Manaus, 30 de junho de 2025

Vim de igarité a remo (Ensaios e memória)

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Palavra do presidente: à guisa de prefácio

Robério dos Santos Pereira Braga

O poeta deu-se com a prosa como poucos. Ensaios e memória. Contação de um homem do interior que varou pelos paranás e, chegando à capital, fez-se senhor dos versos. Elson José Bentes Farias, às vésperas do cinquentenário de seu ingresso na Academia Amazonense de Letras, acolhe nossa convocação e oferta importante contributo às edições acadêmicas.

Filho das itaquatiaras, nascido em 1936 e tendo circulado ainda menino por várias localidades do interior, foi conhecendo professoras do beiradão e aproveitando a convivência com os pais e seguiu tomando conhecimento com as letras e os livros até adentrar ao Instituto de Educação do Amazonas, a nossa antiga Escola Normal.

Pouco depois de aportar sua igarité em Manaus, carregada de esperança, foi dar na Praça Heliodoro Balbi e ao encontro do Clube da Madrugada e seus revolucionários, em vivência e aprendizado especiais. Depois, participou da fundação da União Brasileira de Escritores do Amazonas quando o Estado experimentava a administração do governador Arthur Cézar Ferreira Reis, sem trovoadas para a intelectualidade apesar do período de exceção à democracia. Chegou ao Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, mas a pesquisa histórica parece não ter encontrado grande repercussão interior no poeta.

Na poesia é ícone da literatura produzida no Amazonas, desde os primeiros poemas reunidos em Barro Verde (1961), seja em livros, em páginas de jornais e revistas como foi comum durante muitos anos, e tem visto, no cotidiano das universidades, crescer o costume de debater sua obra.

O filho motivou bela coleção de histórias infantis e juvenis a que denominou de Aventuras do Zezé, coleção que se alonga pela floresta amazônica, em viagens pela nossa história, em conversas com os répteis, na dimensão dos quatro elementos da natureza.

Inquieto, embora se apresente de forma mansa e pacífica, quase silenciosa até no andar, Elson estende a produção literária muito além da poesia com a mesma qualidade e fineza. São ensaios, prosa de ficção, discursos acadêmicos e teatro, o que bem justifica estar inserido em antologias estrangeiras, brasileiras e regionais.

Faceta pouco observada de sua vida amadurecida nos anos é o papel que exerceu na Administração Pública, notadamente nos governos Danilo Areosa e José Lindoso. No primeiro, ao assumir a diretoria do departamento de Cultura da então Secretaria de Estado de Educação e Cultura transformou o pequeno setor em Fundação Cultural que era o melhor modelo da época, procurando desenvolver o que anos mais tarde seria denominado de política pública de cultura a qual, finalmente, viria a ser implementada a partir de 1997 com a criação da Secretaria de Cultura, persistindo por quase 21 anos. De sua parte e no seu tempo, fez o melhor, e com êxito.

Vim de igarité a remo trata de pessoas do interior e da capital, fatos e fases da economia, da política, da história, do Santo Daime, da permanência do homem no interior, da interiorização do governo e disserta sobre a importância da criação da Universidade do Estado do Amazonas e o papel que a UEA passou a desempenhar em relação ao interior amazonense. E, como se não bastasse, envereda, sem alardes, analisando Terra Imatura de Alfredo Ladislau, a poesia de Augusto dos Anjos, Álvaro Maia, poesia e vida política, a poesia de Luiz Bacelar, e, falando da Balada da rua da Conceição, fala de saudade.

Mesmo tendo reunido artigos esparsos e antigos, Elson caminha na prosa com a mesma habilidade com a qual produz seus poemas, cuidadoso na linguagem e elegante com as pessoas sobre as quais dedica opiniões.

Metódico, passo firme e compassado, cabelos abençoados pelo tempo, fala mansa, em quem até o sorriso quase nunca é largo, esteve recolhido na Chácara e nos dias de agora debruça os olhos sobre o rio Negro sentindo a brisa fresca a qualquer hora, na varanda de sua residência. Ler os ensaios e memória de Elson Farias, no apanhado de reflexões de várias fases de sua produção, fará bem ao leitor. Editá-lo pela Academia Amazonense de Letras enriquece a coleção do centenário.

Da mesa do editor

Acadêmico José Braga

Com a primazia de ser uma das mais antigas instituições culturais do Amazonas, precedida apenas pela Universidade Livre de Manáos, hoje Ufam (1909), e o Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (1917), a Academia Amazonense de Letras rejubila-se ao celebrar o seu centenário de fundação.

A centelha que clareou a hora germinal benfazeja na manhã primeira de 1918 fez-se luz intensa e atravessou o século, iluminando a selva.

Cento e quarenta e oito espíritos vocacionados para as letras construíram a teia centenária, contributo dos pensares e fazeres nos diversos campos da erudição humana.

Valiosa e expressiva a produção intelectual de nossos escritores, editada em livros e revistas do país e estrangeiras.

No Ano Centenário, novos estudos literários e científicos incorporam-se à Coleção Pensamento Amazônico, séries Violeta Branca e André Araújo, na permanente e sempre inconclusa tarefa de construção do pensamento e das letras sob inspiração e chama do ideário acadêmico.

Saudemos, pois, na celebração da luminosa caminhada, o Saber, o Pensamento, a Vida!

Casa de Adriano Jorge, Ano Centenário.

Nota necessária

Elson Farias

Este livro reúne matéria dedicada a três temas, cultura, educação e literatura, e um motivo, a Amazônia. Em cultura e educação atenho-me à história, a experiência de vida, à emissão de conceitos apreendidos em minhas leituras e a narrativa de fatos retidos na memória, produto da vivência da realidade dos rios e da floresta.

O fenômeno cultural é abordado a partir de fatos observados nos limites de uma das muitas Amazônias, a Amazônia Ocidental. O processo educacional é examinado levando em conta os fundamentos históricos nacionais e regionais, políticas recentes no setor, apreciados tendo como pano de fundo o Estado do Amazonas.

Na Literatura dedico-me ao estudo de noventa e nove por cento de motivos amazônicos, incluindo nesse espaço o poeta, prosador e político Álvaro Maia, e o poeta Luiz Bacellar, embora preste homenagem a Augusto dos Anjos e aos poetas da paixão Olavo Bilac e Vinícius de Moraes. Ocupo-me, ainda, do notável amazônida Alfredo Ladislau e o seu clássico Terra Imatura.

Grande parte dos escritos sobre cultura e literatura aqui reunidos já foi divulgada por diversos meios e formas. O capítulo sobre educação é totalmente inédito.

A origem de todos esses trabalhos, por fim, está explicitada em cada um deles.

Manaus, Praia da Ponta Negra, 24 de maio de 2018.

Continua na próxima edição…

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