“Três empresários do CIEAM apresentaram suas boas práticas ESG no evento CIEAM/SUFRAMA. Sergio Capela, diretor da Visteon; Hamzah Ahmad Nasser, diretor da Electrolux; e Dahlson Bisker de Abreu, gerente da Tutiplast. Casos de sucesso de empresas que têm implementado a Agenda ESG com medidas eficazes para reduzir o impacto ambiental, promover a inclusão social e garantir uma gestão transparente e ética, participativa e, numa palavra, mutualista, ou seja, ações compartilhadas em que todos saem ganhando.”
Os autores da Biomimética, área da bioeconomia que baseia seus pressupostos operacionais na imitação das soluções oferecidas pela Natureza, começaram a sistematizar suas práticas tão somente depois de repetidas observações das espécies em interação em seu habitat natural. E o principal ativo dessa descoberta é o Mutualismo. Trata-se de uma relação biológica ou ecológica entre indivíduos de diferentes espécies em que todos acabam sendo beneficiados. Um exemplo clássico ocorre entre os fungos e as bactérias, ou – Procurando Nemo – entre o peixe palhaço e as anêmonas. Ou seja, quem compartilhar talentos, repertórios ou substâncias recebe benefícios, no mínimo, equivalentes.
foto: David Clode/Unsplash
Numa comparação apressada, se considerarmos essa dinâmica colaboracionista dessas espécies com empresas em processo de adoção da Agenda ESG em movimentos, suas semelhanças são maiores do que os universos específicos que as distinguem. As observações que se seguem buscam demonstrar que as premissas e ações compartilhadas na Agenda ESG no polo industrial de Manaus tem uma inspiração inconsciente facilmente encontrável nos movimentos do mutualismo das espécies da Amazônia em que pessoas vivem, trabalham, produzem e começam a descobrir as vantagens de sua prospecção e proteção florestal.
Um evento marcante para implantação em grande estilo da Comissão ESG, ocorreu na semana que antecedeu a celebração do 44º ano do CIEAM, dia 27 de Julho, na Suframa, ESG e as boas práticas das indústrias do Polo Industrial de Manaus, um programa preparado em conjunto com a Suframa, numa sexta-feira à tarde, com o auditório lotado, o que seria, em princípio, absolutamente improvável. Foi a mais importante iniciativa a reunir o novo gestor da Suframa, Bosco Saraiva, e o início do novo Conselho do CIEAM sob a batuta de Luiz Augusto Rocha.
Foto – Fernando Lemos
Três empresários apresentaram suas boas práticas ESG no evento CIEAM/SUFRAMA. Sergio Capela, diretor da Visteon; Hamzah Ahmad Nasser, diretor da Electrolux; e Dahlson Bisker de Abreu, gerente da Tutiplast. Casos de sucesso de empresas que têm implementado a Agenda ESG com medidas eficazes para reduzir o impacto ambiental, promover a inclusão social e garantir uma gestão transparente e ética, participativa e, numa palavra, mutualista, ou seja, ações compartilhadas em que todos saem ganhando.
Sob a mediação de Regia Moreira, conselheira e coordenadora da Comissão ESG do CIEAM, o empresário Sérgio Capela, em sua palestra, resumiu: “É de extrema importância que o setor empresarial, o poder público, o universo acadêmico e a sociedade entendam a importância do ESG para o nosso mundo e o nosso futuro. Antes de mais nada é bom lembrar que isso não é uma moda ou uma onda, mas sim uma tendência, um caminho sem volta, o qual todos devem adotar. O ESG é pautado pelo mercado financeiro, portanto, cada vez mais as organizações irão adotar em suas políticas, práticas e planos de ações pautados nos 3 pilares (ESG) visando à atração continuada de investimentos. Desta forma, entendendo a importância de se ter uma organização que atenda de forma consolidada às práticas ESG, o investidor se sente seguro em investir sabendo que os riscos serão mínimos. Assim ganha o investidor, ganha a empresa, ganha o consumidor final, ganha a sociedade como um todo e, finalmente, ganha todo o planeta com ações estratégicas em práticas de sustentabilidade, com ações ambientais e sociais, assegurando as determinações e políticas de governança”.
O superintendente da Suframa, Bosco Saraiva, foi direto ao ponto, ao destaca a importância de discutir práticas referentes à questões ambientais, de impacto social e de aprimoramento da governança. “ESG é um conjunto de padrões que as empresas conscientes usam para operar, de maneira que protege o meio ambiente, beneficia a sociedade com medidas de inclusão e diversidade, e também opera com governança corporativa sólida. É um conceito cada vez mais relevante, à medida que consumidores e investidores esperam que as empresas demonstrem compromisso com a sustentabilidade. Agradecemos a valiosa parceria do Cieam para trazer esse oportuno debate para a Zona Franca de Manaus”
Algumas ações começam a surgir, não apenas para investigar o universo e a dinâmica no cotidiano das empresas na adoção da Agenda ESG. Régia Moreira destaca a boa vontade com que está sendo tratada a iniciativa dessa pesquisa, à disposição da partilha e do acolhimento. “Nossa empresa está na Amazônia há duas décadas, e pode testemunhar a mudança de paradigmas e atitudes. Vários fatores que contribuíram par virar a chave, mas com certeza as portas e os braços estão mais abertas, as Comissões muito concorridas e à disposição da partilha virou um sentimento e uma atitude que cresce e aparece”.
Recentemente, uma das reuniões da Comissão ESG se deu nas dependências da fábrica, a IMPRAM, e de acordo com sua gestora, a Horta da empresa, uma iniciativa coletiva deu o que falar e compartilhar ações e informações. “E tudo apenas começa, vem muita novidade por aí”, arrematou Régia.
II
Gestão da Amazônia, um compromisso de sua bancada parlamentar?
“…por que não unirmos esforços da Amazônia com o poder político que sua bancada parlamentar representa, articulada e vibrante, para garantir que essa receita generosa da Amazônia seja direcionada para combater as desigualdades sociais na própria Amazônia?”
Alguém sabe dizer o que foi feito do projeto Norte Competitivo? Trata-se de uma iniciativa desenhada pelo time do lendário empreendedor Eliezer Baptista, que pensou um Brasil grande em realizações. Basta conferir a implantação da Vale, Projeto Radam, Grande Carajás, entre outros. Formatada, há uma década, com o escopo de competitividade nos Sistemas de Logística dos Transportes, foi assumido pelo PAC, Programa de Aceleração do Crescimento, que pretendia escoar as commodities do agronegócio pelo Norte do país, liberando os demais portos do Sul e Sudeste para outras finalidades da economia nacional. E o que tem a bancada parlamentar da Amazônia com isso?
De quebra, o Norte Competitivo poderia prover a região de uma infraestrutura que permitiria a atração de novos investimentos. No fim das contas, o que restou foi a melhoria da infraestrutura portuária do Estado do Pará, através do programa ArcoNorte. Os demais estados seguem na expectativa de suas necessidades. Restou, também, uma indagação: Como convencer os parlamentares da Amazônia a se envolveram em bloco para transformar o projeto original e, em lugar de facilitar sobretudo o agronegócio, beneficiar todo o Norte do país a fim de torná-lo mais competitivo?
Mobilizar a bancada parlamentar e suas respectivas equipes de estudos permitiria identificar e capacitar, com os elementos de infraestrutura, os eixos integrados de transporte voltados ao mercado interno, exportação e importação. Ou seja, eixos integrados de desenvolvimento extremamente competitivos servirão para fomentar a inserção das regiões abrangidas pelo estudo na economia mundial. O Norte da Colônia chamada Brasil, conhecida no Velho Mundo por Eldorado, já sabia Dom João VI, na virada do Século XVIII, era a melhor maneira de impressionar e retomar a Europa, o velho delírio lusitano.
Quando fugiu de Napoleão Bonaparte, o Rei de Portugal já sabia das riquezas da floresta e da sua posição estratégica em relação as potências mundiais. Só falta ao Brasil compreender e decodificar essa intuição e transformá-la em projeto de gestão da Amazônia, locus de irradiação de riqueza e oportunidades em todas as direções e mercados. O que pensam os parlamentares da Amazônia a respeito?
Vamos especular sobre os benefícios de mobilização dos parlamentares da Amazônia tomando como começo de conversa o Estado do Amazonas, o maior estado da federação, com um acervo de recursos naturais imensurável e outras nuances, e seu contraponto de ser um dos que enfrentam desafios significativos em termos de Desenvolvimento Humano, segundo dados do IBGE. Este paradoxo é constrangedor e comum a todos os estados da região em proporcionalidades distintas. O Amazonas, ironicamente, é um dos principais contribuintes da Receita Federal. Sua economia utiliza 8% dos gastos fiscais do Brasil e sua capital, Manaus, responde por 50% da arrecadação de toda a região Norte.
foto: Gisele Alfaia
Isso nos leva a questionar por que um dos estados mais pobres do país é incluído no seleto grupo de grandes contribuintes do Fisco. Estudos da USP e da FGV confirmam que a União é a maior beneficiária da Zona Franca de Manaus: cerca de 75% dos recursos gerados em Manaus são exportados para os cofres federais.
Uma questão ainda mais crucial e direcionada aos parlamentares da Amazônia é a seguinte: por que não unirmos esforços da Amazônia com o poder político que sua bancada parlamentar, articulada e vibrante, para garantir que essa receita da Amazônia seja direcionada para combater as desigualdades sociais na própria Amazônia? E aí, com investimentos em recursos humanos, de infraestrutura e em ciência, tecnologia e sustentabilidade será possível mobilizar a região de verdade e integrá-la ao país pra valer.
A Amazônia não é apenas um depósito de recursos naturais, historicamente confiscado sem justa contrapartida. Aqui, também, resiste uma vasta e diversificada cultura e uma população resiliente. Este acervo humano é, com certeza, seu mais valioso ativo. Enquanto contribuímos tanto para a receita do Brasil, é imperativo que a gestão da Amazônia se torne uma prioridade, alinhando as bases parlamentares com as representações regionais da população. Qualquer modo de produção precisa se envolver ativamente no exercício da cidadania nativa, e é compulsório mobilizar esforços nesse sentido em nome do bom senso e do sucesso empreendedor.
É crucial que os recursos arrecadados pelo Estado do Amazonas sejam reinvestidos na região, promovendo a diversificação econômica, o crescimento industrial e a distribuição equitativa das riquezas. Precisamos valorizar nossos serviços ambientais e garantir que os benefícios permaneçam aqui. Isso requer vontade política e dedicação por parte de nossa representação parlamentar, trabalhadores e empreendedores.
Os amazônidas conhecem sua terra e vivenciam as dificuldades que enfrentam. Devemos unir esforços, fortalecer a coesão regional e transformar recursos naturais em prosperidade compartilhada. Isso é possível e urgente. Depende de todos nós, incluindo a União dos Estados do Amazonas, a partir do Congresso Nacional, e adotar a Amazônia como prioridade nacional, sem separatismo, mas com foco nas especificidades e desafios históricos que padecem de enfrentamento. Há um amontoado de boas notícias para quem quiser ingressar nessa jornada amazônica, decifrar seus enigmas antes que aventureiros o façam do pior jeito e com requintes de insensatez e perversidade. A utopia Amazônia é alcançável e está ao alcance de quem a descobriu e por ela se deixa cativar.