Manaus, 18 de outubro de 2024

Crescimento X Desenvolvimento.

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*Ozório Fonseca

Os conceitos de crescimento e desenvolvimento são distintos e antagônicos e, do ponto de vista prático, a diferença entre os dois modelos é facilmente visível através de suas representações gráficas. O primeiro é representado por uma linha reta oblíqua ascendente infinita, com graus variados de inclinação, cuja origem é a mina e o final os lixões, que passam a ser fonte de matéria prima, independente do gasto de energia necessário para o reuso (e não reciclagem) da sucata. O desenvolvimento, por outro lado, também é graficamente representado por uma linha reta, obliqua ascendente que sofre uma obrigatória inflexão para o sentido horizontal quando o uso dos recursos naturais atinge a resiliência, ou a capacidade de suporte dos ecossistemas. Essas estampas representam concepções teóricas distintas ressalvando-se que o crescimento é uma etapa anterior necessária para implantar o desenvolvimento, embora apenas o crescimento da economia não seja suficiente para configurar um desenvolvimento de qualquer tipo ou finalidade.

 

CRESCIMENTO ECONÔMICO.

Manaus e sua Zona Franca são um exemplo emblemático de que o crescimento econômico é diverso de desenvolvimento humano, pois se por um lado, a capital amazonense aparece em quinto lugar no “ranking” dos PIBs das capitais brasileiras, por outro não desfruta de posição similar quando são elencados os indicadores de desenvolvimento. Por isso crescimento não pode ser um objetivo “per se”, pois suas externalidades entre as quais os custos sociais e ambientais ampliam as desigualdades sociais. Os índices sociais e econômicos (IDEB, IDH, PIB per capita, renda, educação, meio ambiente, etc.) mostram o Estado em posição degradante, com o cenário tendo se complicado nesse início de novembro de 2014, quando o IPEA divulgou a informação de que o Amazonas detém o quinto maior percentual de miseráveis no Brasil (9,7%) atrás apenas do Maranhão (17,29%), Alagoas (12,34%), Ceará (10,56%) e Bahia (9,96%).

 

UMA REFLEXAO

A miséria social e econômica são fatores inseridos no conceito de meio ambiente e vêm acompanhadas do aumento da violência fortemente associado ao tráfico de drogas que anula os valores morais e éticos, deteriorando a vida, principalmente de jovens.

 

CRESCIMENTO X DESENVOLVIMENTO.

A questão do crescimento x desenvolvimento foi analisada, em 1974, pelo economista brasileiro Celso Furtado que perguntou: “por que ignorar, na medição do PIB o custo, para a coletividade, da destruição dos recursos naturais não renováveis dos solos e das florestas?”.

A verdade hoje é que os indicadores numéricos do crescimento priorizam o valor monetário dos recursos naturais (valor de troca) sem contemplar o valor intrínseco da natureza (valor de uso) diretamente ligado ao fenômeno da vida (valor de existência). Na realidade, esses valores têm conceitos antagônicos, com o valor de troca tipificado pela quantidade de dinheiro necessária para sua aquisição, enquanto o valor de uso é caracterizado pela importância humano-ecológica-ambiental de satisfazer questões objetivas (fome, sede, respiração) e subjetivas que não têm preço por estarem inseridas no valor de existência como, p. ex., a beleza cênica.

Para o Amazonas entrar no cenário do desenvolvimento é preciso acreditar nas utopias possíveis e construir projetos voltados para as fácies e faces humanas. Uma premissa do desenvolvimento é estabelecer que os insumos e saberes da floresta são indispensáveis para a construção de polos industriais e biotecnológicos estrategicamente distribuídos pelo interior do Estado, de acordo com a distribuição geográfica das espécies a serem utilizadas.

Para melhorar o entendimento da distinção entre crescimento e desenvolvimento, além de aprimorar os índices de desenvolvimento indicados, o Amazonas precisa fazer decrescer a violência entre as quais aparece o incremento de 28% no número de estupros (recorde nacional) e de 40,4% na quantidade de homicídios culposos no trânsito.

Com a baixa qualidade da educação, distribuição injusta e desumana de renda, atendimento ruim à saúde, baixa qualidade de vida, falta de oportunidades para  todos, aumento da miséria e da criminalidade, é impossível falar em desenvolvimento.

 

*Biólogo, Mestre em Ecologia, Doutor em Ecologia e Recursos Naturais. Professor Visitante na UFRGS (1983-1995). Diretor do INPA (1995-1999), Professor da UFAM e da UEA. Membro Honorário da Academia Amazonense de Medicina; Membro Titular da Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas. Filho do ex-prefeito de Itacoatiara Osório Alves da Fonseca (1889-1960) e da professora Francisca de Menezes Fonseca (1906-1988). Nascido em Manaus, porém criado em Itacoatiara. É o nosso querido mestre do Principado de  Itacoatiara (título que conferiu à nossa cidade).

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