Manaus, 19 de junho de 2025

Barbárie Amazônica

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O estigma da incivilidade que se colou ao nosso Estado cada vez fica mais difícil de ser superado. As suas manifestações podem ser vistas em quase todos os momentos da vida amazonense …

Manifestações de brutalidade, a ascensão de crimes violentos por motivos fúteis, a falta de
educação, os baixos hábitos de higiene, o desrespeito deliberado ao código de postura municipal e a escolaridade insuficiente transformaram o convívio em mero exercício de sobreviver. E uma sociedade que apenas sobrevive, é porque mergulhou na barbárie. Recentemente visitei alguns municípios do estado: Manacapuru, Tefé, Coari e Alvarães. Em todas essas cidades encontrei pessoas honestas, trabalhadoras, contribuintes irrepreensíveis, mas as condições em que vivem são de envergonhar qualquer um. O mais chocante é que o nosso subdesenvolvimento é planejado, nossa miséria é pensada e executada. Todas essas cidades contam com extraordinário potencial econômico. Só o turismo já seria uma fonte de primeira grandeza. Cada uma dessas cidades possuem paisagens magníficas, lagos e rios fantásticos, sem contar com o patrimônio histórico soterrado por administrações municipais medíocres. Na Espanha, por exemplo, onde o turismo é a segunda arrecadação do país, muitas cidadezinhas fazem do turismo o seu principal meio de vida. E vivem muito bem.

Posso garantir que a maioria dessas cidades espanholas não possui nada comparável com a natureza deslumbrante que a Amazônia propicia a essas nossas cidades. O drama é que nossas cidades, na sua quase totalidade, vivem atadas ao mais primitivo extrativismo, politicamente dominadas por administradores públicos saqueadores do erário. Mas como falar de turismo, de recepção de pessoas de outras terras, com a estrutura hoteleira hoje existente? Como falar de turismo com o sistema de transporte hoje disponível? Os hotéis são indigentes, embora o pessoal seja afável e prestativo. Não estou me referindo ao luxo ou ostentação, ao contrário, esses hotéis precisam manter a modéstia, a cor local, mas oferecer conforto e serviços. A arquitetura dos hotéis peca pela improvisação. Degraus fora de lugar, que podem provocar acidentes. Banheiros apertados e uma lógica para instalar os interruptores elétricos que jamais consegui entender. Creio que nem o Lace, meu professor de lógica na USP seria capaz de matar a charada dessas tomadas escondidas nos locais mais inusitados. Para completar, há o porco serviço da Amazonas Energia. Mas até mesmo a luz de candeeiros poderia dar um certo romantismo se o bom senso predominasse. Mas os turistas logo se defrontariam com outro grave problema. Como chegar e sair dessas cidades? Nenhuma dessas cidades conta com aeroportos e portos confiáveis. Só Coari tem um porto todo carcomido, que mais parece um ferro velho. Não há portos em Tefé e Alvarães. Os barcos ficam amarrados em flutuantes, tanto na cheia quanto na seca. Para o embarque, não há escadas com corrimão ou o menor cuidado com a segurança do passageiro.

Aliás, chamar de passageiro o miserável que viaja naquelas espeluncas flutuantes é abusar do vernáculo. Para alcançar os barcos, os passageiros precisam atravessar tábuas flexíveis, atiradas sobre troncos que dançam conforme o banzeiro, fazendo de cada um de nós equilibristas de circo.

Em Tefé, o barco ficava a uns três metros acima do nível do flutuante. A prancha de embarque era um pedaço de tábua com sarrafos pregados na transversal, apoiada quase na vertical contra o casco. Corrimão, para que? Um casal de jovens ingleses, que havia passado uma noite na reserva de Mamirauá, confessou a mim que jamais voltariam ao Amazonas. A paisagem era estupenda, os dias que aqui passaram esquecíveis, mas não queriam nunca mais ser tratados como animais, que nem os nativos.

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