
*Aristóteles Comte de Alencar Filho
Os 100 primeiros médicos inscritos no Conselho Regional de Medicina do Estado do Amazonas
Continuação …
ACADEMIA AMAZONENSE DE MEDICINA
Outra instituição que não poderia deixar de ser citada nesta revisão histórica, é a Academia Amazonense de Medicina, por sua importância em reunir diversas gerações de médicos que trabalharam ou trabalham no Estado do Amazonas. Os dados a seguir foram obtidos nos exemplares da Revista Academus, que é a publicação oficial da Academia, dos anos de 1999 e 2000, do acervo do autor. [13, 14]
Na segunda metade dos anos 1950, Dr. Leopoldo Krichanã da Silva (17.03.1918-20.12.2001), e um grupo de colegas tentaram criar a entidade que tinha como objetivo congregar profissionais, que servissem de exemplo aos jovens médicos assim como criar um fórum da área da medicina, com temas médicos mais universalizados por suas abrangências biopsicossociais, além de conteúdos filosóficos. A iniciativa não logrou êxito.
Em 14 de março de 1980, nas dependências da Secretaria Municipal de Saúde de Manaus, outro grupo de idealistas, liderados pelo Dr. Ernani de Aguiar Corrêa (12.11.1932-10.10.2022) e composto pelos médicos Leopoldo Krichanã da Silva, Oswaldo Said, Juarez Klinger do Areal Souto, Deodato de Miranda Leão e Paulo Frassinetti de Aguiar e Xerez, fundaram a Academia Amazonense de Medicina, que tinha como um dos objetivos preservar a história médica no Estado do Amazonas. A Diretoria ficou assim composta:
Presidente: Dr. Ernani de Aguiar Corrêa
Primeiro Vice-Presidente: Dr. Leopoldo Krichanã da Silva
Segundo Vice-Presidente: Dr. Oswaldo Said
Secretário: Dr. Antônio José Souto Loureiro
Primeiro Tesoureiro: Dr. Juarez Klinger do Areal Souto
Segundo Tesoureiro: Dr. Paulo Frassinetti de Aguiar e Xerez
Orador: Dr. Deodato de Miranda Leão
Foram aprovados os nomes dos Patronos das Cadeiras com os respectivos ocupantes.
Digno de nota o cuidado e a sensibilidade da Diretoria em homenagear os médicos mais antigos que já haviam trabalhado no Amazonas desde o início do Século XX.
Mesmo com todas as boas intenções, provavelmente pelos afazeres profissionais de seus membros, novamente a Academia em pouco tempo ficou inativa.
Registro da solenidade de Reinstalação da Academia Amazonense de Medicina, em 15 de maio de 1999, no Hotel Tropical de Manaus. Acervo do autor.
No dia 24 de março de 1999, no auditório do Centro Cultural do Palácio Rio Negro, em reunião convocada pelo Dr. Cláudio do Carmo Chaves, atendendo ao expediente da Federação Brasileira das Academias de Medicina, propôs a reinstalação da Academia Amazonense de Medicina. A assembleia discutiu, deliberou e aprovou o Estatuto e Regimento Interno da instituição. Foi aprovada a nova Diretoria tendo como Presidente o Dr. Cláudio do Carmo Chaves, que conseguiu soerguer o sodalício com todo esplendor. A Academia foi reinstalada com 47 Cadeiras ocupadas, do total de 60, em uma bela solenidade no Hotel Tropical de Manaus.
No primeiro ano, após sua reinstalação, quando a Academia Amazonense de Medicina completava 20 anos de existência o Presidente Cláudio Chaves teve o cuidado de chamar nova geração de médicos e médicas para os quadros desse sodalício. A instituição já possuía 49 membros titulares, sendo 11 eméritos, 7 honorários e 3 membros corres-pondentes. A solenidade ocorreu no auditório do Conselho Regional de Medicina do Amazonas.
A história da Medicina do Amazonas, deve ao Professor Doutor Cláudio do Carmo Chaves, ocupante de Cadeira n.o 1, essa importante iniciativa que conseguiu congregar várias gerações de médicos dos séculos XX e XXI.
Solenidade na Academia Amazonense de Medicina em 30.10.2010. Senador Bernardo Cabral, Dr. Cláudio Chaves (Presidente), Dr. Joaquim Melo (*14/12/1938 +27/05/2016), Dr. Aristóteles Alencar e Dr. Euler Esteves Ribeiro. Acervo do autor.
Solenidade na Academia Amazonense de Medicina em 30.10.2010. Dr. Ozório José Menezes Fonseca (*10/03/1939 +09/12/2015), Dr. Expedito Teodoro (†26/01/2018), Dr. Ernani de Aguiar Corrêa (*12/11/1932 +10/10/2022) fundador da Academia, Dr. Gil Machado e Dr. Aristóteles Alencar. Acervo do autor.
Fotografia ofertada pelo Dr. Moura Tapajós ao autor deste livro, por ocasião da homenagem que foi prestada a ele na Academia Amazonense de Medicina. Acervo do autor.
Para encerrar o registro fotográfico desta obra, torna-se importante o compartilhamento de uma fotografia de 1950, que retrata a antiga sede de Secretaria Estadual de Saúde, que se situava na Praça Antônio Bittencourt, conhecida como Praça do Congresso, localizada em frente ao prédio do Instituto de Educação do Amazonas. Essa denominação popular deve-se ao fato de ter acontecido nesse local, o 1.o Congresso Eucarístico Diocesano de Manaus e comemoração dos 50 anos de criação do Bispado do Amazonas, em junho de 1942.
Muitos dos médicos antigos citados neste livro, trabalharam nesse prédio, assim como a geração de amazonenses até a década de 1950, tinha que comparecer ao local para tomar suas vacinas. O prédio foi derrubado e deu lugar à sede dos Correios. Pode-se observar também o belo palacete que pertenceu à Família Miranda Corrêa, que foi derrubado para dar lugar ao Edifício Maximino Corrêa. Duas grandes perdas arquitetônicas para a cidade de Manaus.
Praça Antônio Bittencourt, conhecida
como Praça do Congresso, em 1950.
À esquerda o prédio da antiga Secretaria
de Saúde e à direita a residência de
Maximino Miranda Corrêa, que deu lugar
a um espigão. Acervo do autor.
CONCLUSÃO
O resgaste biográfico dos primeiros 100 médicos e médicas que se escreveram no Conselho Regional de Medicina do Estado do Amazonas pretendeu registrar, ainda que de forma incompleta, a atuação desses profissionais que estavam em plena atividade no Século XX.
Esse grupo de médicos de alguma forma, passou por três séculos diferentes: Século XIX, Século XX e Século XXI. Existem quatro médicos que nasceram no Século XIX: Dr. Angelo D’Urso, em 14 de novembro de 1889; Dr. Benedito Alves de Carvalho, em 5 de fevereiro de 1892; Dr. Agenor Carvalho de Magalhães, em 21 de junho de 1895 e Dr. Antônio Siqueira Mendes, em 21 de junho de 1898. Eles trabalharam no Século XX.
A maioria desses médicos nasceu antes de 1935. Apenas três nasceram depois de 1935. Encontram-se entre nós em pleno Século XXI: Dr. Wallace Ramos de Oliveira, Dra. Dulce Neves Pinto da Costa, Dra. Volusia Dantas da Silva, Dr. Clóvis Frota, Dr. Hygino Caetano da Silva Filho, Dr. José Leite Saraiva, Dra. Marília Machado e Dr. Paulo Xerez.
As famílias, e alguns dos próprios médicos biografados, dispuseram-se a colaborar com depoimentos, documentos e fotografias, o que enriqueceu sobremaneira esse registro. Nosso eterno agradecimento. Outros dados foram obtidos em jornais antigos, disponíveis principalmente na Biblioteca Digital Nacional, assim como em documentos do acervo do autor. Espera-se, em havendo edições posteriores, que surjam mais dados para melhorar ainda mais esse trabalho.
Em alguns casos, constatou-se a ausência completa de informações sobre a vida pessoal e profissional, fato que poderá ser sanado em próxima edição, se esse trabalho conseguir atingir familiares ou conhecidos dessas pessoas que dedicaram suas vidas à arte de curar.
Esses médicos e médicas que cuidaram de várias gerações de amazonenses, dedicando suas vidas à verdadeira medicina, merecem reconhecimento e gratidão por tudo que realizaram em tempos difíceis e com poucos recursos. Não atuam mais, no entanto, permanecem na memória coletiva de seus clientes, alunos, amigos e familiares.
O autor teve o privilégio de ser atendido, desde o nascimento, por vários desses ilustres profissionais, assim como ter sido aluno de alguns deles na Faculdade de Medicina da Universidade do Amazonas, onde formou-se em 1978. Porém, ter tido o privilégio de atendê-los em várias oportunidades, como médico, nesses 45 anos de profissão, foi a maior honraria que poderia ter recebido.
Eterna gratidão e reconhecimento aos desbravadores da moderna Medicina no estado do Amazonas.
*Médico cardiologista formado na Universidade do Amazonas. Doutor em Cardiologia pela Fac. Medicina da UNESP/ Botucatu. Fellow da Sociedade Europeia de Cardiologia. Membro da Academia Amazonense de Medicina e da Academia Amazonense de Letras, da qual é o atual presidente.
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