A travessa dos inocentes
Houve um tempo, no Brasil, quando o catolicismo era a religião oficial do Império, participando o clero da folha de pagamentos do funcionalismo público, como militares, de acordo com a sua hierarquia, em que os enterramentos dos mortos eram feitos no interior das igrejas. Faziam exceção as crianças pagãs, que não recebiam a proteção dos templos, sendo enterradas em pequeninas covas, nos terrenos situados atrás deles.
Praça 9 de novembro Início de Manaus – hoje em abandono
Por isso a antiga Rua Demétrio Ribeiro, hoje Visconde de Mauá, que passava aos fundos da Matriz Velha de Manaus, recebeu o nome de Travessa dos Inocentes, na época colonial, pois ela correspondia ao dito cemitério dos pequeninos pagãos, que haviam deixado chorosas mães, tristes pelas suas prematuras partidas, sem o lenitivo do batismo.
Dizem que quem por ali anda as horas mortas, nas noites de chuvas e ventos, sem luar, ainda ouve o choramingar dos pequeninos, pedindo um abrigo, na velha Igreja, hoje desaparecida após um incêndio, ou o soluçar de suas mães a procura do curumim perdido.
Ali em volta também foram enterrados índios, em suas igaçabas, na posição fetal, como haviam nascido acompanhados da sua maqueira e dos seus objetos mais queridos, as suas riquezas: cocares, contas e armas.
Se um arrepio correr até à medula dos teus ossos, quando por ali passares, podes estar certo que é assombração. Tentes experimentar e verás.
Aquilo tudo já foi cemitério.
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