A capital amazonense foi varrida por uma avalanche de cultura imediatista, que é o moto da imigração, deixando no caminho uma camada de rusticidade, de ignorância sobre o que é viver numa cidade, terreno fértil para a atual permissividade.
No interior desta nova composição social desapareceram as tradições culturais, o respeito pela paisagem e pela configuração da cidade. Surge uma massa indistinta, despersonalizada, sem autoestima, movida pelas emoções mais primitivas, vítima da indústria cultural que lhe injeta o que há de mais vulgar. Esta população é primariamente escrava da televisão, que lhe oferece entretenimento, meias verdades como informação e normas de conduta que só desagregam os valores já em si rotos. É a mídia utilitarista, reacionária, que dá o tom cultural do nosso povo.
No entanto, o mal está feito. O estigma da incivilidade que se colou à nossa cidade cada vez fica mais difícil de ser superado. As suas manifestações podem ser vistas em quase todos os momentos da vida manauara. Manifestações de brutalidade, a ascensão de crimes violentos por motivos fúteis, a falta de educação, os baixos hábitos de higiene, o desrespeito deliberado aos códigos de postura que regem a vida nas cidades e a escolaridade insuficiente transformaram o convívio em mero exercício de sobreviver. E uma sociedade que apenas sobrevive, é porque mergulhou na barbárie.
O que fazer para superar este impasse? Como mudar uma cultura moldada por décadas de permissividade e populismo? Talvez o prefeito Artur Neto tenha uma parte da resposta: trabalhar.
É isso que ele tem feito. Fazer uma administração de ações concretas, que mostre que é a máquina administrativa municipal que pode fazer a diferença. Este ano que termina sediou a Copa do Mundo de Futebol, a nossa capital precisou se preparar às pressas para receber os visitantes que viriam de todas as partes do mundo, e que dariam testemunho de como seriam acolhidos aqui.
E foram muito bem acolhidos e Manaus derrotou o preconceito da imprensa e o pessimismo de muitos. A Copa era questionável, dispendiosa, mas inexorável. Infelizmente o desejo da atual administração de fazer a diferença chegou apenas na vigésima quinta hora. As administrações anteriores ou cruzaram os braços, como foi o caso da administração Amazonino, ou se enveredou por projetos suspeitos e dispendiosos, como foi o caso do governo estadual. A cidade, então, se perdeu na incompetência e nos interesses escusos, como o projeto de construção de um sistema de monotrilho apresentado como solução para os problemas crônicos de mobilidade urbana de nossa capital. A nossa sorte é que a incompetência falou mais alto e esses projetos mirabolantes e malsãos foram vetados pelas agências financiadoras.
Monotrilhos são comumente utilizados em zoológicos e parques temáticos, não servem para transporte público. Por isso não surpreendeu ninguém que a ideia fosse rechaçada no plano federal. Podemos mesmo afirmar que Manaus pulou uma fogueira.
As cidades que adotaram o sistema de monotrilhos se arrependeram amargamente, como Wuperthal, cidade alemã que inaugurou a primeira rede e hoje não sabe o que fazer com o trambolho.
Ou Tóquio, que adotou na zona sul da malha urbana e hoje tem de subsidiar as passagens, gerando prejuízo.
Perdeu-se assim a possibilidade de fazer da Copa um momento de saltar para o futuro, de fazer de Manaus uma cidade digna de seu passado moderno. Mas nunca é tarde para mudar. E a cidade já está mudando, na velocidade que é possível mudar. Parte do centro histórico já está livre do comércio informal, seguindo um planejamento inovador que soube fazer a junção de reordenamento institucional do espaço urbano com inclusão social programada.
Agora é a hora de restaurar a paisagem urbana do centro degradado.
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