Mineração e bioeconomia são pautas de pirotecnia messiânica de sucessivos governos que não transformam narrativas em iniciativas. O problema, porém, não está com eles, está em nós, em nossa dificuldade atávica e inexplicável de escrever, preparar e construir a partir de hoje a resposta à indagação fundamental de como será o amanhã da Amazônia.
Vozes múltiplas, algumas bem concatenadas, reclamam da falta do depoimento dos atores locais, que contasse ao ministro Alckmin o que fazemos além de lutar dia e noite pela manutenção dos pilares que sustentam a economia da Zona Franca de Manaus. Afinal, tratava-se da primeira reunião do ano da Suframa, e da presença do primeiro escalão do novo governo, que assumiu em praça pública manter este programa de tantos e tantas calúnias da difamação irresponsável. Fizemos o que fazemos desde a primeira reunião, há 56 anos.
Distribuímos, como manda a etiqueta, loas e boas ao visitante, em lugar de descrever as razões pelas quais não estamos fazendo nosso melhor por nós mesmos, aqueles que mais precisam, o tecido social amazônico, em nome do qual a Carta Magna autoriza um naco de 8%, mais ou menos, do pacote de compensação fiscal da gestão pública nacional. Vamos sugerir aqui alguns itens desta manifestação que faltou dizer, não apenas ao ministro, mas principalmente aos atores locais, para nos deveria mover rumo à construção do amanhã que já raiou.
foto: Google Maps
1 A manutenção do programa Zona Franca de Manaus, seus detalhamentos e encaminhamentos, não é tarefa do ministro, do presidente ou dos técnicos que orbitam o núcleo do poder federal. Eles tem prioridades em profusão e a ZFM não é uma delas. A tarefa é nossa e, inexplicavelmente, não conseguimos detalhar, entre nós mesmos, e para o este novo governo, como é que a banda deve tocar. Temos iniciativas isoladas, movidas muito mais pela boa vontade de alguns do que pela nossa capacidade de trabalhar em mutirão.
2 Qual foi a última obra do governo federal para amenizar os eternos gargalos de infraestrutura que fulminam nossa competitividade há mais de um século no Polo Industrial de Manaus? Por que a União brindou o ArcoNorte na Amazônia Oriental com investimentos de logística portuária e de transportes e se omitiu com relação às rodovias que nos conectariam com o Norte do Continente, a BR-174 e ao Centro-Oeste e Sudeste do país, a BR-319, que não têm manutenção desde antigamente? Questão ambiental? Que piada! A única maneira de proteger Amazônia é fiscalizar sua ocupação e promover iniciativas através de atividades econômicas sustentáveis.
3 Por que, além de ir à justiça para derrubar portarias do governo federal que solaparam, por exemplo, os alicerces do Polo Industrial de Manaus, nos últimos anos e não fomos à Justiça com Ações de Inconstitucionalidade ou de Arguições de Descumprimento de Preceitos Fundamentais para exigir a manutenção das rodovias? Ou a adoção desburocratizada da Cabotagem como direito adquirido de nossa economia desde o Visconde de Maus, e sua Companhia de Navegação do Amazonas?
Geraldo Alckmin, em sua fala na Suframa semana passada
4 O ministro Alckmin reportou-se à ZFM, praticamente, apenas quando mencionou o potássio e disse que deveríamos, a partir do aproveitamento deste minério, chamar nossa economia de ZFB, Zona Franca do Brasil. É verdade que reivindicamos a diversificação e o adensamento de nossa matriz econômica há mais de meio século, mas a mineração, quando desembaraçada (empresários da região estão nesta luta há duas décadas) não vai substituir o poder de empregabilidade e geração de oportunidades que descrevem o Polo Industrial de Manaus. Vamos ficar atentos…
foto: Divulgação
5 O mesmo entusiasmo se deu com o potencial imensurável do CBA, ora chamado de Centro de Bionegócios da Amazônia. Há 23 anos aguardamos a inauguração pra valer desta iniciativa de diversificação da Indústria, o Polo de Biotecnologia. Até aqui, a economia de nossa diversidade biológica foi tratada muito mais como greenwashing, ou seja, estratégia de propaganda dos empreendimentos de fachada, que usam o conceito e o marketing da bioeconomia da Amazônia mas não adotam seus insumos nem empregam nossa gente.
Mineração e bioeconomia são pautas de pirotecnia messiânica de sucessivos governos que não transformam narrativas em iniciativas. O problema, porém, não está com eles, está em nós, em nossa dificuldade atávica e inexplicável de escrever, preparar e construir a partir de hoje a resposta à indagação fundamental de como será o amanhã da Amazônia.
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