Em 10 de novembro de 2025, na cidade de Belém, começam os debates e a construção de proposições na COP30, visando o controle das mudanças climáticas e promover o desenvolvimento sustentável, em todos os lugares e escalas temporais. Durante a COP30, 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, Belém se transformará na capital ecológica do planeta, um centro de discussão para promover o desenvolvimento sustentável, em todos os lugares e escalas temporais.
Antes de prosseguir minha exposição, compartilho algumas dúvidas com o leitor. No momento em que a Amazônia é colocada como centro mundial de discussão sobre a sustentabilidade regional e global, pergunta-se:
Como se farão presentes nesse evento global, os governantes do Estado do Amazonas e de suas municipalidades, representantes políticos da principal unidade federativa ecológica do planeta, em superfície sólida? Qual é o papel do Estado do Amazonas neste fórum global? Por que o Estado do Amazonas não está participando da organização e realização desse importante evento? Quais são os prejuízos materiais e simbólicos para a população amazonense devido à não realização desse evento no estado do Amazonas? Tudo isso também vale para as demais unidades federativas da Amazônia.
Essa conferência assume importância singular, à medida que a mesma se realizará na região planetária que, simultaneamente, melhor incorpora, legitima e encarna a noção de sustentabilidade e a ecologia integral do Papa Francisco. Nos dias 6 e 7 de novembro, os chefes de Estado presentes nesse evento se reunirão tomando as decisões pertinentes aos interesses de seus respectivos países que, em forma ponderada e consensuada, guiarão os documentos diplomáticos que comporão o portfólio global da ONU. Numa linguagem mais acessível, os chefes de Estado sinalizarão ao mundo o possível alcance político e econômico de suas decisões dirigidas ao combate das mudanças climáticas. Definirão o cardápio do banquete e o perfil dos futuros convidados para degustá-lo.
O fato é que Belém, definitivamente, destronou Manaus de sua condição de “cidade sorriso”, após sua total revitalização física e cultural para o acolhimento desse importante evento global. Com muita alegria e originalidade, acolherá a todos os visitantes nacionais e internacionais, mostrando a beleza de sua cultura e estrutura urbanística, em especial de suas áreas de entretenimento, de suas instituições de ensino e pesquisa, de seus museus, de sua culinária e de suas belezas naturais. Belém e sua área metropolitana modernizaram-se com o investimento federal de mais de 1,5 bilhão de dólares em sua estrutura física e cultural. Uma antiga reivindicação política que foi parcialmente conquistada por meio de sua condição de cidade-sede da COP30. Parcialmente, porque, sem retirar a responsabilidade política dos gestores estaduais e municipais, este tipo de investimento precisa ser estendido a todo o estado do Pará e também, nas devidas proporções, para toda a Amazônia. Caro leitor, lembre-se de que estamos nos referindo à região com os piores indicadores de desenvolvimento humano e econômico do Brasil; alguns deles comparados aos da África subsaariana. Cenário que, infelizmente, já foi naturalizado pelos nossos políticos, empresários e governantes.
O quadro de pobreza da região, quando confrontado com as deliberações da COP30, que estarão prioritariamente centradas na preservação das florestas visando o futuro mercado do carbono, ganha destaque especial, considerando que o atual governo do Brasil incorporou a Amazônia como principal força-motora de seu discurso político global. Na verdade, o discurso presidencial deveria ser invertido: como devemos imediatamente combater a miséria social na Amazônia e desenvolver simultaneamente de forma sustentável essa região tão importante para o Brasil e a humanidade.
Fundo Amazonas, Fundo das Florestas, entre outros de mesma natureza, que aparecerão no futuro, são invenções direcionadas a grupos de interesse internacionalistas que nos mantêm reféns e subalternos a interesses dos países desenvolvidos. Uma forma de congelar a pobreza na região, nos transformando definitivamente num mar de carbono imerso num mundo d’água fresca, monitorado pelos seus filhos famintos e deserdados de cidadania. Um quadro político dramático que, em vez de promover a preservação, promoverá a destruição e uso predatório da região amazônica.
Esses fundos nacionais e internacionais deveriam ser do tipo “Fundo de combate à pobreza social amazônica”, “Fundo de promoção da cidadania Amazônia”, “Fundo de defesa dos povos originários da Amazônia”, entre outras possibilidades. Certamente, esse tipo de programa, se bem conduzido, fortalecerá as políticas públicas dirigidas à preservação dos seus ambientes naturais. Infelizmente, o governo federal, embora bem intencionado, continua sendo um instrumento voltado à destruição da Amazônia.
O fato é que as desigualdades sociais na Amazônia atingem proporções que impedem um futuro próspero para a maioria de seus jovens, induzindo-os para as práticas ilícitas e para o mundo do crime. A imediata solução dessa problemática, que não é prioridade política de seus governantes, alinhada a programas específicos, terá um desdobramento imediato e duradouro na proteção de seus ambientes naturais.

Livros autorais que serão lançados na COP30
Ainda há tempo! Faz-se necessário construir um robusto sistema de ciência e tecnologia para o desenvolvimento sustentável dessa região, a partir de suas municipalidades e alinhado com a sua capacidade produtiva instalada. A Amazônia não pode continuar refém de práticas pendulares que oscilam entre a sua preservação absoluta e aquelas dirigidas por intervenções destrutivas de sua natureza.
Em 9 de novembro, viajo para Belém para lançar, simultaneamente, nove livros autorais sobre a Amazônia, em espaço editorial ainda indefinido, mas certamente associado ou próximo da COP30. Levo comigo muitas dúvidas, mas uma certeza: as COPs não são espaços institucionais para propor soluções para os problemas socioeconômicos das regiões tropicais detentoras de grande potencial de mitigação dos gases de efeito estufa. Ao contrário, são instrumentos dos países desenvolvidos e de segmentos de suas organizações não governamentais e do mercado global para nos manter reféns de suas determinações políticas para o controle dos ciclos biogeoquímicos, em especial do carbono, dos compostos nitrogenados, do metano e da água, em prol da manutenção de suas matrizes industriais poluentes.
Os governos estaduais e também o brasileiro ainda não conseguiram construir modelos de desenvolvimento integrados à região. Portanto, há forte tendência de continuidade do crescimento das desigualdades sociais na região, uma tragédia que parece não ter fim. A implantação de uma política de segurança alimentar, de ensino integral e contínuo, de saúde plena, incluindo o saneamento básico e proteção aos igarapés, e a política de mobilidade e integração regional são exigências públicas prementes. Semelhantemente, exige-se a implantação de seu desenvolvimento sustentável a partir de suas municipalidades, dos arranjos produtivos tenrificados e vocacionados, de suas universidades indígenas, de monitoramento e assistência às suas comunidades interioranas e aos seus ambientes naturais, entre outros programas secundários. Certamente, em curto prazo, essas iniciativas, que dependem somente da vontade política dos governantes brasileiros, terão impactos nobres na qualidade de vida de suas populações. Os governos dos estados da Amazônia e do Brasil precisam acordar, o poder público precisa respeitar os amazônidas e integrá-los aos projetos de desenvolvimento regional e nacional.
Há um grande diferencial político que permeará a COP30. Em certa medida, a sua realização em Belém também marca o encontro da doutrina cristã, por intermédio da ecologia integral do Papa Francisco, com o desafio de construir estratégias e mecanismos operacionais para combater a injustiça ambiental e a mudança climática local e global, a partir da Amazônia. Numa perspectiva que priorize a inclusão social e econômica dos excluídos e despossuídos de cidadania, vítimas do capitalismo predatório e da ausência de políticas públicas na Amazônia. Nesse sentido, se bem conduzida politicamente, a COP30 pode ser instrumentalizada para redimir o capitalismo predatório de seus crimes e práticas predatórias na região, propondo intervenções nobres e sustentáveis aos seus povos e às suas populações originárias.
Como apresentado anteriormente, desde 2023, Belém se prepara para recebê-la. Em pouco mais de 2 anos, passa por um intenso plano de revitalização urbana e de melhoria de sua infraestrutura social e econômica para acolher com dignidade mais de 50 mil pessoas que participarão desse importante evento global. Projeta-se que, até setembro de 2025, já tenham sido investidos mais de 1,5 bilhão de dólares em obras de saneamento, construção e manutenção de parques e espaços públicos, centros para acolhimento e hospedagem de turistas, e obras para melhorar a acessibilidade local, regional e internacional. Enfim, os poderes públicos municipal, estadual e federal, e a iniciativa privada, se mobilizaram para preparar a cidade para sediar os grandes fóruns de debates que transformarão essa bela cidade na capital mundial da sustentabilidade. Uma transformação que, merecidamente, a consolidará como a cidade mais sustentável do planeta, sem a necessidade de seus governantes assediar os seus cidadãos e as suas gerações futuras com empréstimos financeiros desnecessários ao seu desenvolvimento.
Os equívocos técnicos cometidos durante essa grande e complexa preparação de sua estrutura urbana, certamente, serão corrigidos futuramente. Antecipadamente, pode-se afirmar que Belém ganhará muitos espaços e aparelhos públicos em benefício de sua população e também da Amazônia. Nesse sentido, a COP30 e o governo federal potencializaram diversos benefícios sociais e econômicos para o povo paraense, em especial para os habitantes de Belém. Certamente, os aparelhos e bens públicos incorporados na vida dos paraenses superarão os transtornos causados recentemente a vários setores sociais e econômicos da cidade, em especial aos segmentos da população mais fragilizados socialmente, devido à sua preparação para esse evento global. Mas os altos custos da rede hoteleira e a pequena oferta de vagas às delegações diplomáticas e demais participantes dessa conferência podem comprometer o seu sucesso pleno. A ausência das principais lideranças de diversos países desenvolvidos, incluindo os Estados Unidos da América, fragiliza definitivamente o seu alcance político global.
Mas, à semelhança da Cabanagem – revolta popular na província do Grão-Pará, no século 19, contra o império brasileiro – o povo paraense, especialmente suas populações tradicionais, seus povos originários e suas instituições acadêmicas, saberão como encaminhar suas reivindicações sociais e econômicas em benefício de seus filhos e de suas comunidades. Com determinação e sabedoria, defenderão a Amazônia, a partir dela, numa perspectiva que a liberte do assédio, da opressão e das amarras da emergência climática e da injustiça ambiental propugnadas pelos mercenários da ciência e das ONGs vampirescas. Guiados por Nossa Senhora de Nazaré, estenderão o seu manto para proteger todos os participantes desse evento e para mostrar-lhes que a Amazônia nunca foi e nunca será uma commodity ambiental. Ao contrário, ela é uma entidade viva, espiritualizada e abençoada, aperfeiçoada pelos seus povos, que precisa ser compartilhada com os mesmos. Se possível, devem-se batizar os agentes públicos e privados – responsáveis pela organização, realização e desfecho da COP30 -, na Baía do Guamá, para os mesmos incorporarem as resiliências e as generosidades amazônicas construídas durante as lutas contra os processos de sua usurpação e opressão colonial e imperialista. Certamente, os amazônidas sentem-se representados, honrados e gratos ao povo paraense e aos seus intelectuais por sua defesa e promoção social e econômica nesse evento singular.
Mas, a política global e imperialista da COP30 oficial potencializa os seus desdobramentos políticos e econômicos em duas dimensões previsíveis. A curto prazo, poderá legitimar a ação das ONGs na região numa perspectiva que cristaliza e aprisiona os seus povos às determinações imperialistas dirigidas à sua preservação absoluta, em perspectivas opressoras e dissociadas das grandes conquistas científicas e tecnológicas contemporâneas. Em médio e longo prazos, deverá dificultar a construção de um modelo de desenvolvimento sustentável, espiritualizado e compartilhado com os seus povos e para o Brasil. Tudo isso, numa conjuntura permeada por uma democracia amazônica mutilada, pela crescente decadência das instituições multilaterais e por um mundo subsumido pela prepotência política e pela ganância infinita de sua elite financeira, aqui e de alhures.
As poucas conquistas da COP30 global serão rapidamente dissipadas pelos ventos quentes dos trópicos em direção aos interesses internacionalistas que já se apropriaram da Amazônia, infelizmente, com a colaboração do próprio governo brasileiro.
Acorda, Amazônia! Ainda há tempo.
Um visitante, proveniente de Belém, ao desembarcar e circular em Manaus, ficaria horrorizado com as suas péssimas condições físicas e a falta de ordenamento e acolhimento urbano. Uma cidade doente, em contínua decadência física.
Acorda, Amazonas, ainda há tempo.
Marcílio de Freitas
Manaus, 1 de novembro de 2025
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