vitimando as nossas juventudes. As universidades amazônicas deveriam implantar e apoiar programas de estudos econômicos mais qualificados e integrados à região. Propor soluções mais sistêmicas, duradouras e substantivas aos problemas regionais.

Há outro agravante. O desconhecimento da juventude, das sociedades amazônicas e do Brasil sobre a grandeza cultural e ecológica da região assim como sobre a sua importância para a humanidade. Neste sentido continuamos reféns dos clichês da grande mídia e do colonialismo científico nacional e internacional. Em seguida, ilustro esta assertiva.

Num passado não muito remoto recebi um telefonema no qual um editor-chefe comunicava que meu manuscrito seria publicado no formato de livro impresso por sua editora. Ainda durante este contato, ele me informou que retiraria o nome Amazônia do título do futuro livro. Após algum momento em silêncio constrangedor, perguntei-lhe: Por quê? Ele imediatamente respondeu: Marcílio, livro com Amazônia no título não vende. Os brasileiros, em especial, a nossa juventude não gosta e não é estimulada a ler sobre a Amazônia. Nossa experiência centenária no mercado editorial comprova esta premissa (disse o editor). Silenciei-me novamente e, em seguida, concordei plenamente com a sua iniciativa editorial, até mesmo por que se tratava de uma editora de natureza privada. A partir desta experiência constatei pessoalmente o total isolamento editorial da Amazônia e a dificuldade em divulga-la aos eleitores brasileiros. Isto colabora para que ela permaneça refém de clichês e de abordagens vulgares, e também de uma perspectiva regionalista que insiste em mantê-la amarrada ao seu passado colonialista e opressor.

Durante os últimos dez anos constatei presencialmente e por meio da literatura especializada, que tem ocorrido mudanças radicais nas políticas públicas e nos modelos de desenvolvimento econômico dos países industrializados. A sustentabilidade foi, definitivamente, incorporada às suas políticas públicas básicas, aos seus programas científicos e tecnológicos e às suas matrizes industriais. Estamos numa fase de transição ao “mundo sustentável”, com novas formas de organização das sociedades e um novo formato econômico e político global. A Amazônia faz parte desta complexidade, ainda não compreendida e absorvida em sua integralidade pelos políticos e gestores públicos e privados brasileiros.

Não há solução mágica. O Brasil não pode ficar refém dos destruidores da natureza, e no outro extremo, da tirania da sustentabilidade do meio ambiente, termo já banido das políticas públicas dos países desenvolvidos. A sustentabilidade plena precisa se materializar por meio de modelos de desenvolvimento alicerçados na economia e na ciência e tecnologia, centrados, simultaneamente, na cultura e na natureza. Numa perspectiva que promova os mecanismos de desenvolvimento limpo e as tecnologias sociais, preservando a vida, humana e ecológica, em todas as suas plenitudes. O Brasil não tem futuro altivo e republicano sem o desenvolvimento sustentável da Amazônia.

Os textos que tenho publicado no Blog coordenado por Francisco Gomes reafirmam à minha insistência em difundir a Amazônia ao público local, regional e nacional. Um esforço em democratizar informações que demonstrem a importância em valorizarmos a “Amazônia nosso tesouro” que ainda tem um futuro muito incerto e polêmico.

Neste sentido, não há modelo econômico simplificado ou de fácil compreensão que possa abarcar todas as suas complexidades culturais e ecológicas. Certamente, a proposta apresentada neste projeto editorial tem muitas lacunas e fragilidades teóricas e empíricas. Entretanto, trata-se de mais uma tentativa em se agrupar e integrar experiências acumuladas em estudos centrados na Amazônia, desenvolvidos na última década, e focados no paradigma da sustentabilidade plena. Uma proposta sobre o desenvolvimento da Amazônia, a partir dela. Numa linguagem técnica adaptada a este formato de difusão científica.

Este décimo artigo apresenta os princípios estruturantes, os programas, os seus mecanismos operacionais e o conjunto de ações que visam implantar e organizar uma política de desenvolvimento sustentável no estado da Amazonas. Sua formulação e organização centram-se na necessidade de integrar as propostas de formação técnica, e incorporar as inovações e os estudos amazônicos já consolidados nesta política pública, possibilitando mais eficácia e agilidade institucional da mesma.

Em mesmo grau de importância, devem-se implantar os programas científicos e tecnológicos, estratégicos à sua institucionalização, e desenvolver metodologias e ações orientadas para a construção de uma matriz de ocupação e de uso dos ecossistemas amazônicos integrada às suas culturas e aos seus ambientes naturais.

Há pressupostos-chave para esta política pública, tais como: uma política fiscal e tributária diferenciada e dirigida aos empreendimentos e aos serviços sustentáveis; a municipalização da ciência e tecnologia articulada às suas politicas públicas interiorizadas, também, em bases sustentáveis; a ressignificação da Zona Franca de Manaus; e as parcerias público-privadas com os marcos regulatórios apropriados.

Os princípios políticos que legitimam a implantação dos programas de cultura, ciência e tecnologia e de formação técnica baseiam-se no poder e no dever constitucional do estado nacional, em propor, organizar, financiar, executar e avaliar as políticas públicas federais segundo os seus respectivos cânones regulatórios e institucionais.

A concepção dos programas estratégicos em cultura, ciência, tecnologia e formação técnica propostos é constituída por um núcleo temático central que articula as relações entre “estado, mercado, sociedade e natureza”, em bases sustentáveis. Com todos os programas no contexto do desenvolvimento sustentável situado e globalizado, simultaneamente. Estas relações são movimentadas por programas que associam: natureza e cultura; territórios e povos; redes meteorológicas, recursos hídricos e promoção social e ambiental; novas tecnologias e processos produtivos nos trópicos; uso e ocupação do solo; clima e gestão integrada de ecossistemas tropicais; educação ambiental e etnociências; sociologia do conhecimento, globalização e educação intercultural; e ciclos biogeoquímicos e serviços ambientais e preservação das paisagens. Todos os programas permeados pelo paradigma da sustentabilidade.

Estas temáticas guiarão a política de desenvolvimento sustentável no Amazonas, gerando inclusão social e políticas públicas compartilhadas, e preservação ecológica, inovação e empreendedorismo. A gestão das finanças e do trabalho, e a institucionalização das plataformas de comunicação e informação complementam o conjunto de elementos-guia desta proposta.

Em forma ampla, o design proposto para a política pública de desenvolvimento sustentável no Amazonas assenta-se na organização dos seguintes programas estruturantes: “Ciências, tecnologias e artes para o desenvolvimento sustentável do estado do Amazonas”, “Cultura, ciências, tecnologias e educação para a inclusão social no estado do Amazonas”, “Desenvolvimento regional e bioindústria no estado do Amazonas”, e, “Gestão integrada do desenvolvimento sustentável no estado do Amazonas”.

Estes programas abarcam diversos subprogramas, vários deles apresentados nos artigos subsequentes. Juntos com os programas que tratam da sustentabilidade das políticas públicas municipais e da ressignificação da Zona Franca de Manaus, formam a base material e simbólica da política de desenvolvimento sustentável do Estado do Amazonas. As políticas públicas municipais sustentáveis e a proposta para ressignificação da Zona Franca de Manaus serão apresentadas posteriormente em artigos específicos. Vários destes programas foram concebidos e organizados pela Profa. Dra. Marilene Corrêa da Silva Freitas durante a implantação da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Amazonas, sob a sua coordenação, na primeira década dos anos 2000. Posteriormente eles foram ampliados e aperfeiçoados durante a minha gestão administrativa nesta mesma secretaria de estado. Outros programas, também, apresentados neste artigo, foram implantados pela Universidade do Estado do Amazonas-UEA durante as gestões do Reitor Lourenço Braga e da Reitora Marilene Corrêa da Silva Freitas, também na primeira década deste século.

O programa “Ciências, tecnologias e artes para o desenvolvimento sustentável do estado do Amazonas” propõe aperfeiçoar a educação científica, expandir as infraestruturas técnicas e científicas que contribuem para o desenvolvimento cultural, social e econômico, e para a sustentabilidade do estado do Amazonas. Ele também propõe apoiar e executar os projetos de difusão e popularização das ciências e das artes; e criar as condições estruturais para formar e capacitar os recursos humanos para planejar e manejar as iniciativas institucionais das ciências, tecnologias e inovações na Amazônia, em especial no Amazonas.

As suas ações se expressam por meio de mecanismos operacionais para apoiar, em forma integrada, a formação de recursos humanos especializados, em todos os níveis, demandada pelas suas políticas públicas, especialmente para os projetos de pesquisa com interfaces com as antropologias e as mudanças climáticas. Em mesmo grau de importância têm-se as ações que visam promover e fortalecer as pesquisas em temáticas estratégicas, tais como: as representações simbólicas, o inventário do patrimônio material e simbólico, os bancos de dados das redes de meteorologia, ciclo hidrológico e recursos hídricos, o uso da terra, as relações entre o clima e os biomas tropicais, a modelagem climática e a interação biosfera-atmosfera.

Isto também se aplica às temáticas socioeconômicas e sociopolíticas dos programas educacionais interdisciplinares, e ao processo de organização, construção e transmissão de novas metodologias e tecnologias associadas à sociologia dos trópicos úmidos e à antropologia das técnicas.

As suas ações se estendem sobre o domínio sociocultural: aos projetos de educação ambiental, à produção de material didático, às iniciativas e à educação artísticas, ao inventário dos bens de interesse histórico e pré-histórico, e ao registro e à guarda dos conhecimentos e das manifestações culturais.

As diversas temáticas deste programa serão integradas e contextualizadas à implantação de tecnologias sociais, conforme as características culturais do estado do Amazonas. A operacionalização de suas metas exige a disponibilização de bolsas de pesquisa, em todos os níveis, desde o estudante de educação básica ao pesquisador sênior, que participem dos programas de educação e de pós-graduação sediados no Amazonas. Destaque aos programas de iniciação científica, especializações, e às equipes orientadas para as temáticas culturais, educativas, artísticas e de produção rural sustentável.

Finalmente, têm-se diversas ações visando integrar os novos estudantes universitários aos estudos sobre sustentabilidade com a oferta de bolsas de pesquisa para trabalhos realizados no “Programa de formação cientifica e tecnológica para as populações dos municípios das áreas ambientais protegidas do estado do Amazonas”. Estas ações também abrangem o “Programa de formação profissional nos territórios culturais”, que se organiza por meio de projetos de pesquisa desenvolvidos nos municípios do Amazonas. Sugere-se que estas ações tenham relações diretas e associadas com os programas governamentais voltados ao combate das desigualdades sociais e ao desmatamento na região.

O segundo Programa estruturante “Cultura, ciências, tecnologias e educação para a inclusão social no estado do Amazonas” desenvolverá ações associadas às culturas, ciências, tecnologias e educação para a promoção do desenvolvimento humano e da cidadania na região. Ele promoverá o acesso ao conhecimento, à inovação, ao empreendedorismo e os seus benefícios por meio da formação profissional, e de projetos de tecnologias sociais. Suas principais metas são o desenvolvimento social e a melhoria da qualidade de vida dos povos amazônicos no contexto da sustentabilidade local e planetária, e sujeitas a processos de avaliação contínua e sistemática.

Este programa compreende seis grandes eixos, em forma de subprogramas:

1- “Ciência e desenvolvimento sustentável”, focado nos programas de iniciação cultural e científica dos jovens, e no apoio às atividades que incorporem elementos antropológicos e inovação tecnológica às cadeias produtivas das unidades de conservação. O seu portfólio também abrange a implantação de plataformas de inclusão digital, e a promoção da difusão e popularização da cultura, das artes, das ciências e tecnologias e da educação ambiental, em parcerias integradas entre o governo do estado, os órgãos municipais e as instituições regionais, públicas e privadas.

2- O subprograma “Jovem pesquisador do Amazonas” que apoiará, disponibilizando recursos financeiros e bolsas, os projetos de pesquisa sediados nos municípios amazonenses e focados nos saberes das representações materiais e simbólicas da região.

3- O subprograma “Ciências e tecnologias para o Amazonas verde”, lançará editais específicos para promover as pesquisas e a implantação de plataformas tecnológicas para os ordenamentos florestais, à piscicultura, ao agronegócio, à energia limpa, ao patrimônio cultural e à educação ambiental, todas em bases sustentáveis.

4- O subprograma “difusão e popularização das ciências e das artes” apresenta diversas dimensões propositivas: apoiar as exposições culturais e artísticas, científicas e tecnológicas; financiar material didático; apoiar a publicação de livros, manuais, e as tecnologias digitais disponíveis. Ele também visa organizar workshops e as semanas anuais das artes, ciências e tecnologias, e apoiar as logísticas de transferência de tecnologias e de outros produtos de natureza artística. Será o principal instrumento institucional para divulgar a importância das artes e das ciências e tecnologias para a sociedade; e do desenvolvimento sustentável amazônico para o Brasil e o Mundo.

5- “Educação ambiental, preservação e conservação das paisagens no Amazonas” apoiará os projetos que articulem cultura, natureza, história, ciência e arte entre si e com a sustentabilidade. Este subprograma terá forte interação com as atividades de ecoturismo no Amazonas.

6- Finalmente, o subprograma “Projeto editorial para o Amazonas sustentável” permeará todos os demais programas e projetos que compõem esta política pública. Terá alcance regional, nacional e global.

O próximo artigo dará continuidade à apresentação dos programas estruturantes da proposta de política de desenvolvimento sustentável do Amazonas.

Uma política pública para o desenvolvimento sustentável nos trópicos úmidos.

Parte Vb: Estrutura, design e os programas da política de desenvolvimento sustentável do Amazonas II – TEXTO 11/30

Este décimo primeiro artigo dá continuidade à apresentação dos programas que compõem a proposta de política para o desenvolvimento sustentável do estado do Amazonas. Conforme mostrado no artigo anterior, os programas propostos organizam-se da seguinte forma: “Ciências, tecnologias e artes para o desenvolvimento sustentável do estado do Amazonas”, “Cultura, ciências, tecnologias e educação para a inclusão social no estado do Amazonas”, “Desenvolvimento regional e bioindústria no estado do Amazonas”, e, “Gestão integrada do desenvolvimento sustentável no estado do Amazonas”.

Estes programas abarcam diversos subprogramas, vários deles apresentados nos artigos subsequentes. Juntos com a proposta de sustentabilidade das políticas públicas dos municípios e a ressignificação da Zona Franca de Manaus, eles formam a base material e simbólica desta política pública. A municipalização da sustentabilidade e o ‘papel’ da Zona Franca de Manaus na política de desenvolvimento sustentável do Estado do Amazonas serão analisados, em ordem, nos artigos 14 e 15, e 19 e 20, respectivamente.

Os programas “Ciências, tecnologias e artes para o desenvolvimento sustentável do estado do Amazonas”, e “Cultura, ciências, tecnologias e educação para a inclusão social no estado do Amazonas” já foram apresentados no artigo anterior. Ressalto que as matrizes desses programas possuem flexibilidades técnicas para acolherem outras iniciativas institucionais emergentes. Este último Programa dá destaque ao conjunto de projetos institucionais que promove culturalmente os povos da região. Em forma original, ele também poderá disponibilizar o apoio científico e logístico à criação da Universidade Intercultural da Amazônia, numa perspectiva multifuncional e multicampi. Uma dívida histórica do estado nacional aos povos originários.

O Programa “Desenvolvimento regional e bioindústria no estado do Amazonas” propõe-se melhorar as capacidades técnicas locais e regionais para produzir, gerir, disseminar e popularizar a cultura e o progresso técnico e educativo no Amazonas, em especial os arranjos produtivos centrados na bioindústria. Ele também estimulará a competitividade econômica e as pesquisas sobre ‘economia e sustentabilidade’. Apoiará os projetos que visam identificar e conservar os recursos genéticos, e desenvolver produtos e processos culturais e biotecnológicos estratégicos à produção do mercado cultural e industrial, agroindustrial e da saúde humana, preservando os ambientes naturais em bases sustentáveis. A física e a química moleculares, a farmacologia, assim como as engenharias genética e de novos materiais terão uma atenção institucional especial neste programa.

Ele abrange vários eixos científicos e tecnológicos que possibilitam aperfeiçoar os arranjos produtivos sustentáveis, inovar as tecnologias apropriadas, e potencializar as inovações na biotecnologia e em produtos culturais e genéticos. Apoiará a implantação de fontes de energia alternativa, e colaborará na instalação de plataformas tecnológicas de tratamento de resíduos sólidos nos municípios e nas unidades de conservação. Potencializará a criação de mecanismos de avaliação dos impactos do uso das terras úmidas, e da recuperação das terras inundáveis e das florestas para fins de produção sustentável.

Destaque às suas ações que propõem valorizar e incorporar inovações aos produtos florestais, apoiar a criação de plataformas tecnológicas de serviços ambientais, especialmente para os ciclos de carbono, nitrogênio, ozônio, fósforo, e água.

Uma de suas dimensões mais importante está associada ao seu compromisso institucional em promover a redução do desmatamento, e revitalizar as práticas agrícolas que contribuam ao melhor uso das terras cultivadas e ao aumento de suas produtividades, em bases sustentáveis. Da mesma forma, ele apoiará a implantação de programas específicos de educação tecnológica, e de formação profissional de nível básico e pós-graduado nas unidades de conservação e nas sedes dos municípios, para atender as exigências das cadeias de produção sustentáveis.

Este programa-guia, também, tem compromissos institucionais em apoiar a implantação de uma plataforma tecnológica para a gestão, uso e preservação da água, especialmente os mecanismos de integração e validação dos modelos hidrológicos regionais, e fomentar os projetos de pesquisas do desenvolvimento de biocombustíveis no Amazonas, especialmente nas comunidades isoladas.

O apoio sistemático à implantação de um polo de bioindústria no Amazonas constitui uma importante dimensão deste programa que, em forma consistente, articulará as tecnologias verdes com a sustentabilidade neste estado. Esta ação é uma iniciativa voltada à implantação da economia verde associada aos mecanismos de desenvolvimento limpo na região. Destaque, também, à integração das estruturas laboratoriais dirigidas às atividades de mensuração, supervisão, avaliação e geoprocessamento ecológico e cultural do Amazonas.

Os programas apresentados exigem uma gestão integrada e em sintonia com as outras políticas públicas. Neste sentido, o programa “Gestão integrada do desenvolvimento sustentável no estado do Amazonas” propõe formular, planificar e gerir os respectivos processos culturais, científicos, tecnológicos e educacionais da política pública proposta neste estudo. Propõe, também, organizar uma plataforma tecnológica para prospectar e supervisionar a política de mudanças climáticas nas unidades de conservação e a educação ambiental no Amazonas.

Suas ações abrangem colaborações na implantação do sistema de avaliação, indicadores culturais e socioeconômicos desta política científica para o desenvolvimento sustentável e as suas relações com a crise climática. Finalmente, os seus compromissos institucionais estendem-se à implantação de metodologias e mecanismos de gestão e integração de informações sobre as dinâmicas sociais e ecológicas no estado do Amazonas.

As parcerias internacionais têm sido importantes para institucionalizar uma política de ciência e tecnologia, em bases sustentáveis, no Amazonas. A cooperação científica germânica por meio do Programa “ATTO Program, Amazon Tall Tower Observatory”, inaugurado em 2015 no estado do Amazonas, com esta política pública será estratégica e certamente um exemplo bem sucedido. Suas contribuições para a compreensão do funcionamento ecológico da Amazônia e dos impactos decorrentes do uso e da ocupação predatórias desta região são incomensuráveis.

O próximo artigo abordará as contribuições do ATTO para a política de mudanças climáticas do Amazonas e do planeta. Para finalizar apresento o poema “Amazônia verde e as chamas da barbárie”.

AMAZÔNIA VERDE E AS CHAMAS DA BARBÁRIE*

A origem da vida é complexa,
Herança de nossos ancestrais remotos,
Segredo indecifrável da ciência
E da Amazônia verde;

Matriz de múltiplas diversidades
Étnicas e ecológicas,
Mergulhadas nas transcendências,
Nas artes do ser e no ser das artes.

Amazônia verde;
Sempre semeando ordem-desordem,
Aprimorando as naturezas,
E aperfeiçoada pelas suas culturas.
Universo de encantamentos e empatias.

Amazônia verde;
Insista em sua jornada civilizatória,
Desafie os incrédulos da natureza,
E, sempre, distribua sustentabilidades.
Generosidades disseminadas ao mundo.

Amazônia verde;
Contrapondo-se ao mercado predatório,
À ganância dos milicianos e aventureiros,
E às transcendências pervertidas;
Signo da resiliência persistente.

Amazônia verde;
Sedenta de proteção iluminista,
Fonte de sabedorias
E de encantamentos contemplativos,
Práxis coletivizada e preservacionista.

Amazônia verde;
As chamas da barbárie,
Aproximam-se te consumindo,
Distribuem angústias e futuros trágicos,
Destroem vidas e diversidades,

Sonhos, esperanças e contradições,
Eliminam parte da história universal;
Geram um mundo desprovido de amor,
E sem transcendência.

Amazônia verde;
Encontra-te sufocada,
Dores e náuseas consomem os seus povos.
Labaredas ferozes destroem as suas criações,
Criam ilusões perversas e duradouras.

Amazônia verde;
Sonolenta e desidratada,
Suas floras e faunas
Suplicam por socorro e misericórdia.
Clamam por justiça ambiental.

Amazônia verde;
Suas lágrimas transbordam
E inundam as atmosferas,
Os ares abafados pelas suas fumaças,
Transmitem doenças e desesperanças.

Amazônia verde;
Rios enegrecidos pelas fuligens,
Aves transportando as suas proles,
Seres aquáticos tristes nas profundezas líquidas,
Povos originários ameaçados pelo ódio.

Amazônia verde;
Visões de apocalipses ecológicas,
Mitos que se elevam aos cosmos,
Em busca de proteção celestial,
E de novas transcendências.

Amazônia verde;
Ciências físicas, químicas e biologias,
Transformadas em cinzas opressoras,
Em lamentos desprovidos de esperanças,
E com as suas resiliências ressignificadas.

Amazônia verde;
Culturas destroçadas pelo fogo do ódio,
Pelo discurso liberal do progresso ilimitado,
E da posse privada irresponsável,
Fontes das mudanças climáticas.

Amazônia verde;
Suas cores estão esvaecendo,
Sibilos e falta de ar se apoderam
De suas entidades físicas e sagradas,
Em processo de regeneração.

Amazônia verde;
Resista, resista,
Estamos chegando,
Desafios e práxis serão recriados,
Germinarão novas simbologias,

Amores e alegrias;
Gerações críticas, livres e vigilantes,
Protegerão os seus povos e as suas naturezas;
Novamente, os movimentos,

Os sons e as comunicações
Serão incorporados às suas águas,
Às suas atmosferas e aos seus mitos,
E em seu universo vivo;

Teias e redes solidárias
Entrelaçar-se-ão na construção
Das suas novas sustentabilidades,
Reféns da preservação ecológica

E do bem estar coletivo.
O sol e os seus povos
Continuarão te iluminando,
E sendo iluminados

Por suas abundâncias e sabedorias.
Combaterão a civilização hedonista,
Em degenerescência transcendental,
E sem propósito espiritual.

Amazônia verde,
Resista e propague os ventos
Das mudanças auspiciosas,
Promotoras do amor
E das esperanças do tempo breve.

Amazônia verde,
Resista,
Amazônia das crianças,
Tesouro da humanidade,
Nosso eterno amor,

Nosso berço sagrado,
E, simultaneamente,
Parte de nosso ser e de nossas transcendências,
Rainha das sustentabilidades.

Manaus, 25 de Agosto de 2022

*Poema publicado no livro “Tributo à Amazônia”, Marcílio de Freitas, KDP–Amazon Book, 22.

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