
*Aristóteles Comte de Alencar Filho
Os 100 primeiros médicos inscritos no Conselho Regional de Medicina do Estado do Amazonas
Continuação …
Doutor Ney Bahyense de Lacerda, especialista em Epidemiologia, exerceu a Medicina no Estado do Amazonas desde o ano de 1952. Ocupou a função de chefe do Setor Amazonas do Serviço Nacional de Malária, no período de 1952 até 1972. Ocupou a Cadeira n.o 17 da Academia Amazonense de Medicina.
A vida profissional do Doutor Ney Lacerda sempre foi voltada para a Saúde Pública. Em 1946, foi diplomado em Malariologia pelo Departamento Nacional de Saúde do Ministério da Saúde. Em 1958, por seus relevantes serviços recebeu uma Bolsa da Organização Mundial da Saúde para observar os Programas de Erradicação da Malária na Venezuela, Guatemala e México.
Ocupou inúmeros cargos importantes na Secretaria da Saúde do Estado da Bahia. Em 1964, foi designado para responder por tempo indeterminado pelas Chefias das Circunscrições Roraima, Rondônia e Acre do DNER, cumulativamente com a circunscrição do Amazonas. Em 1964, foi efetivado como Médico Sanitarista do Ministério da Saúde, após concurso de títulos. Em diferentes governos ocupou cargos de relevância na área de saúde. Presidiu a Associação Médica do Amazonas e foi Conselheiro do Conselho Regional de Medicina do Amazonas, onde chegou a ser Vice-presidente. Em 1967, participou como membro da Comissão Central da Campanha de Vacinação “Sabin”, contra a Poliomielite Infantil, representando a Circunscrição
Regional do DNER.
Capa Revista Academus, da Academia Amazonense de Medicina de 1.o jun. 1999. Acervo da família.
Doutor Ney Lacerda de paletó branco à direita. Ao centro, de cinza, Dr. Djalma Batista, à direita, atrás do Doutor Djalma está o Dr. Graciliano Muniz. Acervo da família.
Doutor Ney Lacerda publicou dezenas de trabalhos científicos, participou em capítulos de livros e em vários congressos. Foi sócio funda- dor da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. É Patrono da Cadeira n.o 17 da Academia Amazonense de Medicina. Faleceu na cidade de Manaus, em 10 de dezembro de 2008.
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INSCRIÇÃO Nº 37 |
Dr. Dr. Graciliano Muniz | |
Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará, 1947 | |
Nacionalidade: Brasileira | |
Nascimento: 06/08/1920 | |
Filiação: Antônia Ribeiro Muniz
José Muniz de Castro |
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Data de Inscr.: 26/02/1959 |
Doutor Graciliano ocupou o cargo de Diretor Regional do Serviço Especial de Saúde Pública no Amazonas.
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INSCRIÇÃO Nº 38 |
Dr. Dr. Antônio Hosannah da Silva Filho | |
Faculdade de Medicina da Bahia, em 05/12/1935 | |
Nacionalidade: Brasileira | |
Nascimento: 08/12/1909 | |
Filiação: Antônio Hosannah da Silva
Emelina Pinheiro da Silva |
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Data de Inscr.: 05/03/1959 |
Doutor Antônio Hosannah da Silva Filho11 natural do Estado do Amazonas, nasceu no Uará, região do Rio Juruá, no dia 8 de dezembro de 1909, filho do seringalista cearense, Antônio Hosannah da Silva e Enedina Pinheiro da Silva.
Como era comum no passado, eram chamados professores da capital para ensinar os filhos no interior. Assim, junto com os irmãos e primos, as primeiras letras foram cursadas no próprio seringal. Em tempo de obter formação mais aprimorada, seu pai mandou-o para Manaus, interno no Colégio Dom Bosco, onde concluiu seus estudos.
Doutor Antônio Hosannah da Silva Filho11 natural do Estado do Amazonas, nasceu no Uará, região do Rio Juruá, no dia 8 de dezembro de 1909, filho do seringalista cearense, Antônio Hosannah da Silva e Enedina Pinheiro da Silva.
Como era comum no passado, eram chamados professores da capital para ensinar os filhos no interior. Assim, junto com os irmãos e primos, as primeiras letras foram cursadas no próprio seringal. Em tempo de obter formação mais aprimorada, seu pai mandou-o para Manaus, interno no Colégio Dom Bosco, onde concluiu seus estudos.
Tendo decidido cursar Medicina, ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia, formando-se em 1935.
Durante o curso, já vinha ocorrendo a queda da produção da borracha, forçando seu pai a pedir seu retorno ao Amazonas, entretanto, já no quinto ano do curso, preferiu conclui-lo, com certo esforço, pois os recursos que seu pai enviava passaram a ser escassos. Portanto, os dois últimos anos foram anos de muito trabalho e estudos.
Voltando a Manaus, após a conclusão do Curso de Medicina, abriu consultório no Bairro de São Raimundo, decisão que não deu muito certo. Foi-lhe oferecido, assim que aqui chegou, trabalho na Polícia Civil, como Médico Legista, o primeiro emprego em Manaus a que ele permaneceu fiel até os anos finais de sua vida.
Nesse tempo, era chefe do serviço de Medicina Legal o Dr. Ângelo D’Urso, que foi seu compadre, padrinho do seu segundo filho, Antônio José, que, infelizmente faleceu com seis meses de idade.
Mais tarde, no exercício da Medicina, ingressou para o quadro Médico da Polícia Militar do Estado do Amazonas, reformando-se com a patente de Coronel Médico.
Nas décadas de 40 e 50 do século XX era comum haver consultório médico ao lado das Farmácias, foi, então, convidado a abrir consultório na Farmácia Nunes, à Rua Henrique Martins, cujo proprietário era seu compadre, o Farmacêutico Altair Severiano Nunes.
Depois passou a atender, juntamente com o Dr. Wilson Calmon, no Edifício da antiga loja “Dragão dos Tecidos”, na Avenida Eduardo Ribeiro. Teve consultório até os 80 anos de idade.
Foi médico da Legião Brasileira de Assistência (LBA) durante muitos anos e até seu Diretor Médico no Amazonas. Todas as sema- nas, aos sábados, clinicava no Careiro da Várzea. Mesmo na posição de Diretor, nunca deixou de atender seus pacientes no Careiro.
Foi médico também do antigo Instituto de Aposentadoria e Previdência dos Marítimos. Quando houve a unificação desses Institutos no INPS, optou por deixar a Legião Brasileira de Assistência, mesmo assim, continuou a atender pacientes na LBA por muito tempo.
Turma de Medicina do Dr. Antônio Hosannah. Acervo da família.
Doutor Antônio Hosannah, entre os Oficiais Médicos da Polícia Militar do Amazonas, Aristóteles Alencar e Isaac Dahan, em solenidade do Serviço de Saúde, abr. 1993. Acervo do autor.
Dr. Hosannah foi Médico e Diretor Clínico da Beneficente Portuguesa durante anos, recebendo o título de Sócio Honorário dessa Sociedade.
Dignificou sua profissão, encarando-a como um verdadeiro sacerdócio, seja em sua capacidade profissional, seja em sua honestidade, seja como trabalhador, atendendo a qualquer hora, seja recusando receber os honorários pelo seu atendimento médico. Muitas pessoas ouviram-no dizer: “como pedir pagamento por um dom que Deus me deu e permitiu me qualificar legalmente?”
Entre suas histórias guardadas por amigos e suas filhas, eis o relato de uma conversa particular. Uma de suas filhas foi buscá-lo no prédio da hoje Policlínica Gilberto Mestrinho e teve que esperar muito tempo. Quando o Dr. Hosannah se desocupou sua filha perguntou: “O número de pacientes que os outros médicos atendem é entre 12 e 13, por que o senhor atendeu hoje 25?”. Resposta do seu pai: “Filha, desses 25, somente 6 a 8 precisam mesmo de atendimento clínico, precisam de prescrição de medicamento ou exames, os outros querem ser ouvidos, querem se queixar da vida e sentem-se calmos após conversar, a ponto de virem semana sim, semana não à clínica e eu tenho paciência em escutá-los”. Eis uma das dimensões desse grande coração.
Quando Dr. Zeno Lanzini, de saudosa memória, perguntou em uma entrevista qual o conselho que ele daria aos jovens médicos, Dr. Hosannah respondeu mais ou menos assim: “Não tenham vergonha de perguntar aos colegas, quando em dúvida, sobre a correção do seu diagnóstico. Até mesmo tendo certeza do diagnóstico, converse com os colegas e acreditem, sob o rigor de uma análise científica, na experiência dos antigos”.
Dr. Hosannah faleceu no dia 27 de julho de 1996, deixando viúva a Senhora Maria Dagmar Corrêa Hosannah da Silva; três filhas: Maria Enedina, Maria José e Maria Matilde e dois netos: Jorge Antônio (já falecido) e Mônica Regina, Médica Cardiologista.
Foi pacífico, competente, probo, humilde e generoso.
São palavras da Dra. Elisabeth Azevedo à Revista “Arquivos” da Sociedade Brasileira de Medicina Legal: “Ele foi um grande ser humano”.
Doutor Hosannah foi membro da Associação Médica do Amazonas e Conselheiro do CRM-AM.
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11 Texto fornecido por sua neta, médica cardiologista Doutora Mônica Regina Hosannah. Transcrito na íntegra para que se possa aquilatar a riqueza de vida pessoal e profissional desse verdadeiro herói da Medicina amazonense contemporânea.
Continua na próxima edição…
*Médico cardiologista formado na Universidade do Amazonas. Doutor em Cardiologia pela Fac. Medicina da UNESP/ Botucatu. Fellow da Sociedade Europeia de Cardiologia. Membro da Academia Amazonense de Medicina e da Academia Amazonense de Letras, da qual é o atual presidente.
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