“Ao impulsionar a obra e concretizá-la, Eduardo Ribeiro (1892-1896) adotou três conceitos vitais para a época: recursos para embelezar, requintes técnicos e a garantia da segurança”
O principal símbolo da cidade de Manaus tem sua história muito bem contada em obra alentada do professor Mário Ypiranga Monteiro e ostenta o privilégio de ser marco de arquitetura, história, arte e tradição encravado na Amazônia. Ponto de visitação obrigatória e objeto de desejo dos turistas e, principalmente, de artistas de renome internacional que sonham por uma exibição no seu palco muito bem urdido em madeira regional aproveitando sua acústica de referência.
Não pense o leitor que antes do Teatro Amazonas dar início às funções artísticas, em 7 de janeiro de 1897, não havia espetáculos dignos de nota em Manaus. Havia! Boa parte da população ostentava luxo, frequentava os modestos teatros existentes, apreciava companhias internacionais, e, como diziam os cronistas da época, “era público exigente que não se deixava empulhar”, pois não eram pouCos os que conheciam a vida cultural do Rio de Janeiro, Lisboa, Paris, Londres, Roma e Milão.
Não à toa a edificação está posta de frente para o Leste, em respeito ao princípio matemático-climático usado para os teatros grecolatinos, em observância ao sol, para iluminação da cena, abrindo-se para o Largo. Ao impulsionar a obra e concretizá-la, Eduardo Ribeiro (1892-1896) adotou três conceitos vitais para a época: recursos para embelezar, re quintes técnicos e a garantia da segurança.
A fachada que ficou não corresponde à originalmente projetada, suprimidos que foram vários elementos, entre eles um grupo artístico representando Apolo ladeado pela História e pela Fama. Entretanto, estão elementos retirados do vocabulário clássico, com o frontão curvo voltado mais para o barroco, a cúpula com apresentação eclética, além de varandas frontale laterais. As calçadas para caminhar, do entorno, rampas até o alto, são em lajedo chamado Lióz, de Lisboa, chegados em blocos em 1896 e instalados por Joaquim de Souza Ramos. Do piso para veículos, prejudicado ao longo dos anos, restaram poucas peças que estão na parte dos fundos do passeio, e são blocos graníticos de cor preta de origem orgânica heveática como tijolos de asfalto macadamizados.
Os jardins se aproximam dos desenhos de 1950, pela falta de registros anteriores. O frontal contém as estátuas da Música e da Tragé dia. A primeira, com a lira ordenadora de Hermes; a outra, devolvida do Palácio Rio Negro para onde foi levada em 1922, e que, graças a mestre Mário Ypiranga, foi recolocada no lugar em 1990. Outras seis peças fundidas em ferro nos terraços e nos jardins representam musas de arte, sendo que as localizadas nos terraços funcionam como lampadarios. No frontão do Teatro, desenhado por Crispim do Amaral, inspirado no “Opera”, de Paris, há os bustos de grandes personalidades das artes que ali devem ter sido alocados após 1901.
Essa caminhada pelos jardins, pelas calçadas de Lióz, encontrando-se com os arcos da fachada principal, anima o visitante a contemplar o Largo e ver seu piso em pedras, ao modo de Lisboa, com desenho que sugere o encontro das águas e que encantava Álvaro Maia como as pedrinhas de São Sebastião que abençoa o lugar. O piso da antiga Rua José Clemente, do lado contíguo ao Teatro, é original de mais de cem anos, e foi o que sobrou depois do crime do asfaltamento sem que fosse percebido o valor que têm para o ambiente de arte que o Teatro preside, imponente e belo. Esse piso, redescoberto e recuperado com muito trabalho de bons operários, renasceu em 2001-2002, e roga-se que permaneça como testemunho da glória desse lugar mágico e encantador, iluminado pelos cajados de ferro fundido repostos na mesma época, que pedem ajuda ao sol e às estrelas para luzir a grandeza do Teatro Amazonas.
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