
*Aristóteles Comte de Alencar Filho
Os 100 primeiros médicos inscritos no Conselho Regional de Medicina do Estado do Amazonas
Continuação …
Doutor Wallace Oliveira contribuiu bastante para a realização deste trabalho, com depoimentos sobre os médicos com os quais conviveu. Possuindo uma memória prodigiosa, relatou fatos interessantes desse importante período da modernização da medicina amazonense.
Nascido no estado do Maranhão, Doutor Wallace chegou em Manaus no dia 26 de setembro de 1956. Trabalhou como laboratorista no Instituto Evandro Chagas. Durante seu curso de medicina, morou e trabalhou no laboratório de bioquímica da Santa Casa de Misericórdia de Belém. Por estar sempre presente no hospital, costumava ser chamado para auxiliar todas cirurgias e procedimentos médicos complicados. Nessa época, já namorava a Enfermeira Maria das Neves. Depois de sua formatura voltou à sua cidade natal, mas não ficou satisfeito com as condições precárias de trabalho oferecidas. Em Belém, não quis ficar pois o mercado já estava muito saturado. Resolveu então vir para Manaus.
Já casados, sua esposa Maria das Neves veio em março e ele veio em setembro de 1956.
Posteriormente ela cursou Medicina, foi aluna de seu esposo e tornou-se a primeira médica radiologista do Amazonas. Ambos, na clínica Radiodiagnóstico, que possuíam, instalaram a primeira Tomografia Computadorizada no estado do Amazonas.
Doutor Wallace Oliveira, no dia 12 de janeiro de 2018, relatando fatos sobre a vida dos primeiros médicos inscritos no CRM-AM. Acervo do autor.
Ao chegar em Manaus, Doutor Wallace trouxe uma carta de apresentação para o Doutor Djalma Batista que era o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA.
Relata que quando começou a trabalhar, Doutor Djalma reclamou para ele que
havia um fotocolorímetro parado há muito tempo em função de uma lâmpada que estava queimada, e que a falta desse equipamento fazia muita falta ao andamento das pesquisas. Doutor Wallace que já havia vivenciado problemas parecidos como esse no laboratório da Santa Casa de Belém, foi em uma oficina de automóveis situada na rua Sete de Setembro e conseguiu uma lâmpada de caminhão que serviu para substituir a que faltava, colocando para funcionar novamente tão importante equipamento. O mesmo procedimento realizou em um microscópio do Doutor Luiz Montenegro em seu laboratório particular.
Nesse período, em Manaus, haviam somente quatro laboratórios: o da Beneficente Portuguesa e da Santa Casa de Misericórdia, dirigidos pelo Professor Manuel Bastos Lira, do Dr. Djalma Batista que funcionava na rua Sete de Setembro, e do Doutor Luiz Montenegro, que funcionava em frente à Biblioteca Pública, na rua Barroso.
Doutor Djalma Batista o convidou para assumir o cargo de Diretor de Parasitologia, função que exerceu durante 8 anos. Nesse período realizou pesquisas sobre Mansonella ozzardi (nematódeo filarial) em Manaus e Codajás. Doutor Wallace Oliveira possui vários trabalhos científicos publicados, inclusive seu trabalho é citado no livro texto de Parasitologia, publicado pelo Professor Samuel Pessoa.
Com essas pesquisas, foi determinada a patogenia da mansonelose até então considerada não patogênica.
Artigos sobre Mansonela Ozzardi publicados por doutor Wallace Oliveira em 1960 e 1961. (2)
Um fato que marcou sua entrada na vida profissional em Manaus, foi por ocasião da necessidade de se realizar uma cirurgia cesariana de urgência, solicitada pelo Doutor Heraldo Correa. Para complicar, não foi encontrado anestesiologista disponível. Doutor Wallace, com sua experiencia forjada nos seis anos que morou na Santa Casa de Belém, prontamente ofereceu-se para realizá-la. Os médicos mais antigos, olhando para aquele médico com feições de um garoto, não queriam permitir. Mesmo assim realizou a anestesia na paciente e em seguida fez a cirurgia cesariana, auxiliado pelo Doutor Flávio de Castro, com absoluto sucesso. A partir desse dia, sua fama de bom profissional espalhou-se em toda Manaus.
Exercitando seu lado humanista, no final dos anos 1950, todos os domingos dirigindo seu Jeep, ia juntamente com Doutor Djalma Batista para Colônia Japonesa prestar atendimentos médicos gratuitos aos residentes do local. Essa iniciativa resultou na publicação de um trabalho científico.
Trabalho publicado na revista O Hospital, do Rio de Janeiro em 1960, sobre condições de saúde de moradores da Colônia Japonesa em Manaus.
Dentre as homenagens que Doutor Wallace já recebeu, ele considera a mais importante o Título de Cidadão do Amazonas. O autor da proposta foi o Deputado Estadual Serafim Corrêa. No dia 18 de outubro de 2016, em Sessão Especial na Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), ao receber o título assim se manifestou: “Agora, que já sou amazonense por direito e não só por coração, digo a todos que hoje é o dia mais feliz da minha vida, porque agora sou de fato amazonense reconhecido pelo Estado”.
Doutor Wallace é Membro Emérito e Presidente de Honra da Academia Amazonense de Medicina, ocupando a Cadeira número 22, cujo Patrono é o Doutor Luiz Montenegro. Reside na cidade de Manaus.
Um duro golpe para Doutor Wallace foi a perda de sua querida esposa Marineves, como ele carinhosamente a chamava, após 56 anos de casados. Doutora Marineves, que era médica radiologista, nasceu em 5 de agosto de 1925 e faleceu em 2 de abril de 2022.
Doutor Wallace, sua saudosa esposa Doutora Maria da Neves Oliveira e o Deputado Estadual Serafim Correa. Fonte: A Crítica.
Membros da Academia Amazonense de Medicina que foram prestigiar Doutor Wallace: Doutor Mariano Doutor Cláudio Chaves (Presidente) e Doutor Aristóteles Alencar. Acervo do autor.
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2 JORNAL DO COMMERCIO, Manaus, 21 jul. 1978. Fonte: Biblioteca Nacional.
Continua na próxima edição…
*Médico cardiologista formado na Universidade do Amazonas. Doutor em Cardiologia pela Fac. Medicina da UNESP/ Botucatu. Fellow da Sociedade Europeia de Cardiologia. Membro da Academia Amazonense de Medicina e da Academia Amazonense de Letras, da qual é o atual presidente.
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