Manaus, 2 de julho de 2025

ZFM, social antes do privado

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O pesquisador do INPA, Charles R. Clement é reconhecidamente uma das maiores autoridades em Amazônia em atividade. Dedica-se o trabalhar com programas de pós-graduação em biotecnologia, e em genética, conservação e biologia evolutiva do INPA, onde orienta alunos de mestrado e doutorado em estudos sobre fruteiras nativas e plantas cultivadas pelos povos indígenas e comunidades tradicionais. Não lhe passou despercebido o artigo desta coluna da semana passada que teve como mote as observações do pesquisador José Maria Cardoso da Silva, do International Conservation  de que falta interesse para mudar a matriz econômica da ZFM, Para Clement falta também recursos humanos de qualidade. Como o número de pesquisadores no Amazonas tem aumentado ao longo dos últimos anos, há de se chegar à conclusão, de acordo com Charles Clement, que o fator negativo preponderante “é a falta de interesse”.

Como se sabe, diz Clement, “transformar passivo em ativo requer  investimento. Quanto maior o passivo, maior o investimento necessário. Entretanto, nossa classe política, não somente no Amazonas, mas na Amazônia Legal, ao que parece do comportamento da maioria de seus líderes parecem muito satisfeitos em cuidar de seu pedacinho da colônia; ou seja, tratar de suas sesmarias colonizadas com o apoio do poder central em Brasília. Afinal, a Amazônia é colônia do Brasil desde 1823. Diversas autoridades, como o General Vilas Boas vêm se pronunciando incisivamente nesse sentido. O “interesse”, salienta Charles Clement, requer visão. O processo de colonização limita movimentos e iniciativas. Pior, o processo de “libertação” requer desinteresse pessoal em favor do coletivo. Se a luta é por mais investimentos hoje, os frutos somente serão colhidos no futuro – quando outro político poderá  estar no poder e assim beneficiar-se dos louros da vitória! Na política, lamentavelmente nada é pior do que semear para outro colher!, conclui Charles Clement.

Exemplos dessa desvinculação política em relação aos interesses das região, na visão do veterano pesquisador do INPA, há em profusão, sendo o CBA um dos mais expressivos. O CBA, por fatores políticos, foi desmoralizado junto com a BioAmazônia. Ou seja, seu passivo agigantou-se. O primeiro governo do PT poderia ter assumido o risco de mudar as coisas, pois o passivo não era de tamanha expressão como hoje se afigura. Mas não aproveitou a oportunidade, talvez porque pesquisa de ponta requeira longo tempo de maturação. Portanto, quanto maiores os problemas do governo o passivo em relação a esses projetos proporcionalmente se ampliam desmedidamente, tornando-se de maior complexidade e de solução mais difícil ainda. O pesquisador Charles Clement lamenta a situação que se agiganta por falta de líderes políticos que assumam posições firmes e objetivas visando encontrar soluções que atendam aos interesses do desenvolvimento regional. Clement recorda que este ano de 2015 é o 180º aniversario do desmantelamento da Cabanagem. Deflagrada  em 6 de janeiro de 1835, o quartel e o palácio do governo de Belém foram tomados por tapuros, cabanos, negros e índios liderados por Antônio Vinagre. Ele conclui: será que aqueles ideais de independência defendidos por cabanos de nada serviram para as gerações futuras?.

Ainda nos resta  a questão levantada por Wilson Périco, presidente do CIEAM, de que “não podemos nos permitir que a euforia pela prorrogação do modelo ZFM se transforme em uma Copa do Mundo para nosso Estado. Para evitar que isso aconteça precisamos de todos os agentes de nossa sociedade: políticos, classe produtora, classe laboral envolvidos e comprometidos em criarmos novos “caminhos” e deixarmos de ser tão reféns como somos hoje do único pilar de sustentação socioeconômica do nosso Estado, o PIM, que tem somente dois grandes segmentos, o Duas Rodas e o Eletroeletrônico. Novos passos precisam ser dados a partir do desenvolvimento de novas matrizes econômicas de tal sorte a gerar riquezas e renda para o interior, enfatiza Périco. Estas questões políticos amazonenses não discutem.’

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