Fui obrigado a utilizar o aeroporto Eduardo Gomes em duas viagens aéreas recentes. A primeira para Belém e a segunda para Tabatinga. Um voo nacional e um regional. Não vou falar de companhias aéreas. Estas hoje se inspiram nos antigos e malfadados navios negreiros, onde a correntes são substituídas pelos cintos de segurança. Estou exagerando? Tirando o alto custo das passagens, especialmente no caso do voo para Tabatinga, basta que meus sete leitores abram um estudo sobre o tráfico de escravos e observem a planta baixa de um navio negreiro. Junte a uma planta baixa de um avião . de passageiros e logo perceberão que não se trata de uma figura de retórica a minha afirmação. O meu assunto é o aeroporto Eduardo Gomes. Sei que está em reforma, e toda reforma gera desconforto e confusão. Mas a Infraero não precisava exagerar, especialmente que esta tal ampliação nem é mesmo uma ampliação, mas um reles puxadinho. Uma meia sola no aeroporto como está sendo meia sola todas as obras para a Copa do próximo ano. Disser meia sola, mas acho que me enganei, a julgar pelo custo dessas obras que de meia sola não têm nada.
Aquela tripa grotesca que agora serve para os passageiros acessarem o saguão de embarque virou um mercado persa, uma feira de Caruaru, sem o charme desta última. Na volta de Belém o voo aterrissou no começo da madrugada. Há balcões de cooperativas de táxis, de resto inúteis, pois temos de sair e caçar um táxi e pagar diretamente ao motorista. E aparentemente os táxis dessas cooperativas possuem exclusividade para pegar passageiros. Mas nada disso fica claro e imagino o quanto deve padecer um estrangeiro que não fala o nosso idioma. No entanto, na noite que cheguei de Belém, ao deixar o saguão, fui cercado, abordado, pressionado por homens que gritavam destinos: Alvorada, 12° Etapa do Alfredo Nascimento, Coroado. A impressão é que desembarcamos em Calcutá e toda a surpreendente informalidade oriental nos dava boas vindas prenunciando a cidade caótica e bagunçada que Manaus se transformou. A cacofonia de ofertas de destinos mostrava o quanto esta cidade regrediu em suas maneiras e costumes. Na segunda viagem, esta para Tabatinga, o embarque estava agendado para as 12:45 horas, e deixamos a cidade pontualmente. Mas a hora coincidia com nossos hábitos alimentares: hora do almoço.
Como detesto bandejão a quilo, fiz o meu check-in e procurei a lanchonete que fica no setor de embarque. Lá há afixado um cardápio ilustrado por fotos dos pratos, iluminado por lâmpadas de neon, corno em muitos aeroportos. Com um detalhe. O cardápio não valia, havia um único prato e acabou. Nada de escolha, ou o peito de frango ou a inanição. Bem, era hora da fome regulamentar e tinha que tomar meu remedinho da pressão alta. Recomenda-se que isto seja ingerido com alimento.
Pensei em comprar uns pães de queijo, mas o organismo exigia algo mais substancial, e fui obrigado a me conformar com o peito de frango, que mesmo com a fome que sentia, desceu sob protestos de meu paladar. Não·entendo esse descaso com. os passageiros e os usuários do aeroporto. Se o proprietário não tem competência, dê o fora, abra espaço para um empresário que queira ganhar honestamente e respeite o seu freguês. O idiota que mantém aquela lanchonete é um inimigo de nossa indústria do turismo. Será que vai continuar tudo igual?
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