Por reconhecer que há várias cidades encravadas nesta Manaus milenar que ousa festejar os 350 anos da presença europeia, resolvi proclamar, aquela que escolhi como a minha preferida, tomando o olhar a partir do porto flutuante em direção ao Teatro Amazonas, o templo emblemático que bem caracteriza a terra dos manaó.
A escolhida não tem mais os sons-dos pássaros encantados, nem sob as janelas dos casarões se consegue ouvir o bom francês nas conversas em família na hora dó almoço, muito menos o cantarolar dos italianos fraternos-carregando os pianos pelas calçadas ou o tilintar dos bondes nos trilhos ingleses ou norte-americanos.
Esta cidade está contida na lembrança dos mais antigos e nos artigos dos que a redescobrem na leitura dos jornais que sobraram nas coleções do Instituto Geográfico e Histórico e da Biblioteca Pública, ‘nos livros dos cronistas e historiadores, e muito mais nas pesquisas aguça das que as universidades resolveram estimular.
A Manaus na qual adoro passear, entre horas vagas e mesmo no afã do trabalho, vem carregada de jovens despojados de padrões de vestimenta, os – que estão sempre bem à vontade, cheios de esperança e alegria vivendo o presente, mas preparando o futuro como nunca se viu antes, nem nos tempos áureos da belle époque.
É possível fazer esta afirmação porque naquele tempo, muito embora tenha havido muitas experimentações artísticas, clubes, grêmios, associações artísticas, academias e até a primeira universidade do Brasil, não foi para as artes o maior empenho e o interesse principal da juventude, embora muitos praticassem teatro, música e dança, mas o faziam como lazer e entretenimento, como se fosse mostra de erudição, bem própria daqueles anos.
Cabelos ao vento, rebeldes ou não, são muitos e contam-se algumas centenas, os quase meninos e meninas de agora que caminham levando consigo os violinos violões, cavaquinhos, bandolins, oboés, clarinetes, flautas, trompetes, violas … os muitos outros instrumentos com os quais concretizam o sonho imenso em busca da realização acadêmica e profissional. Outros tantos já alcançaram este patamar e se tornaram ícones da geração.
Bem sei que não faz multo que tudo isso começou (ou molhar, recomeçou, porque muitas vezes temos vivido de recomeços), mas o que desejo e confio de verdade e há de ser, é que, desta vez, não iremos amargar a bendita frase tão comum entre os mais antigos: “Manaus, a terra do já teve”, muito embora em pouco tempo tenhamos tido muitas perdas.
O que vejo pelas ruas brotou com o empenho que tive o privilégio de tocar ao lado de inúmeros entusiastas em recente e longa função pública na gestão da política de cultura. O que ouço nos saraus da Academia de Letras, acompanho nas notícias de imprensa e de redes sociais, identifico nas escolas infantis e de jovens que anunciam aulas de arte complementando o ensino tradicional, o que divulgam os editais das universidades públicas e privadas abertas a esta missão … o que reconheço nesse cenário é um novo tempo de bonança e progresso para as artes em nossa terra.
Há 50 anos, precisamente, desde o tricentenário de Manaus, portanto, – de 1969, ocupo páginas de jornal quase sempre cuidando de temas que interessam à nossa cidade e à nossa história, sobre tudo e todos que me ocorrem à memória ou surgem de pesquisas que não me estafam pelo prazer que tenho em realizá-las.
Agora, verdade seja dita, essa cidade tem outros ares, outros sons, outra vida outras cores e amores quando olhada sob o ângulo dessa juventude que tem novas oportunidades com as artes, e o que desejo, ardentemente, é que esse fogo não se apague e possamos continuar compreendendo esses valores para a formação dos cidadãos, a felicidade e o bem comum, afinal, esta é a melhor forma de amar Manaus: preparar o futuro em todas as frentes modernas de educação, sem perder a sensibilidade e a
paixão que as artes fazer brotar e florir. É a nova Manaus que surge.
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