Recortes Pessoais
Continuação…
Capítulo 22
Amazônia: preservar e desenvolver
Samuel Benchimol – Revista Manchete
Como resolver o dilema entre preservar a Amazônia e desenvolvê-la; e entre compartilhar com o resto do mundo os seus bens naturais, mas garantir que o seu uso seja ditado consoante os interesses preferenciais do Brasil e de seu povo?
Para todo problema, não nos enganemos, há uma solução, que tem por base dois vetores: o bom senso e a proporção. Foge, de fato, ao bom senso, que o nosso país seja obrigado a dispor da parte mais rica de seu território, deixando-o intocado, de modo a atender as conveniências de outras nações, que não tiveram o mesmo cuidado com o próprio patrimônio ambiental e, agora. querem interferir, se possível tomar, aquilo que não lhes pertence.
É algo, também, desproporcional, porquanto nos traz evidentes prejuízos, na exata medida em que nos condena à estagnação enquanto que, aqueles outros, seguem em frente, desenvolvendo- se e melhorando a qualidade de vida de seus concidadãos.
A saída, no entanto, existe e foi preconizada pelo maior e mais completo estudioso do tema Amazônia, o ex-professor da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), o saudoso Samuel Benchimol, o qual, em muitas de suas pregações em favor da região, ensinava que a Amazônia somente poderia dar certo, ou seja, com o uso e fruição de seus recursos bionaturais sem que se dê a sua extinção, através de uma ocupação humana inteligente, alicerçada em cinco condicionantes: econômica, ecológica, política, social e tecnológica. Do contrário, complementava ele, poderíamos cair no imobilismo ou no romantismo ambiental.
A equação de mestre Benchimol é perfeita. Tanto, que vem sendo repetida em diversos ambientes acadêmicos de discussão, por vezes, o que é lamentável sob a ótica da lealdade científica, sem a devida referência ao autor. Embora em síntese, julgo essencial transcrevê-la.
Economicamente viável, “usando a agronomia e as ciências agrícolas para tornar mais eficiente e produtiva a natureza, convertendo-a, por via da ação humana, em fator de aumento da produtividade da terra, do melhor manejo das florestas, do uso adequado dos rios e do ar que respiramos”.
Ecologicamente adequada, de modo a que não se permita que a Amazônia se converta num “santuário silvestre, enquanto o resto do mundo continua a poluir a atmosfera, produzir efeito estufa, chuva ácida, aumento no buraco de ozônio e envenenando os oceanos com o lixo dos agrotóxicos, produzindo energia elétrica e veículos automotores baseados em petróleo, carvão de pedra e fissão nuclear, extremamente danosos para a sobrevivência do planeta”, mas possa explorá-los de forma racional, em benefício de seus habitantes.
Socialmente justa, no sentido de se criar “uma ordem internacional mais justa, de forma que o fosso que separa as nações ricas do norte das nações pobres do sul, seja diminuído”. Essa justiça, segundo o professor Benchimol, inclui o custo da conservação ambiental, que deve ser repassado às nações ricas. Em suma, elas teriam que pagar pela preservação, “o que somente poderia ser alçando dentro de um amplo fórum e consenso internacional”.
Politicamente equilibrada, no sentido de que se respeite a soberania do Brasil sobre a região, “sem colocar ninguém no banco dos réus. No banco dos réus devem estar apenas a fome, a doença, a pobreza, a ignorância e o desperdício”.
Tecnologicamente eficiente, no sentido de que se deve “utilizar a tecnologia menos invasiva possível, haja vista que a presença humana implica, necessariamente, em alguma alteração nos ecossistemas regionais”.
O problema do nosso país, nos dias de hoje, é que grande parte das nossas lideranças não se debruça sobre os livros, não estuda os assuntos, não procura a opinião dos especialistas e acaba, por isso, tomando decisões equivocadas, ou nada fazendo para evitar o pior, que se avizinha. Espero, com este modesto estudo, ter dado alguma contribuição para um tema que é fundamental para o nosso futuro.
*Para conhecer mais sobre o grande mestre sugiro a leitura do livro “Samuel Benchimol, ensaio biográfico de um educador e empresário”, de autoria de Abrahim Baze, meu confrade de IGHA e de AAL.
Continua na próxima edição…
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