Neste dia 21 de novembro a história registra o reconhecimento da Proclamação da República na então Província do Amazonas em razão de notícia expressa chegada de Belém do Pará. A precariedade dos meios de comunicação não permitiu transmissão mais célere. A boa nova aportou no cais do rio Negro a bordo do paquete “Brasileiro” e, de pronto, boa parte da população acorreu à Praça do Palácio para festejos e muitas vivas a República em alto e bom tom.
O jornal “Americano” que circulou nesse dia em Manaus, dirigido por Domingos Theophilo de Carvalho Leal – este sim, republicano dos quatro costados -, manifestava a razão de ser de sua circulação: combater a Monarquia. Aliás, a moribunda monarquia, apesar da figura altamente considerável do imperador.
Logo após a circulação da notícia, os caciques tradicionais da política amazonense oriundos do período imperial pretenderam assumir posições de mando, imiscuindo-se em uma possível junta que passou a ser articulada. O povo reagiu. Contestou em praça pública. Seguiu para o Eden Theatro, lugar tradicional para esse tipo de reunião, e exigiu mudanças: não admitiu a participação de nenhum dos velhos militantes dos partidos do império na formação do novo governo.
Depois disso, a transição de governo para o Tenente Coronel Pereira do Lago, Capitão de Fragata Lopes da Cruz e Dr. Carvalho Leal foi mansa e pacífica, pois o então presidente da Provincia, Manoel Francisco Machado, o barão de Solimões, reconheceu a novidade e cedeu o palácio e as repartições aos novos dirigentes, após breve e eloquente manifestação na intimidade da sede do governo provincial.
As agremiações partidárias existentes – Conservador e Liberal – mescladas de antigas lideranças que se alternavam no poder amazonense conforme a mudança do Gabinete de Ministros e que azedaram presidentes de Província alienígenas desde 1852, rapidamente se converteram ao novo regime. Composta a Junta de Governo Provisório da República liderada pelos chefes das forças da marinha e do exército aqui sediadas e um líder civil tradicionalmente republicano, fórmula adotada em todo o País, no dia 22 de novembro os chefes conservadores aderiram formalmente, naturalmente em busca de assumir posições e manter os privilégios.
Para tanto, criaram o Partido Nacional ao mesmo tempo em que os Liberais passaram a compor o Partido Democrático. Mais do que isso, ato contínuo, o lugar de reunião do Club Republicano do Amazonas, no Largo de São Sebastião, passou a receber inúmeros cidadãos interessados em subscrever o livro de ata para puderem propalar aos quatro cantos da pequena cidade que reconheciam os ideais republicanos. Ora para serem vistos e lembrados para algum cargo; ora para não serem esquecidos e sepultados em vida.
Diverso disso, o barão de Solimões que cedera o poder sem resistências e acomodara-se por alguns dias em silêncio como bom conhecedor dessas marolas temporárias – diferente do que se passou em Belém do Pará -, baixada a poeira, acalmados os ânimos e ajustadas as correntes dominantes, concorreu e foi eleito senador pelo Amazonas para compor a primeira Assembleia Constituinte republicana de 1891 e se manteve em evidência ainda por algum tempo.
Com o afastamento de Carvalho Leal por discordância quanto ao orçamento do Estado, quase simultaneamente com a nomeação de Augusto Ximeno de Villeroy para o governo, deu-se a ascensão de um grupo de militares do Exército muito bem-preparados na escola do Rio de Janeiro e filiados a linha de pensamento de Benjamin Constant Botelho de Magalhães, aqui liderados por Eduardo Ribeiro.
A pacificação política e partidária não viria tão cedo. Mesmo entre os militares havia dissidências, afinal, deodoristas e florianistas viriam a se bater na disputa pelo maior e um dos mais ricos territórios dos estados brasileiros, processando-se verdadeira “dança das cadeiras” palacianas da Praça da República.