Esta semana, por conta de uma indisposição possivelmente de etiologia viral, fiquei em casa lendo coisas importantes que chegam pela internet e me debrucei, mais atentamente, sobre o novo número da Revista Eletrônica de Jornalismo Cientifico (http://www.comciencia.br) datado de 11 de abril de 2013. Minha atenção foi despertada para o tema de alguns textos que abordam o tema “fraudes, erros ou enganos”. que parafraseei e modifiquei do titulo do Editorial escrito pelo Dr. Carlos Vogt, para dar nome à este artigo. Adicionalmente, decidi usar algumas informações do autor e mistura-las às minhas reflexões descendo para o planalto (e para a planície) onde a vida pública está cheia de fatos e atos podem ser tipificados em uma das três opções do título.
No passado
O Dr. Carlos Vogt lembra que o surgimento da burguesia coincide com o nascimento da figura do anti-herói, isto é, do herói sem nenhum caráter, contumaz trapaceiro, que pela esperteza expunha as mazelas sociais e usava um atrevimento sem compromisso ético para difundir um modelo de “organização” da desordem. O personagem mais conhecido mundialmente é Dom Quixote (Miguel de Cervantes) e no Brasil, até alguns poucos anos atrás, esse tipo de herói sem caráter, era Macunaíma de Mario de Andrade.
No cinema nacional Carlos Vogt lembra Pedro Malassarte vivido, na década de 1960, por Mazzaropi um caipira vigarista, ingênuo e cheio de artimanhas que expõe os erros da sociedade da qual quer se vingar por causa da sua história de abandono social, de infância miserável, etc. E assim, com astúcia e malandragem vai usufruindo benefícios.
No presente
No Brasil, ao longo da história, o personagem sem caráter passou a aplicar o “conto do vigário” (vigarista) e depois inventou o “jeitinho brasileiro” que foi incorporado pela cultura política (no mau sentido) nacional.
Hoje o Brasil está repleto de heróis sem caráter, muitos habitando a esfera da classe politica que usam o poder para tirar proveitos pessoais, tendo como modelo (ícone) um personagem nascido no mais completo abandono social, que teve uma infância miserável e que hoje aproveita todas as oportunidades para se transformar em um pícaro, sem nenhum risco de se transformar em bandido por conta das leis feitas e aprovadas por seus pares e parceiros.
Um exemplo emblemático dos dias que correm no planalto é a decisão de diminuir os impostos dos carros (sem compensação ambiental, mas certamente com grande retorno pessoal), dos smartphones (a indústria eletroeletrônica é a mais poluente do mundo) e, na contramão da ética social, aumentar o preço dos remédios. Com isso pobres doentes podem sonhar com a compra de carros que dificultam o trânsito e poluem o ambiente e aquisição de telefones modernos que serão roubados por criminosos impunes.
Aqui na planície, falta banana por causa de uma praga sem controle e as plantações de cupuaçu em Presidente Figueiredo estão assoladas pela “vassoura de bruxa”, a mesma doença que, no passado, dizimou os cacaueiros amazonenses. Além disso, a farinha d’água, que é uma de nossas amazonidades mais típicas chegou a R$9,00/kg (R$12,00/kg na feira do Coroado, aquele bairro de milionários na região leste de Manaus). Sobre esse fato, um político (no mau sentido) local disse na televisão, que esse preço era culpa da cheia, uma justificativa típica do anti-herói, pois a mandioca de terra-firme não é afetada pelo pulso de enchente e vazante.
Nesse tempo de atitudes antiéticas, penso que a “bolsa esmola” é a grande vigarice (eleitoral), embora reconheça sua necessidade como socorro social, mas absolutamente transitório. E, por conta dessa reflexão, creio que se esse assistencialismo perene já existisse nos anos de 1940-1950, não teríamos tido o surgimento do mais relevante anti-herói da atual vida brasileira, aquele que tem uma história de abandono social, de infância miserável, etc. e que hoje figura na lista dos brasileiros bilionários (US$2 bilhões de dólares em 2006, segundo a Revista Forbes). Só se chega a esse patamar de riqueza na vida pública, cometendo poucos enganos, raríssimos erros e muitas fraudes.
Views: 14