Educadores, autoridades do MEC, parlamentares e pais de alunos estão se mobilizando para a retirada do telefone celular das Escolas. Desde 2007 circulam pelas comissões do Parlamento projetos de lei tratando do assunto. Nesses dias, a proibição do celular nas escolas voltou a ser pauta e até o Ministro da Educação, no “modo em cima do muro”, veio a público confirmar o debate do assunto. Já dizem até que tem voto tanto à direita quanto à esquerda a favor de um Projeto de Lei. Fiquei extremamente perturbado com essa campanha. Não seria obscurantismo? Não seria anacronismo? Ou falta de coragem para discutir à exaustão, como integrar essa tecnologia à sala de aula e favorecer a aprendizagem? Não seria essa proibição parte integrante daquelas mesmas ideias que circularam no passado recente golpeando a escola e, sobretudo, a escola pública, com as proibições, interdições discursivas, militarização disciplinar, censura de conteúdos, de currículos, de livros proibidos e até mesmo a liberação da Homeschooling, tudo em nome da pureza e do direito dos pais a uma tal liberdade de consciência para ditar o que é melhor para seus filhos num estado laico, em pleno século XXI? Será que depois de perder a parada para tirar a ciência da escola e colocar o obscurantismo religioso em seu lugar, transformando a escola pública em sucursal de doutrinas dominantes, aquele mesmo pessoal, agora, voltou-se para o Celular como o destruidor da “formação conservadora” das nossas crianças e jovens? Será que tem alguma mente criminosa pretendendo colocar chips e material inflamável dentro dos celulares de crianças, tal qual fazem adultos genocidas para eliminar os que odeiam? Não seria mais uma ideia conspiratória de um lobby que não se conforma com o desaparecimento da “borracha bicolor” (aquela que apagava tanto o escrito com lápis quanto com a esferográfica) nas escolas? Será que proibir o celular não é exigência dos livreiros falidos e produtores de apostilas com perguntas e respostas prontas? Será que os nossos professores sentem-se intimidados pelos algoritmos dos aparelhos ligados aos provedores de conteúdos da internet? Será que os nossos mestres estão despreparados para enfrentar o contraditório dos conteúdos disponíveis nos celulares, com fácil acesso às Revistas Científicas, aos Big Data, com dados atualizados sobre temas fundamentais à aprendizagem e à produção de conhecimento? Será que isso não decorre do choque entre gerações eletronicamente analfabetas e as gerações “Y” e “Z”? Será que algum parlamentar, por acaso ou tocado pela tentação do demônio, acessou o YouTube e deparou-se com postagens horrorosas que lhe chegaram ao celular, guiadas por algoritmos que já conhecem a sua alma e, tomado de “espanto conservador”, quer usar a sua condição de “representante do povo” para proibir o celular na Escola Pública?
O celular usado inadequadamente pode perturbar o processo da aprendizagem, mas não é o responsável pelo atraso da educação no Brasil. O seu uso pode ser moderado por pais responsáveis, que dividam a responsabilidade da educação dos filhos com a escola; com professores que tenham “domínio de classe”; com professores que dominem, também, os conteúdos necessários à aprendizagem dos alunos e que, por isso, sejam bem pagos, respeitados em seus direitos e reconhecidos como educadores, coisa bem diferente do “chamado prestador de serviços educacionais”, como aparece em alguns contratos de trabalho, onde o trabalhador ou trabalhadora da educação é um “faz tudo”; com escola de tempo integral; com atividades didáticas que empolguem e desenvolvam em plenitude as capacidades diversas dos alunos; com gente treinada dirigindo as escolas; e com recursos públicos suficientes ao custeio de uma educação de qualidade. Portanto, o celular é um falso problema, inventado para encobrir o mundo horrível com seus atos infames que geram violência, bullying, racismo, corrupção, pornografia, misoginia, homofobia e outros delírios como os vícios pelo jogo, que migram para as telas dos celulares guiados pelos algoritmos e pelo desejo de ganho fácil, em vários formatos, com os quais os jovens terão contato, queiramos ou não, independente de leis ou comandos autoritários de uma escola que se recusa a ser do seu tempo.
Convenhamos, têm coisas mais sérias ameaçando a Escola e a Educação no Brasil!
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